"Minha fé deita na escuridão"
___"Obrigado por me purificar."
O flash das câmeras, as fitas amarelas em volta do galpão.
Um bilhete agradecendo pela purificação, uma mesa de chá e uma linda boneca.
Penas espalhadas pelo local.
Roupas de seda sujas de sangue.
Luzes azuis e vermelhas animando a noite, transformando tudo em um lindo quadro perfeito.A cena estava linda, era como uma verdadeira obra de arte.
Um galpão com as portas arrancadas, uma mesa em seu centro com uma mulher arrumada perfeitamente e pintada delicadamente.
Uma mesa posta com dedicação para a hora do chá, quatro cadeiras sem ocupantes.
Em volta da linda mesa de chá várias penas espalhadas pelo chão, preenchendo metade do galpão.
Um papel agradecendo na mão da vítima, e no chão as seguintes palavras: "Um anjo caído"No entanto haviam coisas fora do lugar, coisas que não pertenciam a essa bela obra de arte.
Oficiais e legistas andavam pelo local e batiam fotos da cena, mexiam no corpo e o removiam pra longe da mesa.- Meio tarde para tomar um chá não? - Neil Josten, um dos melhores detetives disse chegando na terrívelmente bela cena do crime. - Por que me chamou tão tarde Kevin?
- Não é como se precisássemos de você aqui.- Kevin Day fala com uma cara amassada, como se estivesse acordado a pouco tempo. Mas seu ar arrogante continuava lá não importava a hora.
- Mulher branca, 25 anos, sem filhos, único parente vivo é seu irmão mais novo. Estuda na faculdade de Ohio, pelo que vi seu nome é Ashley Stanford. Ash, para os mais próximos. - Matt chega perto da "dupla dinâmica" com uma ficha nas mãos.
- Um cenário meio macabro para um chá da tarde não acha? - Kevin fala olhando para seu relógio de pulso, exatamente 02h22 da madrugada.
Josten nem se preocupou em responder, estava ocupado demais analisando a cena um tanto quanto errática.
Sua cabeça estava em um turbilhão, gostou da idéia de um caso complexo ter surgido, não estava conseguindo dormir aquela noite porque, por alguma razão, sempre que fechava seus olhos ouvia sua mãe gritar para eles fugirem ou ouvia o crepitar do fogo e o cheiro da maré.
E Neil não gostava de estar fora de controle, afinal ele era um detetive em ascenção, não deveria se deixar levar pelas emoções.Neil estava perdido em pensamentos quando ouviu um longo assobio, olhando pro lado percebeu Allison Reynolds parada ao lado de Matt e Kevin.
- Detalhes. - Pede ele, curto e grosso.
- Nem começa, tô com uma puta dor de cabeça... - Reynolds reclama apoiando a testa em sua mão direita.
- Ressaca? - Kevin pergunta com um olhar que dizia que ele conhecia essa dor. Afinal, apenas um alcoólatra reconhece a dor de outro.
Alisson é uma verdadeira legista que não se dá bem com o próprio trabalho, mexe com corpos em decomposição até se cansar, mas quando chega em casa acaba com duas ou mais garrafas de vinho para não sonhar com os mortos ou apenas para não se lembrar de nada.
Meio que isso já virou uma rotina para a loira, beber até cair no sono.- Pelo que eu vi a causa da morte foi a facada no seu abdômen, morreu entre meia noite e uma e meia da manhã. - Alisson faz uma pausa antes de continuar, - temos que fazer mais testes pra saber tudo certinho, mas por enquanto é isso. Estão levando mais provas para o laboratório forense, não foi encontrado muita coisa.
- Essa pessoa é boa. - Matt solta baixinho suspirando.
- Relaxa Matt, não há nenhum enigma que não possa ser resolvido...- Neil começa a falar mais é interrompido pelos três que estavam ao seu lado.
-...e nenhum quebra-cabeça que não possa ser montado.- falam em uníssono completando a frase de Neil.- É, já sabemos.
Josten solta uma risada e fala algo sobre eles estarem motivados hoje, fazendo Alisson e Kevin revirarem os olhos e Matt suspirar.
O pequeno grupo se separou seguindo cada um para um lugar diferente da cena do crime.
Uma pequena multidão já estava formada fora do galpão e várias câmeras batiam fotos.Day foi falar com alguns polícias que chegaram antes e com a família que achou a cena.
Kevin era o detetive das mídias e um interrogador, lidava com pessoas melhor que ninguém e odiava quando não estava certo, mas nunca se exaltou realmente já que ele sempre está certo.
Matt era gentil e cuidava de poucas coisas no departamento, deixava os casos difíceis para Neil e Kevin resolverem, ajudando sempre que possível.
Neil já não gostava dessa pressão toda que era a mídia, sempre foi um bom detetive, o mais novo no cargo e o melhor, não gosta de pessoas mas sabe muito sobre a mente delas. Acha peculiar tudo isso, só aceitou o emprego para ocupar sua própria mente, afinal assassinatos como esse não se viam todo dia.
Era interessante como o assassino arrumava tudo meticulosamente, com cuidado para não deixar rastros e pistas.
Ainda na cena do crime Neil olhou em volta, curioso com tudo aquilo, curioso com todos os detalhes.
- "Isso sim é arte."- Pensou.Neil queria tanto que sua morte fosse assim, ele ansiava por uma morte tão bela.
Ele queria que sua morte fosse como uma pintura famosa, queria que essa alucinação de morte bela se tornasse realidade.Neil Josten queria apenas morrer pelas mãos de um verdadeiro artista.
- Vem, - Kevin coloca a mão em seu ombro, tirando-o de seus pensamentos. - Vamos voltar para o departamento.
Neil queria morrer como arte, mas seu pintor demoraria para lhe reconhecer como belo.
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The Narcissistic Player
Fanfiction- "Eu imagino tudo perfeitamente. Eu vejo isso acontecendo. Uma música clássica tocando, nossos corpos colados deslizando pelo grande salão mal iluminado. Você em um lindo terno branco, está sorrindo, você está feliz. Mas então eu olho para baixo e...