16 | Jane

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A claridade presente, me fez abrir os olhos antes mesmo que pudesse proteger o rosto. 

Focalizei Sammy ao meu lado, conseguia notar pela sua respiração regular que ele dormia tranquilamente. Ele estava sem camisa, tive que segurar um suspiro, por segundos, então arregalei os olhos. Algumas lembranças passaram bruscamente em minha mente, afirmando que não era um sonho. Respirei fundo e tentei fazer o mínimo de barulho enquanto o choque me tomava e, com esforço, firmei meus pés no chão.

— Merda! - meus dentes travaram, sufocando o tom alto, quando entrei no banheiro.

Pisquei algumas vezes, só para depois encarar meu rosto no espelho. Reparei uma pequena marca vermelha em meu pescoço e no meu lábio um pouco inchado, provas de que as ideias na minha cabeça se tratavam de lembranças.

Escovei os dentes e puxei o cabelo embaraçado para cima, fazendo um coque desajeitado. Meu estômago se agitou, enquanto minha memória trabalhava em me mostrar a noite anterior.  Desci as escadas com pressa, avistei a chave do carro de Samuel na bancada que dividia a sala e a cozinha e considerei dar uma volta. 

Dirigi em círculos, por um tempo vago, enquanto obrigava minha mente a se ocupar com um tema diferente e não sobre ''sexo, com meu melhor amigo''. Parei em uma cafeteria e para pedir um café, decidindo voltar para casa quando vi que, no relógio do estabelecimento, marcavam quase duas horas da tarde.

— Achei que tinha roubado meu carro. - ouvi Samuel quando entrei. 

Revirei os olhos e joguei o copo com o resto do café para ele. Subi, indo para o banheiro tomar um banho. Encarei novamente meu reflexo, percebendo a marca vermelha mais clara e meus lábios desinchados. 

Terminei meu banho, levando o dobro do tempo habitual, tanto que meus dedos estavam enrugados. Me sequei e troquei no maior tempo possível, até ficar impaciente e curiosa para saber se Sammy tocaria no que fizemos, e o que falaria para ele. 

Quando desci, Wilk falava no telefone. Ele riu e concordou, falando o nome de Maloley, antes de desligar. 

— Estão vindo usar minha piscina. - ele disse quando percebeu que eu estava ali, fingindo não gostar da ideia. — Folgados.

Dei de ombros, desviando o olhar assim que ele virou o rosto na minha direção. Juntei os braços atrás das costas e bufei. Aquele não era meu típico, queria agir com normalidade, mas era impossível.

— Está tudo bem, Jane? - seu tom era preocupado.

Encarei seu rosto, pela primeira vez, igual ou mais fizera com meu reflexo. Eu estava buscando e esperando algo, não sabia o quê, mas que não veio. Era Samuel, meu melhor amigo. Apenas isso. Respirei aliviada, soltando meus braços. O tom dele era semelhante a de qualquer outra situação em que estivesse preocupado comigo, o que significava que nada mudou para ele também. Eu era apenas sua melhor amiga. Caminhei até o sofá, me jogando nele.

— Eu... Nós... - me cortei, não conseguia formular a frase.

Seus olhos se abriram um pouco junto com a boca, parecia surpreso, o que não durou muito já que sorriu. Ele entendeu ao que estava me referindo, e agora parecia se divertir. Ele esperou e decidiu falar quando percebeu que eu não faria isso.

— O melhor de sua vida, eu sei. - ele deu de ombros, segurando a risada.

— Vou sempre implorar por mais. - não saiu carregado de sarcasmo como planejado.

O olhar de Samuel cruzou com o meu de novo, hesitante ele mordeu os lábios e passou a mão no cabelo desarrumado. 

— Jane, não quero que as coisas fiquem estranhas. - parecia pedir. — Somos melhores amigos... - eu concordei.

— Não vai interferir na nossa amizade. - ele concordou. 

Não precisamos falar mais nada, o peso que parecia estar em meus ombros evaporou e me senti relaxar enquanto retribuia seu sorriso.

— Fiz panquecas. - apontou, e eu senti minha barriga se agitar de novo, fome.

— É, tinha que se redimir de alguma forma. - dessa vez a frase tencionava o sarcasmo desejado, talvez um pouco mais.

Meu amigo me olhou descrente, revirou os olhos e depois me mostrou o dedo do meio, sibilando um ''vá se foder'', antes de se jogar no sofá. Ri, seguindo para a cozinha, que cheirava panqueca.

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Jennie estava sentada ao meu lado na outra espreguiçadeira, enquanto Izzy afundava mais uma vez, mostrando para Nate que sabia mergulhar e se manter no fundo por mais tempo que ele. 

— Foi ideia dela, né? - indaguei para minha amiga, vendo-a assentir pelo canto do olho.

— Maloley está tentando mesmo impressionar? Ele nem gosta tanto assim de nadar. - disse, rindo.

Observei Nathan sorrindo, nadando até a outra ponta onde a cacheada tinha acabado de emergir. Geralmente quem passava o dia todo na piscina quando estávamos aqui eram os Jack's, Mendes, Hayes, Demi e Izzy. Nathan nunca fazia muita questão. Ele ficava sentado em áreas secas ou no canto, o mesmo canto que Samuel estava, os dois fumando ou conversando. 

— Eles estão saindo? - fiz outra pergunta, percebendo que não sabia a resposta.

—  Izzy não quer estragar a amizade, acha que ele não está tão interessado realmente e vai passar logo. - pareceu me explicar.

Lembrei que ela disse mesmo isso em uma conversa, mas parecia que havia sido muito tempo atrás. Tentei fazer um cálculo rápido, ficando surpresa até quando contei o tempo.

—  Já fazem três meses. - ela balançou a cabeça para minha informação. — O que acha? 

— É difícil saber. Parece ser, mas Maloley é meio incerto para apostar tudo. - foi minha vez de concordar. — E você e Gilinsky? - dei de ombros.

Jennie ainda me olhava, esperando a resposta, no entanto fiquei sem palavras quando senti a água gelada em minha pele, que também tinha molhado minha blusa. Olhei irritada na direção de Izzy, mas encontrei Samuel, dentro da piscina. Ele sorriu para mim, piscando. Não tive tempo de falar, só senti mais água em mim. Dessa vez ele também tinha acertado Jennie que soltou um gritinho, afastando a cadeira mais para longe, a segui.

E, mais uma vez quando ia falar, fui interrompida por pingos caindo em mim. Quando subi o olhar, Wilk estava na minha frente, rindo e sacudindo o cabelo. 

— É Samuel, quer mesmo morrer hoje, em? - ameacei, mas só consegui tirar uma risada.

— Você achou mesmo que eu não me vingaria da sua brincadeirinha com minha prima? Minha memória é perfeita, não me esqueço de nada, baby.

Assim que ele terminou a frase, ele me puxou com força para seu colo. Ele ainda ria, caminhando para a piscina, sabia sua ideia. Porém ele não parou quando eu gritei, nem depois que dei um soco em seu ombro. 

— Boca fechada não entra água. - disse e pulou na piscina.  

DARE ➹ Sammy WilkOnde histórias criam vida. Descubra agora