Sofy correu o máximo que pode na esperança de alcançar Camila, não demorou muito pra que ela a visse caminhando. Parecia um pouco perdida, sem rumo. Sofy apertou um pouco mais o passo e segurou o braço dela com força antes que ela pudesse atravessar a rua.
-Me solta_ ela gritou assustada, se debatendo contra ela.
-Calma Camila - pediu - sou eu, a Sofy.
-Eu sei - ela disse irritada - me larga.
Ah, é claro que ela sabia, ela sempre sabia que era Sofy. Não importava de onde ela viesse, como Sofy estivesse, Camila sempre sabia. Sofy notou com um aperto no coração que ela estava chorando. Os olhos cinza brilhantes, um pouco avermelhados.
-Camila, por favor - pediu - vamos conversar.
-Não tenho nada pra falar com você - disse zangada - por que não vai atrás das suas amiguinhas? Não perca tempo com a ceguinha.
-Para, por favor - Sofy implorou - me deixa ao menos explicar.
-O que você vai dizer? Que não disse aquilo? Que eu escutei errado? - Camila riu - eu sou cega, mas não sou surda.
-Camila…
-Me larga agora ou eu vou começar a gritar e…
Sofy não deixou que ela terminasse a frase. Colou seus lábios aos dela de forma rude, fazendo-a se calar. Camila resistira no começo, empurrando os ombros da menina com raiva, querendo ela o mais longe possível. Mas conforme os lábios dela se mexiam contra os seus, ela foi se acalmando, incapaz de resistir ao que Sofy a fazia sentir. Camila correspondeu ao beijo tentando manter o controle, afinal, estava zangada e manteve suas mãos cuidadosamente longe de Sofy, e as lágrimas voltaram a descer sem que ela permitisse.
Quando Sofy finalmente partiu o beijo, as duas estavam ofegantes e atordoadas.
-Vai parar de gritar e me ouvir agora? – Sofy perguntou.
-Tira suas mãos de mim - ela pediu - está me machucando.
Sofy percebera que apertava os pulsos dela com certa força e os soltou na hora. Camila ergueu o braço e acertou em cheio o rosto de Sofy, dando em seguida um passo pra trás, pondo os braços contra o peito protetoramente, ainda respirando com dificuldade. Sofy estava totalmente surpresa com a atitude de Camila, mas não reclamou e nem esboçou reação alguma, sabia que merecia isso.
-Camila, me desculpa – Sofy pediu.
-Estou cansada de ouvir suas desculpas - resmungou.
-Você entendeu tudo errado - Sofy disse - sei que tenho o costume feio de pisar na bola, mas aquilo que eu disse…
-Por que não se poupa dessa humilhação e vai embora? - Camila a interrompeu de novo.
-Porque não vou perder você, não assim - disse séria - e você vai me ouvir.
Camila até poderia tentar fugir e ignorá-la, mas aquele pequeno momento a deixara atordoada e confusa, ela não tinha certeza se sabia como chegar em casa. Maldita cegueira.
-Eu não contei sobre nós as minhas amigas, mas não foi porque eu não gosto de você. Tudo que eu te disse era verdade Camila, eu te amo.
Camila riu e passou a mão com impaciência pelo rosto.
-Eu não contei porque eu tive medo da reação delas, eu tive vergonha.
-Claro - assentiu - quem não teria vergonha de namorar uma ceguinha?
-Não é isso – Sofy sacudiu a cabeça e suspirou.
Fez-se silêncio, isso incomodava Camila. Ela não podia vê-la, não podia ouvi-la, não sabia o que ela estava pensando ou fazendo durante aquele tempo, só queria sair correndo dali e nunca ter se deixado envolver.
-Eu sei que isso não faz diferença mas - Sofy sussurrou - eu sempre fui a mais popular, a mais invejada. Minhas amigas sempre me acharam o máximo porque eu saia com vários e várias. Eu nunca tive quem me amasse Camila, as pessoas sempre gostaram de mim pelo meu dinheiro, minha popularidade e não pelo que eu sou. Foi diferente com você, e acho que fiquei assustada.
-Assustada? - ergueu a sobrancelha.
-Assustada quando percebi que te amo. Não gostar - Sofy explicou - mas amar de verdade, e eu fico às vezes sem saber o que fazer, porque nunca senti isso por ninguém.
-Então por que tem vergonha de mim?
-Não é bem você - confessou - eu só achei que se soubessem que eu tava com você, iam me achar uma idiota e deixar de gostar de mim. Eu nunca amei e nem fui amada Camila, nunca namorei e nem vivi essas coisas que estou vivendo agora. Isso me assustou, eu tive medo. Meus amigos e minha popularidade são tudo que eu tenho, tudo que eu conheço, não queria perder.
-E eu não quero estragar sua vida - Camila deu de ombros.
Camila pretendia lhe dar as costas e ir embora, mesmo sem saber exatamente pra onde iria, mas Sofy segurou de novo seu braço.
-Você não estraga nada - ela sorriu - você só melhora tudo, me mostrou um mundo diferente, e só agora eu consigo ver que minha vida não se resume a festas.
-E em que ela se resume? - questionou.
-A você - sussurrou - você é tudo que eu preciso.
Camila se sentiu divida naquele instante, entre a vontade de se jogar nos braços de Sofy e a de sair correndo, com medo de se magoar de novo.
-Quer dizer que minha cegueira não tem nada a ver com isso? - perguntou séria.
-Sua cegueira não me incomoda e você sabe disso - garantiu - é que eu as vezes queria que…
-Queria o que? - insistiu.
-Queria que você pudesse me ver - Sofy sorriu de lado com uma lágrima escapando.
-Eu também queria poder - Camila garantiu erguendo a mão na direção do rosto de Sofy- mas não posso.
-Eu as vezes tenho medo que você desista de mim - Sofy confessou.
-Desistir de você? - Camila parecia horrorizada com a ideia.
-Eu não sou a melhor garota do mundo - ela suspirou - na verdade sou uma idiota, não faço nada certo nessa minha droga de vida, só falo besteiras, e você não pode me ver, só me ouvir.
-E te sentir - Camila sorriu.
-Exatamente. E não tem nada de bom pra sentir Camila- ela abaixou a cabeça.
Era a primeira vez que Sofy se sentia daquele jeito. Se tinha uma coisa que ela sempre tivera era auto-estima, nunca se sentia inferior a ninguém. Mas, desde que conhecera Camila, começara a mudar e percebeu que não era tão boa quanto achava.
-Sofy, você é uma pessoa incrível - afirmou.
-Ah, ta - Sofy revirou os olhos - acabei de fazer você chorar, te magoar, de novo, e você ainda diz que eu sou incrível?
-Acho que seus olhos cegam você - Camila disse.
-Como é? - ela fez careta.
-Vocês que podem enxergar são muito apegados aos detalhes, as aparências. O que conta não é o exterior e sim o interior. Você é uma pessoa linda por dentro, é isso que me encanta.
-Não me acha uma idiota?
-Talvez tenha achado há alguns minutos atrás - confessou - já passou.
-Por que?
-Porque posso ver quem você realmente é.
-E quem você acha que eu sou? - Sofy perguntou.
Camila sorriu e sua mão tocou o rosto dela. Seus dedos acariciaram levemente o rosto da menina, limpando as lágrimas que ela deixara escapar.
-Você é uma menina doce, carinhosa, divertida…
-Idiota – Sofy a interrompeu.
-Eu não posso ver, mas senti e ouvi o jeito que você tratou Eva e James. Como foi carinhosa, fez eles se sentirem normais - sorriu - as outras pessoas os olham como se fossem aberrações.
-Isso não faz de mim uma pessoa incrível.
-Faz sim. São as pequenas coisas Sofy - ela sorriu - o jeito como você me trata, como fala comigo, como da valor aos seus amigos, mesmo que às vezes pela razão errada.
Camila tirou a mão do rosto dela, deu um passo a frente e a abraçou. Ela estava decepcionada a alguns minutos atrás, mas agora ela entendia os motivos de Sofy. Era estranho, mas ela não conseguia ficar com raiva.
-Me desculpa? - Sofy pediu.
-Eu desculpo você - garantiu.
-Eu não mereço - fechou a cara.
-Para com isso - Camila pediu zangada.Sofy riu e a abraçou apertado.
-Então estamos bem? - perguntou.
-Estamos - ela afirmou - lembra que dissemos que íamos enfrentar e aprender a lidar com isso juntas? Sabia que não ia ser fácil.
-É, eu sei - confirmou.
As duas ficaram ali abraçadas um tempo em silêncio, só aproveitando o calor do corpo uma da outra.
-Vou te levar pra casa - Sofy sussurrou um tempo depois.
-Ótimo - ela sorriu - porque não faço ideia de onde estou.
Sofy caiu na gargalhada ainda abraçada a ela, lhe deu um rápido beijo e então segurou sua mão, a guiando até em casa. As duas foram durante todo tempo em silêncio, só quando finalmente chegaram que Camila se virou pra Sofy.
-Nossa comemoração foi por água abaixo né? - Camila sorriu de lado.
-Ainda podemos comemorar - Sofy sorriu alegremente.
-Como? - perguntou confusa.
-Entra em casa e me espera – Sofy pediu - eu volto logo.
-Onde você vai? - Camila perguntou curiosa enquanto Sofy soltava sua mão.
-Surpresa - ela disse - não demoro.
Camila chamou o nome de Sofy algumas vezes, mas ela ignorou e saiu correndo. Camila então se deu por vencida e entrou em casa para esperá-la, feliz que tudo estava bem de novo. Afinal, como Sofy mesmo dissera, ela é tudo que Camila precisa.
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A bailarina
Fiksi RemajaEsta história fala de uma miuda de 19 anos que sonhava ser Bailarina.