Capítulo 3

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No dia seguinte

Blair não pregou os olhos a noite inteira.

Aquela imagem perturbadora dela mesma refletida no plástico fosco não sumiu de sua mente por um segundo e ela se revirou na cama de um lado pro outro a noite toda, rezando para o horário de visitação começasse logo e que o pai não se atrasasse.

Blair parecia uma morta viva, grandes olheiras marcavam a pele praticamente transparente debaixo dos olhos, a boca estava completamente seca e suas veias azuladas no pescoço nunca pareceram tão escuras. Ela tocou o espelho gelado como se pudesse alcançar o seu próprio reflexo do outro lado da parede e sentiu um calafrio passar por todo o seu corpo. Moore observou a superfície espelhada com um certo estranhamento, parecia que algo estava prestes a pular pra fora do espelho, algo frio, pegajoso e escorregadio que abriria os dentes e iria direto para o seu pescoço.

Nada aconteceu.

—Está pronta, filha? — Ethan bateu na porta do banheiro duas vezes com o nó do dedo indicador esperando por uma resposta, sua intuição gritava para que ele arrombasse a porta e não deixasse sua filha dentro de um lugar pequeno e apertado completamente sozinha, mas ele lutou contra cada inclinação paternal tentando dar o máximo de espaço possível para a filha.

Blair acordou de seus devaneios sombrios e terminou de vestir a camiseta rosa clara engolindo em seco, tentando ao máximo não deixar a sua mente correr livremente sozinha novamente.

 Não funcionou.

—Estou quase papai. — Blair honestamente esperava que lhe chamar de papai a ajudasse em alguma coisa, mas ela quase podia ouvir os nervos do pai se rachando em pura ansiedade do outro lado da porta. Honestamente... Ethan precisava muito mais de consultas diárias com uma psicóloga do que ela.

Moore se olhou no espelho uma última vez antes de sair e bufou decepcionada, ela estava tão feinha... O cabelo cheio de frizz estava numa mistura nojenta de oleoso com seco e ela estava coberta em rosa claro e bege. Sério!? Rosa claro e bege? Naquele momento aquelas duas cores pareciam as cores mais sem graça do mundo, mas ela supôs que não estava tão longe de sem graça assim. Esse pensamento não a incomodou tanto quanto ela pensou que incomodaria.

Sem ter coragem de se virar de costas para o espelho, Blair tateou às cegas pela maçaneta às suas costas e abriu a porta num solavanco um tanto violento e barulhento.

Ethan deixou seus olhos correrem livremente até Blair no mesmo momento em que ela saiu do pequeno banheiro e não os tirou dela até que os dois estivessem dentro do carro em segurança.

Ele olhou para o banco de trás e a sondou minuciosamente. Ela usava uma de suas roupas de sempre, das mesmas cores de sempre, mas parecia deslocada, como se ela não pertencesse ali, como uma estranha que ele nunca tinha conhecido até aquele momento. Ethan não gostou do sentimento de angústia que isso lhe proporcionou. 

Blair estava virada para a janela e ouvia algo em seu fone de ouvido velho estilo Bluetooth roxo da JBL. Ela não parecia gostar da música e ficava trocando de faixa no próprio celular como se nenhuma realmente lhe agradasse.

Ethan passou pela placa verde que alertava que eles já haviam chegado em sua cidade e se perguntou se Blair sabia que os dois estavam, até então, em uma clínica de reabilitação para pessoas com problemas psicológicos ou mentais logo depois dos limites da cidade esse tempo todo e não em um hospital público. Era provável que ela não tivesse ideia, mas ele não conseguiu se sentir culpado por mentir para a filha.

A Mercedes extremamente cara e luxuosa parou num dos únicos mercados da cidade e Blair tirou o fone roxo ridículo e o jogou no banco de forma violenta, aquelas músicas salvas na playlist do spotify  eram a maior porcaria! Como ela não havia percebido antes?

Filhas da NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora