Quatro

255 32 19
                                    


Aquela revista o encarava desde que a tinha trazido do atelier de Namjoon no dia anterior. Por mais que Jeongguk contestasse os motivos pelos quais ele insistiu em trazê-la, falhava miseravelmente quando abria na página onde estava aquela foto. A beleza de Taehyung era indiscutível e ele notara isso desde o dia do trote. Porém, observar seus traços numa fotografia, obviamente estática, o deixava ainda mais ávido por desenhá-los em um pedaço de papel.

Se tivesse pensado melhor, não usaria seu sketchbook para desenhar Kim Taehyung, mas Jeongguk era impulsivo em algumas raras ocasiões. Nem lhe passou pela cabeça a possibilidade do dono da face ver o desenho que o retratava. Quando se deu por si, já havia desenhando algumas linhas e várias delas formavam um esboço daquele belo rosto. Jeongguk não conseguia segurar a vontade de desenhar rostos interessantes quando se deparava com um e isso era normal para ele, tanto que possuía diversos desenhos de seus amigos e também de pessoas aleatórias. Mas nunca havia sentido tanta ânsia em ver um rosto ser desenhando por suas próprias mãos. Queria ver os traços de Taehyung se misturarem com seu estilo próprio de desenho, inerente a si desde que passou a esboçar figura humana.

Gostava do desafio que era manter suas manias enquanto desenhava e ainda assim conseguir retratar a pessoa que queria. Demorava-se especialmente nos olhos, herança do gosto por mangá. Gostava muito de deixar os olhos bem expressivos e detalhados, pois acreditava que eles eram de fato como janelas para o que a pessoa estava sentindo.

Os olhos de Taehyung eram especiais, pois apesar de parecem janelas fechadas, que não o permitiam entender o que se passava dentro do garoto, o atiçavam a curiosidade sobre o que escondiam. Aqueles olhos castanhos muito o intrigavam e o encantavam ao mesmo tempo.

Suspirando, tratou de fazer os detalhes dos olhos e parou para observar o desenho. Ainda era um misto de linhas e rabiscos, onde o traço escurecia e ficava mais firme apenas nos olhos. Jeongguk fechou o sketchbook assim que percebeu que estava se perdendo em seu próprio desenho. Era indecifrável a maneira como Taehyung o tinha tão fissurado por si em tão pouco tempo, Jeongguk se sentia perdido num grande mar desconhecido. Fechou também a revista e tratou de se levantar da cama. Tinha que se arrumar para a faculdade e ficar pensando no veterano não o levaria a nada.

Enquanto se vestia, se lembrou do que havia conversado com Namjoon em seu atelier. Seria muito bom para ele se Taehyung modelasse suas criações na exposição. Namjoon era muito talentoso, mas vivia reclamando do favoritismo dos seus professores e de como suas peças não recebiam a atenção que ele gostaria de receber. Ele sabia o quanto o garoto se esforçava e queria ajudá-lo. Ter Taehyung como modelo era uma forma de chamar atenção para seu trabalho, e Jeongguk era a única pessoa que podia fazer a ponte entre eles, já que Namjoon disse que jamais tentaria.

Era difícil se imaginar se aproximando de Taehyung e lhe fazendo essa proposta, mas Jeongguk não tinha nada a perder. Seu coração bateu acelerado só de pensar nisso. Não se sentia pronto para tal coisa, apesar de ter descoberto um outro lado de Taehyung naquele dia no atelier. Ele por ter sido mais amigável com ele, mas não era garantido que seria sempre assim.

Taehyung era muito confuso, parecia um cubo mágico de várias combinações.

Porém, falar com Taehyung para ajudar Namjoon era uma possibilidade de melhorar a si próprio. Afinal, Hoseok o havia dito que era saudável lançar desafios para superar medos e bloqueios. Ele já havia falado com o veterano antes, pedir um simples favor não devia ser tão difícil.

Sentiu o olhar de Yoongi sobre si enquanto colocava seu par de timberlands, já perto da porta de saída do apartamento. Seu irmão o olhava como se tivesse percebido seu debate interior. Jeongguk mostrou-lhe um sorriso e se levantou, colocando a mochila nas costas e jogando a cabeça para o lado a fim de tirar as mechas da frente de seus olhos. Yoongi retribuiu o sorriso e bagunçou seus cabelos, fazendo com que as ditas mechas caíssem novamente em frente a seus olhos.

Azul46Onde histórias criam vida. Descubra agora