Robinson estava esperando por mim em uma mesa ao fundo de uma lanchonete 24 horas na Avenida
Klamath, a dois quarteirões do ponto de ônibus. A seu lado, uma mochila que parecia ter sido comprada
de um andarilho em troca de um frango e alguns centavos. A expressão em seu rosto me fez lembrar de um
cão de guarda descansando com um olho aberto. Ele me olhou através do vapor que subia de sua xícara
de café.
— Eu pedi torta — ele disse.
Como se estivesse esperando pela deixa, a garçonete entregou um prato lambuzado com torta de mirtilo e
dois garfos.
— Vocês dois acordaram cedo — ela comentou. Ainda estava escuro. Nem os pássaros tinham acordado.
— Nós somos vampiros, na verdade — Robinson respondeu. — Estamos fazendo uma boquinha antes de
ir para a cama. — Ele forçou os olhos para ler o crachá da garçonete e então mandou aquele seu sorriso
grande e maravilhoso para ela: — Não nos denuncie, Tiffany. Não preciso de uma estaca no coração. Só
tenho quinhentos anos de idade. Jovem e charmoso demais para morrer.
Ela riu e falou comigo:
— Seu namorado é uma figura.
— Não, ele não é meu namorado — respondi rapidamente.
A resposta de Robinson foi quase tão rápida.
— Bem que ela queria, mas eu recusei.
Debaixo da mesa, lhe dei um chute e ele gritou.
— Ele está mentindo — expliquei à garçonete. — Foi o contrário.
— Vocês dois são uma comédia — Tiffany disse. Ela não era muito mais velha que nós, mas balançou a
cabeça como se fôssemos duas crianças tolas. — Vocês deveriam colocar esse espetáculo no teatro.
Robinson deu uma mordida gigante na torta.
Pode acreditar, nós vamos — ele prometeu.
Ele empurrou o prato na minha direção, e fiz que não com a cabeça. Eu não conseguia comer.
Estava controlando meus nervos, mas agora estava apreensiva. Quando foi que eu fizera algo tão
monumental e insano como aquilo? Nunca nem cheguei em casa depois do horário estipulado.
— Anda logo com essa torta — pedi. — O ônibus para Eureka parte em 45 minutos.
Robinson parou de mastigar e me encarou.
— Como é?
— O ônibuuuuus — eu disse, prolongando a última sílaba. — Sabe aquele que vamos pegar? Para vazar
daqui?
Robinson caiu na gargalhada e eu pensei em chutar sua canela outra vez, porque não precisa ser gênio
para reconhecer a diferença entre rir com alguém e rir de alguém.
— O que é tão engraçado?
Ele se debruçou em minha direção e colocou suas mãos sobre as minhas.
— Axi, Axi, Axi — ele cantarolou, balançando a cabeça. — Esta é a viagem das nossas vidas.
Nós não vamos começá-la em um ônibus da Greyhound.
— Quê? Quem está planejando esta viagem, afinal? — perguntei. — E o que há de tão ruim com o
ônibus?
Robinson suspirou.
— Tudo é ruim com o ônibus. Vou te dar alguns exemplos, assim você para de me olhar com esse olhão
azul. Esta é nossa viagem, Axi, e não quero compartilhá-la com um cara que acabou de sair da cadeia ou
com uma senhora que quer me mostrar as fotos de seus netos. — Apontou um garfo cheio de torta para
mim. — Além disso, um ônibus é basicamente uma grande placa de Petri, cultivando superbactérias, e
demora muito para chegar a qualquer lugar. Esses foram dois motivos extras.
Joguei as mãos para o alto.
— Da última vez que chequei, não tínhamos um jatinho particular, Robinson.
— Quem falou em avião? Nós vamos pegar um carro, sua boba — ele disse. Recostou-se na cadeira e
cruzou os braços atrás da cabeça, calmo e impassível. — E eu realmente quero dizer pegar um carro
VOCÊ ESTÁ LENDO
PRIMEIRO AMOR
RomansUm retrato comovente de um verdadeiro amor, que vai tocar o coração de quem tem um primeiro amor todo seu. Axi Moore é uma garota certinha, estudiosa, bem comportada e boa filha. Mas o que ela mais quer é fugir de tudo isso e deixar para trás as lem...