Uma vez, em certa aula de álgebra, meu professor falou que matriz, assunto que estamos vendo, é o assunto mais fácil do Ensino Médio. Que, de fato, é. Ele também disse que até um aluno de sexto ano conseguiria entender, para enfatizar o quão fácil é o que ele está dando. Realmente, palavras mais verdadeiras nunca foram ditas. Depois de um ano sofrendo com a matéria, algo tão simples como matriz é um alívio para a mente cansada. Matriz é nada mais nada menos que uma tabela de números representada por uma letra maiúscula de ordem mxn (número de linhas e colunas) e de elementos aij (posição do número na tabela).
Imagine um tabuleiro de xadrez. Todos possuem oito linhas e oito colunas – ordem 8x8 – e esses números são fixos – assim como a ordem. Tomando pela perspectiva do jogador branco, as peças pretas estão nas linhas um e dois – i=1 e i=2 – e as peças brancas, nas linhas sete e oito – i=7 e i=8. Os reis branco e preto, as peças mais importantes do jogo, estão na linha oito e coluna cinco – a85 – e na linha um e coluna cinco – a15 –, respectivamente. Como pode-se perceber, o i corresponde à linha na qual a peça se encontra e o j, à coluna, podendo determinar especificamente a localização do elemento no tabuleiro. Da mesma forma funciona a matriz. Em um tabuleiro recém organizado, as posições das linhas três, quatro, cinco e seis – seriam muitos a's para escrever nesse comentário, então vou presumir que você entendeu quais são eles - são iguais a zero, pois não há peças em nenhuma delas. Um dos tipos de matriz que aprendemos nessa aula foi matriz transposta, que é quando as linhas da matriz original se transformam em colunas e vice e versa. Ainda usando a analogia desse parágrafo, é como se virássemos o tabuleiro de lado, fazendo com que as peças fiquem nas laterais. Se chamarmos o peão de 1, a torre de 2, o cavalo de 3, o bispo de 4, a rainha de 5 e o rei de 6, a matriz de um tabuleiro de xadrez e sua transposta seriam assim:
2 3 4 5 6 4 3 2
1 1 1 1 1 1 1 1
0 0 0 0 0 0 0 0
0 0 0 0 0 0 0 0
0 0 0 0 0 0 0 0
0 0 0 0 0 0 0 0
1 1 1 1 1 1 1 1
2 3 4 5 6 4 3 2
2 1 0 0 0 0 1 2
3 1 0 0 0 0 1 3
4 1 0 0 0 0 1 4
5 1 0 0 0 0 1 5
6 1 0 0 0 0 1 6
4 1 0 0 0 0 1 4
3 1 0 0 0 0 1 3
2 1 0 0 0 0 1 2
Como já disse anteriormente, um assunto tão simples quanto matriz é um alívio para a mente cansada. Matemática era minha matéria preferida até o quinto ano, quando por alguma razão, no sexto ano, os números decidiram comprar uma casa junto com as letras, formar uma grande família e viver juntos felizes para sempre. Esse é o tipo de casal de série que você espera que se separe para que a vida deles mesmos e dos outros personagens se torne mais fácil, como Ross e Rachell de Friends. Pelo menos eu nunca gostei deles juntos. Não me odeiem, é só minha opinião. Enfim, voltando para matemática, as coisas começaram a complicar no Ensino Médio. Para que precisamos saber de funções e de funções seno e cosseno e de várias outras coisas inúteis que eu não consigo lembrar agora? São tantas coisas que nunca mais vamos usar na vida e são tão complicadas e confusas. E é por isso que sou de Humanas, não entendo Exatas. Tanto que no ENEM do ano passado, no segundo dia, eu acertei somente trinta e sete das noventa questões.
A vida deveria ser fácil como matriz, simples como um tabuleiro de xadrez. Mas ao invés disso, a vida é feita de funções confusas e inúteis que você não sabe por onde começar quando se depara com a prova e a única resposta que você sabe é o seu nome. Quantas vezes você terminou uma prova e foi para casa achando que iria tirar um dez e no dia de receber, viu que na verdade tirou um cinco? Assim também é a vida. Quando você finalmente acha que está indo na direção certa, você descobre que está indo em direção a uma cachoeira enorme ou a um beco sem saída. A vida é, às vezes, como aquela aula de matemática que você não está entendendo porcaria nenhuma do que o professor está falando, mas mesmo assim você acena a cabeça lentamente com uma expressão vazia quando ele pergunta se a turma entendeu. Você quer entender, se esforça para que as peças se encaixem na sua cabeça, mas não importa o quanto você tente, as palavras simplesmente entram por um ouvido e saem pelo outro, sem serem absorvidas.
Muitas vezes também, é como se você fosse o rei. O rei é a peça mais importante do xadrez, mas ao mesmo tempo é a mais inútil. Ele só pode, ainda que em todas as direções, andar uma casa por vez, não consegue se defender sozinho, é facilmente encurralado pelas outras peças e ainda só se move nos quarenta e cinco do segundo tempo, isso se ele se mexer. Ele consegue ser até mais inútil que um peão. O peão pelo menos pode se transformar em qualquer peça que queira se chegar ao final do tabuleiro e é o que geralmente toma a iniciativa de começar o jogo. Cá entre nós, ninguém quer ter um rei na sua vida, não é mesmo?
Tendo dito tudo isso, acho que depois de conseguir comparar matemática com um tabuleiro de xadrez e, sem ainda estar satisfeita, criar metáforas filosóficas para a vida com essas coisas tão distintas, é preciso terminar o texto.
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O lado Crônica da Vida
Short StoryUm livro recheado de crônicas sobre assuntos e reflexões da vida cotidiana. Leituras curtas para quem tem o tempo curto. Venha se identificar com essas histórias e se divertir bastante com elas.