Terceirão

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No momento em que estou escrevendo essa crônica, estou na terceira série do ensino médio e, ao chegar na reta final desse ano, começo a ter algumas reflexões sobre esses 15 anos da minha vida que passei na escola. 

Estudei a minha vida inteira no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, desde o maternal até agora, e nunca pensei em sair daqui para ir estudar em outro lugar. Nem se eu quisesse poderia pensar nisso, pois sou péssima em fazer amizades novas tanto que os meus amigos são praticamente os mesmos desde os meus dois anos de idade. Agradeço por essa estabilidade, dá aquela segurança de que nada vai mudar radicalmente e você sabe pelo que esperar no dia, na semana, no mês ou no ano seguinte. Mas agora, essa estabilidade está prestes a acabar. Não que eu ache que essas minhas amizades vão se desfazer junto com o final do ano letivo, muito pelo contrário, acho que a maioria vou levar para a vida toda. O que eu quero dizer é que quando janeiro acabar, não vou ter mais a minha segunda casa para voltar.

Quando janeiro acabar, não vou mais ser uma estudante retornando das férias. Quando janeiro acabar, não vou mais me reunir com meus amigos no fundo da sala para reclamar que nem queria ter acordado. Quando janeiro acabar, não vou mais dizer, na primeira oportunidade, que já quero férias. Quando janeiro acabar, eu vou ser... desempregada.

Quando janeiro acabar, essa bolha que me protegeu tão bem da realidade por todos esses anos vai finalmente se estourar e me jogar sem mais nem menos nesse mundo estranho que é a vida adulta.

Sempre achei que com os 18 anos deveria vir junto o Kit Maioridade: diploma da faculdade, carteira assinada, carteira de motorista, casa e carro próprios e, de quebra, sessões vitalícias com um psicólogo. Mas, infelizmente, a vida adulta é um carro desgovernado, que você não sabe como controlar e nem muito menos consegue achar um manual de instruções sequer. Você só vai começar a ter noção do que fazer com a direção depois de já ter batido em três postes, atropelado um cachorro e dois gatos.

Mas o que eu realmente quero dizer com todas essas reflexões é que aquela saudade da escola que sempre achei que nunca iria ter já começou a bater na porta. Claro que não vou sentir falta das matérias chatas, do medo de ficar de recuperação ou das tarefas e provas que parecem não acabar mais. Vou mesmo sentir saudade de encontrar os meus amigos todos os dias, rir das piadas dos professores, de roubar mangas com um pedaço de pau qualquer (esse causo fica pra outra hora), das convenções no banheiro feminino - as meninas sabem do que eu tô falando -, de compartilhar os lanches, de ouvir música nos intervalos e fazer da sala de aula a nossa festa particular e das várias outras pequenas e grandes aventuras que não cabem nessa crônica.

Parece que quanto mais o final do ano se aproxima, mais a realidade de terceirão se torna mais concreta. E o que é a realidade de terceirão? É quando a turma subitamente parece estar mais unida, é quando aquela sensação de pertencimento vem, é quando a esperança de que a turma vai continuar junta depois do último dia de aula começa a aflorar nos corações mesmo sabendo que isso provavelmente não vai acontecer. Eu sei muito bem que depois da formatura cada um vai pegar o seu gato pingado de amigos que cativou e vai seguir com a sua vida. Sei muito bem que no dia que quaisquer duas pessoas se encontrarem na rua muito provavelmente vão fingir que não se viram. Sei muito bem que o grupo do WhatsApp só vai durar mais alguns meses, talvez um ano, até que a primeira pessoa saia e o resto a siga (e talvez essa primeira pessoa seja eu).

Mesmo sabendo de tudo isso, não consigo deixar de ter uma fagulha de esperança, de ilusão até, de que tudo continuará igual. Minha turma não é perfeita, mas gosto de pensar que faço parte dela. E há uns bons dias comecei a fazer o vídeo da turma, então a saudade tá batendo mais forte. Mesmo sabendo que muito provavelmente nunca mais vou ver a grande maioria na minha vida, sou grata pelos bons momentos que passei com todos nesses longos 15 anos. Vou guardar cada momento com carinho e, se por acaso eu me esquecer de algum, vou ter os vários álbuns de fotos e o vídeo pra me lembrar.


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