1.0 - Hope

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Para me levantar da cama hoje, precisei de toda minha força de vontade. Como sempre, meus queridos vizinhos estavam fazendo uma festa ontem a noite, que durou até de madrugada. Às vezes me pergunto se eles sabem o que é dormir.

De qualquer maneira, se eu não tivesse minha força de vontade, eu teria minha tia. Estou surpresa por ela não ter subido as escadas até meu quarto gritando ainda. Desde a morte de meus pais, minha tia, Elle, tem sido a mais próxima que eu tenho de uma mãe, ou melhor amiga.

Eu passo a maior parte do meu tempo em meu quarto, como agora, encarando o teto branco e sem graça. e me flagro pensando sobre meu passado e nas competições. Não piso no rinque desde que tudo aconteceu. Sinto falta da sensação da lâmina rasgando o gelo. Mas está tudo bem. Isso tudo é pelo bem da minha família -minha tia- e para felicidade de meus falecidos pais. Eu posso aguentar isso

HOOPEEE! - Aqui temos ela...Demorou. — SweetHeart, vamos, você vai se atrasar para aula. - Diz minha tia, entrando em meu quarto.

Por mais que os gritos dela me incomodam, pelo menos ela me livrou de meus pensamentos.

Quando minha tia sai do quarto e fecha a porta, me levanto para trocar de roupa. Hoje é um dia importante na escola, vão ser liberadas as notas de literatura e linguagens. Eu preciso ir bem nessas matérias, comunicação é um fator importante quando se precisa entrar em uma faculdade de relações internacionais.

Quando caminho até meu closet, ao lado de meu espelho de chão, vejo como meu cabelo está desarrumado, então penso em fazer algum penteado que deixe ele preso. Meus cachos não estão definidos, o que é perfeitamente normal quando se passa a noite se revirando na cama tentando dormir.

Quando olho para a escada próxima a minha cama, que fica acima da minha escrivaninha, lembro de ontem a noite, quando devido a minha inquietação, percebi que estava nervosa. Provavelmente pelas notas que acho que foram baixas. Então subi para o telhado, e fiquei observando as estrelas e a lua.

Tenho uma paixão secreta pelas noites, por isso convenci minha tia a fazer uma espécie de varanda improvisada no telhado, que só seja possível a chegada através da passagem pelo meu quarto. É um lugar de paz. É fresco, acolhedor e tranquilo.

Enfim, vou entrar no banheiro para tomar um banho, mas antes, vou escolher minha roupa. Está na transição para o inverno, então o clima está ameno, por isso decidi apenas vestir uma blusa de manga longa e gola alta branca, com uma calça legging preta, que é mais casual, não tão esportiva, porém quente e confortável, principalmente porque hoje tenho aula de educação física.

Tomo meu banho e faço duas tranças que partem da raiz e fazem meus negros cabelos secos cairem sobre meus ombros, visto minhas roupas e desço para tomar um café da manhã com minha tia.

Chegando a cozinha, vejo minha tia já com o uniforme de enfermeira, seus cabelos castanhos em formato de "S" estão presos em um coque frouxo, fico parada, encostada na bancada, admirando o quanto nos parecemos, até nossos olhos são da mesma cor, verde. Mas isso não é surpresa. Antes de morrer, minha avó sempre me contava como minha mãe e minha tia se pareciam antes de minha mãe alisar permanentemente seus volumosos cachos. Minha tia era o jardim da primavera, devido a seus olhos de esmeraldas, como os meus e do meu avô. Já minha mãe era o céu do outono, devido a seus olhos de safiras.

Só quando minha tia se vira, e fica com um olhar confuso e brincalhão que percebo que estou a encarando.

— Estou tão feia assim, Hopezinha? — Pergunta minha tia, com um sorriso refreado no rosto.

Sei que ela está brincando, então entro no jogo.

-Horrorosa, Ellezinha - Sorrimos em conjunto, criando uma sinfonia que amo escutar. Eu amo sorrir e fazer esses joguinhos sarcásticos, porém não faço com ninguém mais além de minha gêmea de olhos. - Não, tia, você está perfeita, como sempre.

Lâminas da vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora