Capítulo sete - Diferente

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Sofy estava jogada no sofá da sala na frente da TV, era sábado e ela não tinha absolutamente nada pra fazer. Pela primeira vez na vida desejou sinceramente poder estar na escola, claro que não exatamente pra estudar, mas queria poder estar lá.
Depois de vários minutos de puro tédio fitando as paredes da sala, a porta se abriu, era Deny.

-Oi amorzinho - ela entrou na casa sorridente.
-Oi - respondeu calmamente.
-Nossa, que animo - ela deu um beijo na bochecha de Sofy - o que fazes de bom?
-Absolutamente nada - sorriu pra ela - e o que veio fazer aqui? Torrar minha paciência?
-Também - concordou rindo.


Sofy revirou os olhos e se afundou mais no sofá, talvez pegasse no sono e só acordasse segunda feira. O que seria bom demais pra ser verdade.


-Escuta - Deny pediu colocando as pernas no colo da garota - o que ficou fazendo na escola depois da aula ontem?
-Não fiquei na escola ontem - mentiu.
-Qual é Sofy? Eu não nasci ontem - ela a olhou de lado - eu vi você indo até o estúdio de balé.
-Se sabe que eu estava lá, então porque fica me perguntando?
-Não perguntei se estava lá e sim o que estava fazendo – Deny a lembrou.


Sofy fechou os olhos e murmurou algo inteligível, Deny sabia ser inconveniente quando queria. Ela riu da expressão de frustração no rosto de Sofy.


-Pensei que tinha dito a você pra ficar longe dela - disse.
-Pensei que tinha dito a você pra parar de se meter na minha vida - sorriu cinicamente e tirou as pernas da menina de seu colo.
-Como se eu escutasse aquilo que você fala - revirou os olhos.
-Exatamente - ela concordou se levantando.
-Sofy - ela correu e se pos na frente dela - você sabe que ela é cega não sabe?
-Sei, o que tem isso? - questionou.
-Eu fiquei sabendo da aposta que você fez com a Liliane, acha mesmo sensato ficar brincando com os sentimentos da menina?
-Como ficou sabendo disso?
-Isso importa? - ergueu a sobrancelha.
-Importa porque isso não é da sua conta. E me poupe da lição de moral - disse irritada.


Sofy pretendia sumir dali e se trancar em seu quarto, mas quando Deny insistia em um assunto, era difícil de controlá-la.


-Sofy, porque não arruma outra menina pra partir o coração? – Deny questionou - a Camila não merece isso, já tem problemas demais.
-Eu cancelei a aposta Tifanny  - disse com raiva.
-Como é? – Deny a olhou confusa.
-Cancelei a aposta assim que soube que ela era cega, eu nunca faria uma coisa dessas, nunca magoaria ela - Sofy disse.


Pelo jeito como ela disse aquilo, Deny não pode duvidar daquelas palavras. Não era do feitio de Sofy se preocupar com os sentimentos dos outros, só se preocupava consigo mesmo, aquilo era estranho.


-Eu achei que…
-Eu sei o que você achou – Sofy  riu - mas eu não sou isso que você pensa, não sou esse monstro sem coração.
-Você é só uma destruidora de corações, é diferente - ela riu sem jeito.
-Ha, ha, ha. Como você é engraçada - disse ironicamente.


Sofy  começou a subir as escadas em direção ao seu quarto, Deny a seguiu sem parar de falar nenhum minuto sequer. Esse extremo bom humor de Deny era muito irritante às vezes.
Sofy se jogou em sua cama e cobriu o rosto com o travesseiro.


-Posso te fazer uma pergunta? – Deny pediu.
-Você vai fazer de qualquer jeito - resmungou.
-Verdade - sorriu largamente - por que desistiu da aposta?
-Como é? - ela tirou o travesseiro da cara pra olhá-la.
-Quer dizer, você nunca desiste sabe?
-Deny, eu já disse que não ia ficar brincando com ela, ela é cega… - se interrompeu, essa desculpa tava começando a perder a graça - eu simplesmente desisti ok? Será que você pode conviver com isso?
-Não precisa se irritar - Deny fechou a cara.
-Não quer me ver irritada? Então sai daqui e me deixa em paz. Vai se divertir com o seu namorado - ela ordenou.
-Ta, sua chata - mostrou a língua a ela.


Sofy voltou a cobrir o rosto com o travesseiro, Deny ainda a encarou por mais um instante. Sofy, ela a conhecia bem demais. Tinha algo errado com ela, Sofy nunca passava um sábado trancada em casa, sempre arrumava algo pra fazer, seja com as amigas ou sozinha.


-Ainda não foi embora por quê? - ela perguntou zangada.
-Eu já vou – Deny i fez careta - mal educada.

Deny se virou pra poder ir embora, mas ao chegar à porta do quarto foi impedida de passar por uma turma de meninas que entravam no quarto animadas.


-Oi flor –Marli  se jogou em cima de Sofy  - levanta daí.
-Ei, sai de cima – Sofy virou fazendo que Marli caísse no chão.
-Ai vadia, cuidado - ela resmungou passando a mão na bunda.
-O que querem aqui? - perguntou emburrada - estão bagunçando meu quarto.
-Como se você fosse um exemplo de organização - Juliane disse rindo.
-Eu sou a única que posso bagunçar meu quarto - Sofy disse - porque ele é meu.
-Ta, tanto faz - Deny revirou os olhos - viemos te chamar pra sair.
-Sair pra onde? - perguntou sem muito interesse.
-Shopping, cineminha - disse animada.


Sofy observou um por um os rostos de suas amigas, esperou que a animação viesse mas nada aconteceu.


-Acho que vou ficar por aqui - ela disse.
-Como é? Ta dispensando sair com a gente? De novo? - Marli a olhou como se aquilo fosse um tremendo absurdo, e se tratando de Sofy, realmente era.
-Não estou me sentindo bem - deu de ombros.
-Mas…
-Tchau gente - ela a interrompeu voltando a esconder o rosto no travesseiro.


Naquele dia, só o que queria era mofar. Sendo assim, todo mundo saiu sem reclamar, a deixando sozinha. Só Deny continuou por ali mais um minuto a observando. Sofy  dispensando sair, se dirvertir e zoar umas meninas no shopping? Ela disse que estava passando mal, mas ela tinha outra explicação para aquilo.


-Tchau amor - ela sorriu - melhoras pra você.
-Que seja - resmungou.


Deny riu e saiu dali a deixando sozinha. Era oficial, tinha algo errado com ela, algo estava diferente.

A bailarinaOnde histórias criam vida. Descubra agora