Eu nunca paro de falar quando eu não sei o que falar.
Eu já me perdi e me encontrei muitas vezes e em todo esse tempo de autodescoberta eu descobri que eu gosto muito de conversar,mas eu não sei como me fixar em apenas um assunto,digamos que eu e você estamos conversando sobre bolo,eu vou começar a falar sobre bolo,sobre como fazer,os recheios que eu gosto,os recheios que eu não gosto e no final de alguma forma eu vou acabar falando sobre como eram feitos os bolos na era da escravidão e como a Barbie fez os bolinhos dela no início da escola de princesas. Isso porque quando eu era mais nova eu não sabia conversar,eu tinha uma uma fobia social muito grande,em um nivel de querer chorar quando alguém perguntava a minha opinião sobre qualquer assunto,isso me fez criar uma personalidade antisocial,mas não por opção eu simplesmente não sabia,eu queria conversar mas ficava tão constrangida que sentia vergonha em demonstrar o que eu sentia,o que me fez levar muito tempo para descobrir esse pedaço de mim.
Na oitava série,eu sentava na terceira carteira do fundo na segunda fileira a direita,eu sentava perto do grupo mais sociável da sala,viviam conversando e fazendo piada,eu podia ser tímida mas também era estressada,até um pouco agressiva,mas isso porque eu não suporto que as pessoas invadam meu espaço pessoal sem meu consentimento,juntando com a minha falta de comunicação isso dava uma grande abertura para o bullying,que eu sofria bastante na época,mas no fundo eu sei que boa parte foi culpa minha,porque como eu não sabia o que falar eu reagia de forma agressiva,xingava,brigava ou era muito grossa,porque eu simplesmente não sabia falar "Para por favor".
Naquela época eu fiz uma amiga mas eu não sabia,porque junto da minha personalidade antisocial e agressiva eu também era facilmente influenciável e muito submissa,porque eu não sabia conversar,não sabia me expressar de forma descente então eu tentava agradar as garotas para sentir que eu fazia parte do grupo,fazia favores,dava doces e até presentes para tentar fazer elas gostarem de mim e acho que no final deu um pouco certo porque eu fiquei bem "Próxima" de uma garota que vamos chamar de Janny a partir de agora,a Janny era bonita,sociável e conversava com todo mundo,eu adorava ficar a li no fundo escutando as conversas mesmo que estivesse atrapalhando a minha leitura, mas um dia ela e amiga dela Mandy estavam conversando e do nada ela me perguntou "Fada você já beijou?" eu muito constrangida,sem saber como responder direito disse "Não..." e mesmo que com um desconforto da minha parte a conversa continuou;
" Nossa sério?" Diz ela surpresa.
"Sim..." Digo com a voz trêmula.
"Ah então vamos resolver isso,qual o seu tipo de rapaz?" Diz ela divertida.
"Eu não sei,acho que qualquer um... " Isso era uma grande mentira porque eu lembro nitidamente que naquela época eu era apaixonada pelo Pelanza da banda Restart.
"Ah mas não pode ser qualquer um,você tem que gostar de alguém"
"Não...acho que qualquer um..."
Ela fica um pouco irritada com as minhas respostas,mas quem não ficaria? Mas a pior parte de toda essa situação foi quando ela vira para um colega sentado ao lado dela e coloca no meio da conversa.
"Então você ficaria com o João?"
Eu olho para o garoto nessa hora,ele era negro,alto magro e vestia uma roupa de funkeiro de época,o clássico moletom e shorts tactel,ele estava todo largado na cadeira e quando ouviu a pergunta dela me olhou com uma cara de deboche meio desdenhoso,eu percebendo a reação dele tentei falar que não fingindo ter entrado na brincadeira,mas no fundo isso me chateou tanto que estamos em 2021 e eu ainda lembro dessa cena, depois desse constrangimento ela e a amiga dela voltaram a conversar,mas a questão é que ela tentou me incluir no assunto e não parou quando eu não sabia o que falar,acho que se eu tivesse aprendido a falar quando eu não sabia o que falar eu teria conseguido mais pessoas com quem eu pudesse conversar.
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1999 (A eterna busca por uma identidade)
ContoPassar pela adolescência é algo difícil,ao contrário da ficção o colegial não é algo maravilhoso onde você sai com milhares de histórias boa e amigos para a vida inteira,no Brasil vários jovens saem da escola e sempre se perguntam "E agora?",eu fui...