Uma xícara de café

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Você, que entrou na minha vida e decidiu ficar, obrigada. Você olhou a minha fachada e, enquanto muitos passaram direto, julgando ser mais uma casa comum sem nada de especial entre outras milhares, entrou como quem não quer nada, com cuidado, talvez até se surpreendendo pelo interior ser um tanto diferente do que imaginava. E mesmo assim quis ficar.

Você deixou os sapatos na porta para não trazer sujeira da rua, se aconchegou no sofá velho e pediu um café. Enquanto bebia, ia me perguntando a história de cada coisa que via. Com gentileza, tentava não me incomodar com perguntas sobre as bagunças que eu tanto me esforçava em esconder, preferindo focar a conversa nas coisas pequenas, mas importantes, que ficavam à mostra nas estantes. Eu te disse que gostava de guardar uma lembrancinha de cada pessoa, de cada momento que passava por aqui e que, se ficasse mais um pouco, só mais um pouquinho, também teria algo seu para ser exposto com muito carinho, zelo e orgulho. Nessa hora, pude jurar que vi os seus olhos brilharem. E, por algum motivo que talvez eu nunca vá entender, você quis ficar.

A conversa foi se animando e você me pediu para conhecer o resto da casa, o que fiz com muita animação, pois já havia um tempo que não recebia visitas demoradas. Você não se importou com os cômodos escuros ou com os cantos empoeirados e não se magoou com certas portas que não quis te abrir. Não quis saber do baú velho escondido nas sombras e nem perguntou o motivo de ele ter tantos cadeados. Mais tarde, me disse que deveria ter um porquê de tanta proteção e, não querendo me pressionar, deixou pra lá. Curiosamente, seus olhos só se prenderam em pequenas coisas cintilantes e coloridas pelo caminho, que por acaso me eram muito queridas. Minha coleção de momentos estava espalhada por toda a casa e você ouviu com atenção o meu tagarelar sobre cada aquisição. E, ainda assim, você quis ficar.

Você notou que alguns quartos eram muito diferentes uns dos outros e, achando isso estranho, humoradamente me perguntou o estilo de decoração que eu seguia. Rindo, respondi que quando um quarto não combinava mais comigo, eu ia atrás de outro e o deixava de um jeito que refletisse como eu me sentia. "Por que não só redecorar, então?" "Pra servir de lembrança e pra de vez em quando poder revisitar." Não sei se você concordou com a minha abordagem arquitetônica, mas a entendeu e a aceitou. Enquanto passávamos por um corredor mais iluminado, um certo quarto te chamou a atenção. "Quer ficar com ele?"

A essa altura do campeonato, a xícara de café já tinha se esgotado várias vezes, mas sempre que ela ameaçava se esvaziar, você pedia mais um pouco e, assim, continuávamos caminhando lado a lado. Entre risadas e confissões, me disse que ficaria enquanto a xícara estivesse cheia e então eu jurei nunca deixar te faltar café.

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