"'Thalia deu a vida dela para salvá-lo', disse eu rangendo os dentes. 'E é assim que você retribui?'
'Não fale de Thalia!' berrou ele. 'Os deuses a deixaram morrer! Essa é uma das muitas coisas pelas quais eles pagarão.'
'Você está sendo usado, Luke. (...) Não dê ouvidos a Cronos.'
'Eu estou sendo usado?', a voz de Luke ficou estridente. 'Olhe para você mesmo. O que o seu pai já fez por você?'"
Percy Jackson e os Olimpianos: O Ladrão de Raios
—
Agora, finalmente, tudo havia se encaixado com perfeição, de uma maneira que nem a própria filha de Atena poderia ter imaginado. Lembrava-se do encontro com Luke no Princesa Andrômeda há meses atrás, quando recém haviam partido em busca de Grover e o Velocino. Se Thalia estivesse viva, estaria do meu lado, ele dissera convicto, como se a própria garota tivesse lhe dito tal coisa. Como se apostasse tudo que tinha naquilo.
Annabeth, por outro lado, não tinha convicção ao negar a afirmação. Na época, as palavras de Luke fixaram-se em sua cabeça, juntamente com a tentativa de descobrir antecipadamente sobre o que ele falava: Se você soubesse o que ia acontecer, entenderia...
E tudo que ela queria era entender. Ela não sabia como Luke, seu Luke, havia feito tudo aquilo. Abandonado-a, como se não se lembrasse da promessa que fizera cinco anos atrás, como se não se importasse com sua única família, justamente quando haviam perdido Thalia e mais precisavam um do outro.
Alguns meses depois, as peças se encaixaram. Tudo fez sentido no exato momento em que viu Thalia caída ao lado do pinheiro, parecendo morta.
Esse era o motivo para ele ter deixado que o Velocino chegasse ao acampamento. Era por isso que havia envenenado o Pinheiro de Thalia. Ele nunca quis machucá-la ou desonrá-la. Mas sabia que aquilo era necessário para tê-la de novo.
Annabeth sentiu uma dor no peito, como se uma mão fria apertasse seu coração. Não pôde conter as lágrimas que se formavam em seus olhos acinzentados. Com as costas da mão, ela limpou o rosto, engolindo o nó que se formara em sua garganta.
Por mais que suas intenções por trás do ato não fossem das mais nobres, Luke havia salvado-a. Ele trouxera Thalia de volta à vida e agora esperava que ela ficasse ao lado dele, como sempre ficara mesmo muito antes de Annabeth os conhecer. Ele havia se arriscado tanto para tirá-la daquele estúpido pinheiro, que o mínimo que o garoto esperava era que ela o apoiasse.
Annabeth ainda não tinha conseguido uma oportunidade de conversar com a velha amiga. Ela tremia, febril nos braços de Percy enquanto ele a levava para a Casa Grande. Quíron a colocou em uma cama e começou a tratá-la com néctar e ambrosia, aconselhando Annabeth que deixasse que a garota se recuperasse completamente antes de contá-la o que havia acontecido.
O momento estava chegando rápido demais. Annabeth temia que Luke estivesse certo. Temia que Thalia também se revoltasse contra os deuses, seus pais que nunca fizeram nada por eles. E sabia que Luke acreditava que, se Annabeth visse ele e Thalia juntos novamente, iria querer juntar-se a eles, exatamente como nos velhos tempos.
Família.
Mas ela sabia que não poderia fazer isso. Lembrou-se das palavras que sua mãe havia lhe dito em um sonho, tão nítido que mais parecia uma lembrança. Lembre-se, Annabeth: os deuses têm maneiras muitas vezes incompreendidas de manifestarem-se, mas posso certificá-la que estamos sempre zelando por nossos filhos.
O que a filha de Atena realmente queria era ir atrás de Luke e convencê-lo de que estava errado, de que eles poderiam ter Thalia de volta sem revoltarem-se contra os deuses. Queria explicá-lo que se um filho dos três grandes caísse nas mãos de Cronos, a destruição do Olimpo seria praticamente inevitável.
Mas Annabeth sabia que Luke não se importava com o Olimpo, ou com sua família divina.
Ele queria Thalia de volta, a única constante em sua vida desde seus treze anos, e a única pessoa com quem ele realmente se importava. Já havia ido mais longe do que qualquer um esperava que fosse, e não iria desistir agora.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Família, Luke
Romance"O rosto dele contraiu-se em uma dor tão intensa que até ela pôde sentir. Havia um laço entre eles, um laço criado há seis anos, quando eram crianças correndo pelo país em busca de proteção. Um laço que fazia com que ela sorrisse quando ele gargalha...