Dias atuais.
Louise enxugou suas lágrimas antes que pudessem percorrer por todo seu rosto. Não era mentira. Peter não havia mentido. Ela realmente prometeu nunca abandoná-lo. Diferente dela, Peter cumpria suas promessas. Diferente dela, Peter cumpriu tudo que prometeu. Peter prometeu amá-la, respeitá-la e protegê-la e assim o fez. Louise prometeu nunca abandoná-lo, mas foi embora da Terra do Nunca sem sequer o avisar. Toda vez que Louise se lembra da expressão em seu rosto, quando a viu partir, seu coração se parte mais uma vez.
—Você pode levar seu filho de volta, mas, nunca mais pise seus pés aqui. —Peter a olhava fixamente e Louise percebia o vazio em seu olhar. Toda vez que ele a olhava daquela forma, era como se canivetes atravessassem seu peito. —De qualquer forma, você sabe como essa ilha funciona. Não o forcei a estar aqui. Se ele veio, há motivos para isso. —Peter revirou os olhos. Sabia que dessa vez, estava sendo ácido em suas palavras propositalmente. Ele podia não ter a mínima ideia que Louise era mãe, mas, sabia que se o filho dela estava ali, junto a ele, provavelmente não era uma das melhores mães do mundo.
—Onde ele está? —Louise questionou, mantendo seu olhar fixado no chão. Se recusava, pelo bem da própria saúde mental (ou ao menos, o que restava dela) fazer contato visual com seu ex. A forma como ele a olhava e falava com ela fazia com que até mesmo seus ossos doessem. Seu estômago se revirava. Seu coração se despedaçava.
—Ele é um docinho. —Pan retrucou, olhando-a de cima a baixo. Era difícil para ele lê-la naquele momento. Ele estava tão confuso quanto ela, ou na verdade, até mais do que ela. Quando ele sentiu a presença da ex enquanto perambulava pela ilha, clamou aos céus para que fosse mentira. Quando a viu adentrar na cabana após mais de 6 anos sem vê-la, desejou que fosse apenas uma alucinação. Ele, mais do qualquer outra pessoa, estava atordoado. A sensação era a mesma que ver um fantasma na sua frente, porque bem, era exatamente isso que ela era. Era como se ela tivesse morrido e voltado a vida e pior, voltado para ele depois de tantos anos, sem mais nem menos. Ele não sabia o que sentir, mas, no momento, não sentia absolutamente nada.
—Onde mais estaria? —O loiro perguntou ironicamente. Apesar de Louise ter ficado tantos anos afastada da ilha, não havia tantas mudanças. Os travessos e os docinhos continuavam sendo separados pela faixa etária e o local onde ficavam continuava o mesmo. Peter a encarava, se perguntando o que se passava em sua mente. Mesmo conhecendo Louise melhor do que ninguém, muito tempo havia se passado. Ela era uma mãe agora. Lidava com problemas dos quais ela nunca lidou na Terra do Nunca ou até mesmo antes de chegar a morar ali. Por mais que sempre estivesse rodeada de crianças no orfanato, nenhuma delas era filha de Louise.
—Certo. —A jovem assentiu, sem sequer desviar o olhar. Tentava com muito custo, esconder o tremor de suas mãos. Louise uniu uma a outra, a fim de que elas parassem de tremer. Era difícil saber o motivo, mas, há tanto tempo sem comer ou dormir o corpo não tinha como funcionar apropriadamente. Seus batimentos cardíacos estavam acelerados e sua visão passou a ficar turva. Louise piscou algumas vezes tentando fazer com que sua visão voltasse ao normal, mas, algo estava errado.
—Louise? —Peter perguntou em um tom confuso. Ele não havia tirado os olhos dela nem mesmo por um instante e a cada minuto que passava, estranhava cada vez mais seu comportamento esquisito, entretanto, desde que colocou seus olhos nela, sabia que tinha algo de errado. Louise estava mais magra, tinha enormes e fundas olheiras ao redor dos olhos e suas unhas estavam roídas, além do esmalte descascado. Peter a conhecia bem demais para que aquilo lhe causasse certa estranheza. Louise poderia não ser a mulher mais vaidosa do mundo, mas, nunca gostou de ser relaxada. Adorava pintar as unhas ao ponto de pintá-las ao menos uma vez por semana. Ela também odiava a ideia de ter unhas roídas porque deixava a aparência das mãos muito feia. Ele mesmo havia perdido as contas de quantas vezes ela chamou sua atenção por roer as unhas, mas, depois de um tempo ele até mesmo acabou deixando esse costume de lado. Todas as perguntas que bombardeavam sua mente acabavam indo de encontro com uma única resposta: Louise é uma mãe. É claro, ele pensava. Louise não era mais a mulher que havia o deixado. Muito pelo contrário, na verdade. Ela definitivamente não era mais a mulher que um dia ele conheceu.
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De volta a Terra do Nunca
FantasiaQuando o filho de Louise é sequestrado, ela se vê em um beco sem saída. Quando os filhos de seus amigos somem da mesma forma, ela se lembra de seu passado. Embarque nessa aventura em um mundo que você já conhece, com personagens que já está familiar...