11 | Sammy

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Abaixei o volume da música que tocava, quando percebi que Jane dormia tranquilamente no banco do passageiro.

Um momento da noite anterior passou pela minha cabeça, mas logo fiz questão de me concentrar somente na estrada.

Felizmente, ainda faltava uma hora e meia para que chegássemos no detisno. Infelizmente, o caminho parecia ter sido reduzido, e esse tempo passou tão rápido que se não fosse a placa com o nome da cidade, acreditaria ter errado o caminho.

Era uma cidade bonita e, me lembro de adorar passar as férias aqui quando mais novo. Entretanto, se minha melhor amiga não tivesse prometido que viria comigo para essa reunião familiar, com certeza não estaria aqui para participar. Costuma ser péssimo, só de lembrar, eles julgando cada escolha minha, e até mesmo, as que não fiz.

Tento esquecer isso, enquanto estacionava o carro na garagem da casa da minha tia. Desligando o carro, respiro fundo. Olho para o lado, onde Jane ainda dormia.

Acordá-la pela segunda vez no dia, era um risco que estava prestes a correr, já que seria pior deixá-la sozinha ali. Com coragem, me aproximei tocando seu rosto, observando ela apertando os olhos, seguro um pequeno riso, antes de chacoalhar ela pelo ombro.

Seus olhos se abrem, preguiçosamente, e quando focam em mim, consigo ver seu expressão irritada. Ela não fala nada, só olha para frente e abre a porta do carro, descendo dele. Ainda segurando meu riso, faço o mesmo.

Pego a minha bolsa e a bolsa de Jane, me aproximando dela, para que pudéssemos entrar na casa. Ela que estava arrumando o cabelo, me ignora totalmente.

— Não pode ficar brava comigo. - digo.

Jane deu de ombros, revirando os olhos.

— Sammy!!! - ouço uma voz, que não havia a tempo, mas reconhecia.

Melina, minha prima de sete anos, vem correndo animada ao meu encontro. Deixo as bolsas de lado, me abaixando para cumprimentar a morena baixinha a minha frente. Melina me abraça por alguns segundos, depois se afasta um pouco.

— Olha só. - chamando minha atenção, ela abre a boca, apontando com o dedo um espaço entre seus dentes.

Melina estava grande e banguela. Porém, ela não esperou com que eu desse uma resposta, e curiosamente, olhou para Jane, que soltou um breve "ei", saudando com a mão.

— Quem é ela, Sammy? - a garotinha indagou agora virada para mim.

— Ela é minha amiga, você vai gostar dela. - sorrio de canto, vendo a menina concordar.

Então Melina se afasta de mim e vai até Jane, ela pega na mão da minha amiga e começa a puxá-la.

— Minha mãe fez torta pra receber os convidados, então você pode comer. - ela explica simples para Jane.

O caminho que Melina faz com Jane, só termina na cozinha, aonde sua mãe  mexia em algumas panelas sobre o fogão.

— Oi! - minha tia disse animada, se virando e caminhando até a gente, ela me abraça e faz o mesmo com a morena ao meu lado. — É um prazer te conhecer, minha irmã fala muito de você. - disse para Jane.

— Sério? Espero que bem! É um prazer para mim também. - Jane diz, simpática.

E eu a olho, imaginando para onde foi toda a irritação que ela estava sentido. Ela me olha, com o olhar confuso e foi minha vez de dar de ombros, voltando atenção para minha tia.

— Estão cansandos? separei um quarto para você, só subir a escada, terceira porta a direita. Sammy, mostre a ela. - minha tia pede, me fazendo concordar. — Mas antes comam alguma coisa, o café ainda esta na mesa.

O jardim da casa de minha tia Megan, já estava com alguns de nossos parentes. Desconfiava se eu os conhecia, já que não lembrava de metade.

Jane logo apareceu ao meu lado, com um pedaço de torta.

— Sua tia cozinha bem. - diz com a boca um pouco cheia, seguro o riso, enquanto ela comia. — Sua mãe está ai. - ela comenta.

—  Está? - pergunto.

— Estou. - ouço a voz da minha mãe e assim que a vejo a puxo para um abraço. — Que bom que veio!

— Sem problemas. - digo simples, recebendo um sorriso de minha mãe.

— Obrigada por trazê-lo, Jane. - ela diz, fazendo minha amiga concordar.

— Me trazer? Ela dormiu o caminho todo! - acuso, recebendo um olhar feio da morena. — Só tô falando a verdade.

Minha mãe solta uma risada, me fazendo rir também. A conversa se encerra, quando minha mãe é chamada por um primo dela.

Olho com tédio para Jane.

— Por que combinou que viria aqui? - indago.

— É sua família. - fala óbvio.

— Por que combinou que viria aqui? - refaço a pergunta e ela revira os olhos.

— Não tá tão ruim. - ela afirma, após dar uma conferida no local.

— Grande Samuel. - vejo em minha frente meu tio Tony, junto de seu filho Adam. — Quanto tempo que não nos vemos!

— É verdade. - respondo ríspido, na intenção de encerrar a conversa.

De todos os meus parentes, Tony era, de longe, o mais arrogante. As conversas com ele eram as mais desagradáveis.

— Não vai nos apresentar sua nova namorada? - pergunta quando avista Jane.

— Essa é Jane, e não é minha namorada. Jane, esse é Tony, meu tio. - Jane dá um breve sorriso, mas segura a mão dele quando ele a estende.

— Uma pena para você, mas quem sabe uma sorte para o Adam. - ele ri sozinho, cutucando o filho com o ombro.

Da para ver a careta no rosto de Jane, mesmo ela tentando reprimi-lá. Ela fica ao meu lado.

— Brincadeira. Mas quem sabe. - ele continua. — Então Samuel, Adam passou em advocacia, estava muito concorrido, mais ele garantiu sua vaga. - ele aperta o ombro do meu primo, falando com orgulho, enquanto fazia o garoto se juntar a ele.

— Nossa, isso é muito bom, Adam, parabéns. - digo sincero, mesmo não estando interessado no assunto.

— E você? Já desistiu da besteira de música e procurou algo que realmente te deixará estabilizado? Covenhamos que tem que ter muito talento para conseguir se da bem no ramo. Eu não sei como seus pais não se opõem a essa ideia maluca - a ironia na sua voz era quase palpável.

Minha boca secou e eu fechei a mão. Eu queria dizer tudo que sempre me segurei para não falar, porém antes qur eu começasse, Jane se engasga com o bolo. Sabia que ela estava fingindo e tinha certeza que era para que perdessemos o foco daquela conversa embaraçosa. Tentei ajudá-la e ela aceitou, me levando, disfarçadamente, para a cozinha.

Quando chegamos no cômodo vazio e silencioso, respirei fundo, apoiando minhas mãos no balcão.

DARE ➹ Sammy WilkOnde histórias criam vida. Descubra agora