anxious(adj): 1.que deseja excessivamente algo.
2. que expressa inquietação, angústia, impaciência, agitação, agonia.Lisa in Tokyo, Japan.
As vezes eu acho que as pessoas entendem meu trabalho de uma maneira terrivelmente equivocada. Lembro-me de quando ainda estava na escola, frequentando-a parcialmente, e ouvia as outras garotas cochicharem sobre mim pelos cantos.
"Notou como ela é soberba?Ela quase não fala com ninguém"
"Eu acho que ela deve ser uma daquelas garotas totalmente operadas dos pés até a cabeça que fingem ser naturais"
"Pra uma modelo eu acho que ela come até demais, não concorda?"
"Ela nem é tudo isso que mostram nas revistas, aposto que os pais pagam pelo photoshop"
Eu sempre tive a audição muito boa pra alcançar o que as pessoas falavam de mim, elas sempre falavam. Mas, eu nunca entendi toda a perseguição comigo.
Eu nunca fui soberba, no entanto sempre fui tímida ao ponto de ter vergonha de falar com as pessoas sem que falassem comigo primeiro. Eu nunca tive coragem de iniciar uma conversa no colegial sequer uma vez, sentia minhas mãos soarem absurdamente toda vez que pensava na ideia de falar algo com alguém que não conhecia.
Também não fiz nenhuma cirurgia plástica, mas nunca entendi qual seria o problema se tivesse feito. As pessoas agem como se isso fosse quase como uma forma de enganar alguém e eu nunca entendi esse conceito direito. De qualquer forma, a única cirurgia que fiz foi a de correção do meu grau de miopia aos dezessete anos para me livrar das lentes de contato.
Sobre comer, bom, eu levei um certo tempo pra entender que como modelo comer era quase um crime aos olhos das outras pessoas. E, contrariando todas as expectativas da época, eu fui uma adolescente que comia o quanto julgasse necessário pra me satisfazer.
Por fim, os que me julgavam ao me ver pessoalmente claramente não entendiam o conceito de ângulos, maquiagem e luz. Tão pouco seriam capazes de compreender que absolutamente todas as modelos passavam por correção no photoshop, eu não seria uma exceção.
O lado bom foi que não tive de lidar com os comentários vindos do colegial por muito tempo porque acabei terminando a escola por homeschooling. É meio difícil seguir o cronograma da escola quando se tem que trabalhar até 15 horas por dia posando e desfilando por aí.
Meus pais perceberam rápido que uma carreira nesse ramo me daria uma estabilidade incomparável as outras alternativas convencionais, então eu fui educada "em casa", se é que posso chamar quartos de hotéis de casa.
E assim me tornei adulta no meio disso tudo com os anos. Desfiles, castings, campanhas, photoshoots, semanas de moda... repeti incontáveis vezes essa rotina desde os quatorze anos imaginando que aos dezenove isso não me pareceria mais um mundo tão grande e assustador.
Para minha surpresa isso não se tornou exatamente mais fácil. Havia uma complexa gama de sensações em minha volta sobre isso construída com o passar dos anos.
Eu percebi com o tempo que, obviamente, eu era ansiosa socialmente e desengonçada com a interação com outras pessoas. Modelar envolvia muita gente, sempre haviam muitas pessoas em volta de mim e me deixava nervosa, eu sabia que só conseguia fazer aquilo porque não precisava falar com ninguém – não necessariamente – eu precisava posar, desfilar, me deixar ser vestida e despida diversas vezes seguidas. Mas a maior comunicação que precisava fazer era com as câmeras e essa nunca me incomodou de forma alguma, na verdade eu sempre gostei de como não precisava dizer uma palavra sequer pra que meus sentimentos fossem capturados e totalmente compreendidos.
Porém, depois de um dia inteiro daquilo eu me sentia exausta e sugada completamente. Depois de dias seguidos daquilo meu corpo pesava de tal maneira que eu sentia não ter mais nenhuma carga suficiente sequer para pensar no que fazer. Por isso, eu sempre fazia o mesmo nos meus dias de folga nos hotéis: comida, banho, dormir e assistir programas estúpidos da tv a cabo.
Eu gostava do meu tempo sozinha, eu sempre gostei de ficar sozinha, nunca entendi o motivo das pessoas odiarem a própria companhia. Me parecia irrazoável detestar estar consigo mesmo, como devo esperar que alguém me aguente se eu mesma não me suportar? Não fazia muito sentido pra mim.
Mas, vez ou outra, até mesmo a pessoa mais solidariamente solitária se sentia um pouco... sozinha demais. Afinal, somos humanos.
E notei que, depois de uma longa semana de trabalho, meus dias de folga pareciam sozinhos demais daquela vez. Pra ser mais específica naquela noite de sexta.
[CONTRATAR]
— Oh! Você voltou L — a morena soou sorridente na minha tela brilhante.
— Oi J. — aceno pra câmera — Estava meio entediada.
— Que sorte sua eu estar on-line então, não acha? — aceno que sim com a cabeça — Onde está? Outro quarto de hotel? Parece diferente do último.
— Acertou, é outro hotel — mostro-a um pouco do ambiente em volta.
— Uau, você deve ser filha de um presidente ou algo do tipo pra estar sempre viajando assim — ela supõe — Ou talvez uma hacker que vende coisas ilegais pela deep web.
— Eu te garanto que a última opção não é verdade — sorrio boba de sua suposição absurda.
— Tem razão, seu rosto é muito angelical pra isso — ela pensa alto mais um pouco — Seria um desperdício deixar seu rostinho perfeito escondido atrás de um computador.
Sorrio meio sem graça, achava meio estranha a forma como ela fazia eu me sentir envergonhada com elogios que costumava ouvir diariamente. Acho que era o fato que ela não me elogiava de uma maneira que parecia profissional demais como os agentes e fotógrafos. Era mais legítimo com ela.
— O que está usando? — questiono — Não consegui decifrar ainda.
— Ah, isso — ela se afasta da câmera exibindo sua fantasia — Sou uma enfermeira sexy, eu estava experimentando algumas fantasias antes de você me chamar. O que acha?
— Uau, ficou incrível!
— Gostou? — ela se aproxima da câmera — Isso é porque você não viu por baixo do mini vestido ainda — ela sussurra perto da tela como se fosse um segredo e minhas bochechas coram.
Não sabia o que responder, confesso que fiquei envergonhada.
— Oh meu Deus, está corada? — ela sorri grande com minha reação — Ah não, você é oficialmente a pessoa mais fofa que já conheci em toda minha vida L! Que linda.
Enquanto eu sorria como uma idiota naquela noite eu não havia percebido ainda que J tinha sido a primeira pessoa com quem eu havia me sentido confortável pra me relacionar de uma maneira diferente de como me relacionava com todas as outras.
Alguma coisa sutilmente calmante e agradável nela me fez querer me aproximar mais e mais, mesmo estando tão longe.
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Cam Girls (Jenlisa)
FanficLisa é uma supermodelo internacional morando no Japão, mas fora dos holofotes e das passarelas ela é uma pessoa solitária. Por isso, pagar pela companhia de uma Cam Girl tão atenciosa quanto a Jennie não pareceu uma má ideia. E não era, até ela cri...