Capítulo 03

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Louise fechou seus olhos, desejando estar sonhando. Desejava há mais de duas semanas, que tudo não passasse de um terrível pesadelo. Com o sumiço de seu filho de seis anos, Pedro Aurélio, passava as noites em claro, torturando a si mesma psicologicamente, incapaz de dormir, afinal, se não tivesse dormido, ninguém jamais teria levado seu filho. Não se alimentava devidamente, já que não era capaz de saber se seu filho estava se alimentando também. Em suma, negligenciava as próprias necessidades básicas porque não tinha forças pra nada. Louise apostava seu ultimo resquício de sanidade mental nessa viagem de ultima hora. Se seu filho não estivesse aqui, junto das demais crianças, não estaria em lugar nenhum. Se seu filho não estivesse aqui, seria seu fim. Ela sabia disso. Todas as emoções que sentia estavam presas em sua garganta. Não era capaz de se permitir sentir nada. Enquanto não reencontrasse seu filho, jamais se permitiria a sentir algo. 

—Isso é algum tipo de brincadeira de mal gosto? —Amanda, ex-colega de orfanato e uma das mães das crianças perdidas perguntou, parecendo irritada. Todos os demais pais desceram do iate de Theodoro, o transporte que utilizaram para chegar à Terra do Nunca. Amanda cruzou os braços, aborrecida. —O que diabos está acontecendo, Louise?

—Fiz um barco voar por brincadeira, Amanda? —Louise revirou os olhos. Por algumas horas, do loft a sua casa, da sua casa ao cais e do cais a Terra do Nunca Louise acabou se esquecendo o quão irritante aquela mulher era. Lembrou-se do quão insuportável era a convivência com Amanda, que sempre aborrecia Louise por tudo e por nada. As duas nunca se deram bem. De todas as crianças que Louise conheceu no orfanato, Amanda era a única que não gostava de Louise e para seu aborrecimento, gostava de deixar isso bem claro. Amanda era cerca de dois anos mais jovem que Louise mas isso nunca a impediu de importunar a garota. Agora, Amanda era quase dez anos mais velha que Louise e isso estava a enlouquecendo.

Dezembro de 2008

Louise terminava de maquiar as crianças do orfanato. Apesar de pequenas, eram muito vaidosas. Louise nunca gostou de maquiagem, mas, gostava de deixar as crianças felizes. Não era nenhuma maquiadora profissional, mas, era capaz de fazer o básico, ainda mais em crianças, que não exigia algo muito elaborado. Todos estavam eufóricos para a ceia de natal, assim como Louise. —Certo, acho que acabei. —Louise pendeu a cabeça para o lado, analisando seu trabalho. —Não, acho que não. —Louise puxou Alice de volta e espalhou melhor o blush que havia passado na pequena garotinha. —Agora sim! —Sorriu, ao ficar satisfeita com seu próprio trabalho. Alice era a ultima das garotas que Louise tinha que maquiar e assim que a pequena saiu saltitando, suspirou de alivio. Mal podia sentir seus dedos, mas, estava feliz por todas estarem contentes. 

 —Já é minha vez? -A voz preferida de Louise perguntou do outro lado da porta. Louise soltou uma risada. O rapaz bateu na porta gentilmente e Louise apenas fez um sinal para que o rapaz adentrasse o cômodo. —Estava pensando em blush para me deixar um pouco corado e quem sabe um rímel para levantar meus cílios? —O rapaz perguntou, ironicamente, enquanto mexia no estojo de maquiagens que estava sobre a mesa próxima a janela. —Veio jogar na minha cara que seus cílios são mais bonitos que os meus? —Louise revirou os olhos, sorridente. As vezes se irritava em quão boba ficava perto do garoto, mas, não conseguiria esconder o que sentia nem mesmo se quisesse. O rapaz de fato tinha os cílios mais longos do que os dela, o que a deixava meio frustrada.

—Claro que não. —O rapaz entrelaçou os braços a cintura da garota. Apoiou seu queixo em seu ombro, com certo desconforto. Ela era mais baixa que ele, mas, não se importava com isso. —Só estou implicando com você. —O garoto sorriu, ao reparar no reflexo dos dois através do espelho. —Nós formamos um casal bonito, não acha? —O garoto questionou. Louise analisou o próprio reflexo junto a do rapaz pelo espelho e mostrou-se um tanto desconfiada. Arqueou a sobrancelha, olhando o reflexo de cima à baixo. Ela se achava bonita. Podia não ser a garota mais linda do mundo, e também não tinha ideia de quem fosse, mas, achava que tinha uma aparência agradável aos olhos. Em relação ao garoto, achava irritante o quão bonito ele era. Parte de sua beleza também estava em seu charme, o qual ele tinha de sobra. Louise não se achava charmosa. Era no geral, simpática. Simpatia atraia as pessoas. Louise achava simpatia atraente também. O rapaz já não era lá muito simpático, mas, ainda sim era bonito. Será que Louise era uma garota realmente bonita? —Sim... eu acho. —Louise respondeu, sem muita certeza.

De volta a Terra do NuncaOnde histórias criam vida. Descubra agora