Minha aposta

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Fiquei um tempão no banheiro, vendo as meninas entrarem e saírem, enquanto eu chorava baixinho, de raiva e frustração. Até que ouvi uma batida na porta:

— Hina? - era Sakura, uma das minhas melhores amigas na faculdade.

— Oi, Saky. - respondi fungando.

— Chorando de novo por causa do idiota do Naruto?

— Sim, ele é um verme!

— Não fica assim, aquele tapado não merece isso, amiga. - eu me levantei e abri a porta. - Olha só, borrou todo o rímel.

— Eu estou com tanta raiva dele, Saky! - frisei, enxugando as lágrimas com a manga da blusa.

— Não vale a pena se matar por ele, você sabe que Naruto só pega no seu pé porque tem uma queda gigantesca por você e não pode assumir, por ser teu professor.

— Lá vem você de novo com essa história. - protestei, indo jogar água no rosto. - Naruto deve ter uns trinta e poucos anos, o que ele iria querer com uma mulher na minha idade?

— Vinte e nove.

— O que?

— Essa é a idade dele, nem é tão velho assim, vai! - ela deu um sorrisinho debochado.

Eu ri também.

— Tudo pra você é atração física, Naruto só me acha medíocre, nada mais. - argumentei segura de mim.

— Escreve o que estou te falando, não há razão para Naruto ser tão babaca contigo, se não for pelo desejo reprimido. - objetou convicta.

— Ah é, esse desejo todo vai me levar a reprovação! - desdenhei, mas já estava me sentindo melhor. - Por falar nisso, como está a aula? Eu saí e nem corrigi nada do que o senhor insuportável pediu.

— Quando você saiu Naruto ficou todo desconcertado, parecia querer ir atrás de você. - Sakura relatou, sorrindo travessa. - Agora ele está lá tentando manter a pose de sério, só que Naruto não me engana!

— Chega, Saky. - eu fui indo em direção à saída do banheiro. - Para de viajar na maionese, eu preciso corrigir essa bosta de TCC e dar para ele revisar ainda hoje, então vamos voltar pra merda da sala, antes que eu jogue tudo pro ar e vá vender minha arte na praia!

— Você não sabe fazer artesanato.

— Ah, valeu por me lembrar que eu sou um fracasso.

— Para de drama, você não tem culpa se o Naruto é infantil e ao invés de assumir a atração que sente por você, fica fazendo joguinhos. - eu suspirei. - Parece coisa de quarta série!

— Agora chega. - eu a puxei em direção à sala.

Contudo, no meio do caminho, começamos a ver os alunos saindo de suas salas, já era hora do intervalo, afinal.

— Vamos comer? - Sakura perguntou, já indo para a cantina.

— Como assim hora do intervalo?

— Ué, Hina. Você ficou quase duas horas fora da sala, eu entreguei meu material para o Naruto e assim que ele me dispensou, vim ver como você estava. - explicou. - Eu fiquei preocupada.

— Nossa, agora eu preciso correr para revisar tudo, só tenho duas aulas! - disparei para a sala novamente, deixando Sakura sozinha no intervalo, se bem que, eu pude avistar um certo Uchiha ao longe, ela ficaria bem.

Sasuke era a paixonite da Sakura desde o primeiro ano, só que ele conseguia ser mais babaca que o Naruto, sério. Não sabia como ela ainda gostava dele, enfim.

Entrei na sala de supetão e dei de cara com a última pessoa que eu queria ver na vida.

— Resolveu voltar? - ele quis saber, me olhando de lado.

Quase que eu respondi: Não, não, ainda estou lá no banheiro chorando, aqui é só meu holograma. Porém, eu disse:

— Sim, com tua licença, vou refazer o trabalho.

Naruto me olhou desconfiado e aproximou-se furtivamente de mim.

— Achei que não iria mais voltar. - ele parou ao meu lado na carteira.

— Você ficaria feliz se eu não voltasse, certeza. - falei baixinho, mas o bendito ouviu.

— Está enganada.

— O que? - eu o encarei, notando o quão alto ele era.

Uns dois metros, talvez?

— Acho que isso é seu. - Naruto me entregou um chaveiro de ursinho e eu senti meu coração disparar.

— Onde achou? - eu quase gritei.

— Atrás da porta, imaginei que fosse importante e resolvi guardar. - ele contou, me olhando de cima. - Você deve ter deixado cair e alguém chutou sem querer.

— Como sabia que era meu? - devolvi, pegando o chaveiro.

— Eu sempre vejo você com ele e percebi que toma todo o cuidado do mundo para não perdê-lo, deduzi que era algo especial. - sua voz soou muito baixa e incrivelmente rouca, fazendo meu coração saltar no peito.

— Minha mãe me deu quando eu era criança... - a frase saiu falhada, eu mal consegui terminá-la. - Obrigada por ter guardado.

— Não foi nada. - Naruto sentou-se ao meu lado e ficou em silêncio por alguns segundos. - Era o mínimo que eu podia fazer.

E, não sei por qual razão, eu senti vontade de contar a ele o porquê da importância do chaveiro.

— Ela estava muito doente e me deu esse chaveiro um pouco antes de morrer, foi o último presente dela pra mim.

— Sinto muito. - Naruto tocou levemente meu ombro com sua mão grande e eu me sobressaltei. - Hinata... - ele chamou meu nome, um tanto inseguro.

— Sim? - eu o encarei nos olhos, percebendo que eram extremamente azuis, mais do que eu imaginava, nunca o tinha visto tão de perto desse jeito.

— Perdoe-me se eu sou tão duro com você às vezes, é que, para falar a verdade, você é a minha aposta nessa turma. - Eu franzi o cenho sem entender. - Bem, eu tenho certeza de que será uma ótima jornalista, só que lá fora as coisas realmente são difíceis, eu quero te preparar, para que nenhum editor-chefe te diminuía.

— Você passou por algo assim? - perguntei surpresa.

— Passei.

— Por isso me desmerece de todas as formas? - eu me virei um pouco na carteira. - Isso não fez nenhum sentido pra mim.

Naruto gargalhou gostosamente.

Meu Deus, ele riu na minha frente!

— Se você me aguentar, aguentará qualquer um numa redação. - explicou, parando de rir aos poucos.

— Por que você nunca sorri? - eu mudei de assunto, ainda absorta no som que ouvi. - Sua risada é muito gostosa.

Ele corou.

Senhor, eu estava vendo isso mesmo? Naruto ficou vermelho por algo que eu disse?

— Eu... - ele se enrolou antes de responder, parecia desconcertado, e então coçou a nuca.

Nesse instante os alunos começavam a chegar e Naruto levantou-se rapidamente, indo em direção à sua mesa. Enquanto eu, permaneci tentando entender o que havia acontecido. Nós nunca conversamos dessa forma, aliás, eu sequer sonhava em ouvir o que ele me segredou há pouco. O que de fato aconteceu aqui?

Querido professorOnde histórias criam vida. Descubra agora