Capítulo 02

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Louise correu para casa no mesmo instante que entendeu o que estava acontecendo. Todo o percurso se perguntou como havia sido tão burra. Tão ingênua. Tão negligente. Toda a situação era óbvia, então, como ela simplesmente deixou tudo passar em branco? Assim que viu sua antiga colega de orfanato, sabia com o que teria que lidar. Aproximadamente dezesseis anos haviam se passado e Louise não havia envelhecido nada. Ela já mais não sabia como esconder esse fato. Evitou sua antiga cidade para que não acabasse cruzando com um conhecido e de nada adiantou. Falsificou seus documentos para que sua aparência não fosse tão discrepante à sua idade, afinal, já tinha trinta e um anos.

—Théo. Preciso que reúna todos no cais. Precisaremos do seu barco. Eu já estou indo encontrá-los, preciso pegar uma coisa aqui em casa. Qualquer problema, me ligue! —Louise, a jovem de supostamente 22 anos, apenas ligou para seu colega de classe social extremamente favorável e desligou antes mesmo que ele pudesse responder. Algo dizia que ele faria o que ela pediu sem pestanejar. No fundo ela sabia que estava certa. Nunca pensou que se aproveitaria do fato de seu amigo ser muito rico, mas, não era hora para pensar em princípios.

Agosto de 2009

Louise no auge de seus dezesseis anos vagava melancólica pelo orfanato onde morava desde que nascera. Em poucos meses completaria dezessete anos e essa era a idade da qual nenhum órfão ansiava em completar. Todos sabiam o futuro que os aguardava ao chegar na idade da reta final. Ninguém tinha a sorte de ser adotado nessa idade e assim que completasse dezoito anos seu destino era como o de todos os outros: "convidada" a se retirar do orfanato, com uma mão na frente e outra atrás, afinal, não eram mais crianças e não eram certamente, problemas do Estado. Louise apoiou os cotovelos à janela de seu quarto, próximo a sua cama. O céu estava estrelado e ventava demasiadamente. A lua cheia brilhava no céu limpo, sem nenhuma nuvem para esconder sua beleza natural. Louise era apaixonada por noites assim. Louise podia passar horas observando o céu, sempre esperançosa.

—Louise, vai nos contar uma história hoje? —Alice, uma garotinha de cabelos loiros e encaracolados perguntou à uma das mais antigas moradoras do orfanato, por quem tinha tanto carinho. Louise era como uma irmã mais velha para todas as outras crianças que ali residiam e certamente era muito querida por todos. —Você adora inventar histórias, tem mais alguma em mente? —Alice passou a tentar chamar a atenção da jovem puxando-a pelo seu vestido. Louise estava distraída, pensando-se em sabe-se lá o quê. —Louise!! —A garotinha de cinco anos gritou, impaciente. Poderia ser a garotinha mais doce do mundo... desde que não a ignorassem.

—Alice! —Louise a repreendeu, já com a mão no coração. Recuperava-se lentamente do susto, enquanto olhava para a criança com uma expressão nada agradável. Estava tão perdida em seus pensamentos que nem ao menos notou a criança se aproximar. Alice era uma criança bem peculiar na maioria das vezes. Tinha uma personalidade única, da qual chamava muita a atenção de Louise. —O que você quer, meu bem? —Louise questionou, usando seu mais doce tom de voz, afinal, não era culpa de Alice se ela estava pensando demais a ponto de estar em outro mundo.

—Você estava pensando nele de novo, não é? —Alice semicerrou os olhos, como uma garotinha intrometida. Ela costumava ser mais esperta do que deveria, mas, não precisava ser muito inteligente para deduzir o que tirava tanto a atenção de Louise. —Você fica esperando por ele todas as noites nessa janela. Não sou boba Louise, sei que pensa que ele vai voltar, mas, ele foi adotado. Não tem porque ele voltar. Você não está feliz por ele?

—Ele... —Louise interrompeu a si mesma e voltou a olhar para a janela. No fundo, sabia que Alice tinha razão. Sempre soube. Há cerca de nove meses ele foi adotado e nunca mais deu notícias. Não tinha porquê fazer isso, afinal, deveria estar feliz com sua nova família. Seus olhos se encheram de lágrimas. Ele prometeu que voltaria. Por ela. Prometeu a ela que nunca a esqueceria e que voltaria para ela. Não para ficar, mas, porque a amava. Ele prometeu uma, duas, três ou dez vezes. Assim que partiu, Louise nunca mais soube dele. Não tinha a mínima ideia de onde estava ou como estava. Desejava que estivesse feliz onde quer que pudesse estar, mas, seu coração doía e não conseguia simplesmente deixar de pensar nisso. Só queria noticias. Só queria que ele cumprisse sua promessa, mas, não parecia que isso iria acontecer tão cedo. Louise suspirou e forçou um sorriso, voltando sua atenção a Alice. —Claro que estou. —Respondeu secamente, como quem se indignava pela pergunta que foi feita. —Por que eu não estaria feliz por ele? Ele conseguiu o que ninguém imaginaria que conseguiria: Ser adotado tão tarde. —Louise cruzou os braços, parecendo estar repetindo um discurso que vinha treinando em sua cabeça. Alice percebeu que Louise dizia aquilo mais para si mesma do que à ela, mas, preferiu deixá-la em paz. —Hora da história?—Louise perguntou, sorrindo.

De volta a Terra do NuncaOnde histórias criam vida. Descubra agora