Nove

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Onde quer que ele estivesse naquele sonho, era um lugar aberto e arejado. Na verdade, sentia-se nas nuvens, ou deitado em uma superfície tão macia quanto. Uma brisa fraca passou por si e fez seu corpo estremecer. Arrepiou-se e tentou se virar, sentindo finalmente aquela preguiça gostosa depois de uma noite bem dormida. Aquilo só podia ser um sonho. A lembrança da pele macia debaixo de seus dedos não parecia algo possível de ser real. Todas as sensações, os sons que a voz grave emitia a cada toque, o peso do corpo alheio sobre o seu, aquilo não poderia ser real.

Poderia?

Uma onda de prazer invadiu seu corpo assim que esticou os braços e as pernas, alongando-se debaixo de uma camada fina e macia que cobria apenas seus pés. Certo, estava deitado em uma cama. Mas isso não explicava a brisa. Tateou a superfície macia com uma das mãos, notando a frieza do colchão ao seu lado. Só podia ter sido obra da sua cabeça, no final das contas.

O que teve com Taehyung na noite anterior, não tinha como ter sido verdade de qualquer forma.

Um barulho abafado o chamou a atenção. Ao ouvi-lo novamente, Jeongguk percebeu que o som era muito similar ao som que seu celular fazia vibrando em cima da mesa. Abriu os olhos lentamente, sendo outra vez acolhido por uma grande foto de Kim Taehyung.

Talvez não tivesse sonhado aquilo, pelo menos não tudo aquilo.

Piscou os olhos, pesados devido a sonolência, e se virou na cama. Taehyung não estava lá, de qualquer forma. Jeongguk não sabia exatamente o que ele esperava. A ideia de acordar ao lado de Taehyung parecia ridícula agora. Obviamente ele tinha coisas melhores para fazer depois de passar uma noite com Jeongguk.

Que patético e inocente ele era.

Sentou-se na cama, esfregando os olhos. Não devia ter dado ouvidos aos seus hormônios. Parecia certo na hora, e uma grande parcela de seu ser ainda concordava com aquilo tudo. Porém alguma coisa estava errada, Jeongguk não conseguia responder a si mesmo exatamente o que era.

Seu celular estava em cima do criado mudo de Taehyung. Junto a ele havia uma pera bem amarela. Não lembrava onde exatamente havia ficado seu celular antes de arrancar as roupas do corpo, então provavelmente Taehyung o colocara ali. Sorriu com aquilo. Sabia que era bobo ficar esperançoso com um sinal como aquele, mas o simples fato do modelo ter procurado seu celular e deixado junto a ele uma fruta era mais do que prova de que ele ao menos pensou em Jeongguk antes de sair. Pegou o aparelho e notou uma porção de notificações. Abriu primeiro o chat do kakao com Taehyung, que não falhou em causar um sorriso em sua face marcada e inchada de sono.

AngelTaeTae:

Tive que sair mais cedo de casa, babe. Eu ia te acordar, mas você estava tão bonitinho dormindo que não tive coragem. Deixei uma toalha e uma muda de roupas em cima da cadeira, acho que vai ficar bom em você. Eu te vejo na faculdade <3

Jeongguk não conseguia mais segurar o sorriso. Não que ele quisesse escondê-lo, afinal, estava sozinho no quarto. Queria provar de toda e qualquer forma para si mesmo que as coisas com Taehyung estavam caminhando para algo real.

Real.

Finalmente estava se sentindo dentro de algo real, diferente das outras relações que teve até ali. Tirando seus laços com sua família, seus outros relacionamentos não tinham nada de muito real. Eram relações superficiais e frágeis, que logo tiveram seu fim assim que a conveniência já não existia mais. Ele não queria nada disso com Taehyung. Pela primeira vez em muito tempo, queria construir algo significativo com o outro. Não queria que Taehyung fosse só mais uma pessoa que um dia passou por sua vida.

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