Capitulo 6

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"Eu sei cara. Ás vezes minha ruca* usa a mesma porcaria. Ela se esfrega em mim e não consego tirar aquela porcaria por dias"
( Spooky, episódio 2, 1 temporada)

PRESENTE

Até receber a ligação do primo, Amália estava cansada, porém feliz.
Ela voltava de uma festa infantil em Brentwood, em que fora contratada como  contadora de histórias, uma fada contadora de histórias, mais especificamente. Apesar da distância, ela precisava do dinheiro, já que o ano letivo, e seu trabalho como professora não tinha iniciado.
Era o meio da tarde, o sol brilhava implacável, e quase não havia nuvens no céu. A brisa que entrava pelas janelas abertas do velho Chevrolet Monza  sacudia seus cabelos, e ela se sentia relaxada como não se sentia desde que soubera dos problemas de sua mãe. Freeridge nem parecia tão ruim assim E então, Jamal ligara. 
E ela se sentiu  apenas uma pessoa irada em uma fantasia ridícula.
— Desgraçado!

Spooky estava tranquilo em frente à sua casa na companhia de Joker e Sad Eyes quando o carro preto entrou na rua. Apesar de surpreso, ele se manteve impassível quando o veículo parou do outro lado da rua e dele saiu Amália. Ele até mesmo tentou se manter sério enquanto os outros dois membros dos Santos riam da fantasia da garota, mas conforme ela se aproximava, não pôde evitar um meio sorriso: ela era linda até com um corselete verde e uma saia rosa.
Amália fingiu que não se importava com as risadas dos antigos conhecidos, mas mentalmente agradeceu por deixar suas asas no carro. Fada ou não ela ia matar Spooky.
— Ei, cabrón! — ela insultou, enquanto caminhava até ele.
Isso cessou as risadas de Sad Eyes e Joker.
— Mentiroso de mierda!
Os companheiros de Spooky se levantaram. Não se colocava em dúvida a palavra  do líder dos Santos.
Com um olhar, no entanto, Oscar os mandou para dentro, bem a tempo de evitar o soco que Amália tentava desferir em seu rosto. Ele segurou suas mãos .
— Você está louca?
De perto, era possível ver que ela usava uma maquiagem com glitter próxima aos olhos.
— Antes eu estivesse! — rugiu ela — você prometeu, você disse que o César não entraria para a gangue!
—Eu prometi que não ia obrigar. Mas ele quis!
Ele soltou os punhos dela, vagarosamente, porque parecia que o fogo dos seus olhos estavam sob controle.
— Para te agradar, idiota! Ele só quer te agradar!
Spooky deu de ombros, fingindo que aquilo não o atingia.
— Eu era mais novo que ele quando entrei para os Santos.
Dessa vez Amália riu
— Como você é cretino! Por que seu pai estragou sua vida, você quer estragar a do César também?
— Não fala do que você não entende. Eu não sou igual meu pai, eu criei o César.
— Eu te ajudei a criar o César...
— Você não é nada dele!— vociferou Spooky, perdendo a paciência — Ele é meu irmão! E você não é nada dele, nada minha!
A maioria das pessoas teria corrido na direção oposta  se visse Spooky assim, mas Amália se recusava a dar um passo atrás.
— Eu odeio você! Você não é nada, nada...
Então Spooky a beijou.
Talvez ele só não quisesse ouvir as palavras que doíam demais, talvez ele só pretendesse  provar que ela estava errada, ou talvez  só desejasse  sentir os lábios dela sob os seus, só mais uma vez.
O certo é que, ao contrário do dia da festa, ele esperava um tapa, e não uma correspondência entusiasmada. A boca dela se abriu para que as línguas se encontrassem, suas mãos agarraram a nuca de Oscar e ela não o rejeitou quando ele enlaçou sua cintura.
Era como alguém que, estando perdido há muito tempo, tivesse finalmente encontrado o caminho de volta para casa. As mãos dele deslizaram pela lateral do corpo de Amália , enquanto sentia a moça tocar seu ombros e seus braços. Seus lábios percorreram a região do pescoço dela, onde seu perfume era mais forte.
Amália notou que o beijo de Oscar ainda tinha gosto de menta, e seu coração ainda acelerava sob seu toque, num misto de calor e fúria. Perdida na bolha de sensações da pele que se arrepiava onde seus dedos passeavam, ela não se importou quando as mãos dele deslizaram por sua bunda e se sentiu especialmente feliz, quando prendeu as pernas ao redor da cintura de Oscar e pôde sentir, mesmo através das camadas de tecido, o querer compartilhado.
Uma buzina de carro e palavras rudes foram ditas por algum motorista, e ainda assim eles não se importaram. Sem se livrar daquela que o prendia, Oscar caminhou para dentro,. Se havia alguém na sala que viu a cena, ele não percebeu. Movimentavam- se assim, como um monstro de duas pernas e muitos braços, até o quarto dele, onde Oscar recuperou a lucidez. Com cuidado, levou Amália até sua cama.
— Hyna... — havia tanto a dizer, mas ele não sabia por onde começar. Tantas desculpas a dar, afinal. Ela colocou o dedo sob os lábios dele.
— Eu não quero discutir, Oscar...
O nome dele, como antes. Não Spooky, ou qualquer xingamento. O nome dele, pronunciado cheio de sentimento, como antes.
Ele voltou a beijá-la, os dedos tentando abrir os nós do corselete, enquanto ela o ajudava com suas roupas. Quando os corpos finalmente se uniram, sem hesitações, foi igual e diferente, como andar em um velho caminho, mas reparando  nos detalhes da paisagem pela primeira vez.
Amália sentia as ondas fluírem em poderosas descargas de emoção: atração, amor e ressentimento se misturavam até que tudo se aquietou.
Embaixo dos lençóis, Oscar a abraçara depois do amor, e dormia um sono leve. Ele sempre fora secretamente afetuoso, embaixo do armadura que tinha construído para si.
Algumas coisas nunca mudavam, afinal, pensou Amália antes de  finalmente ceder
ao sono. Fazia sol lá fora.

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Glossário:
* ruca : mulher, companheira, namorada.

My Ride or Die ✨OMB SpookyOnde histórias criam vida. Descubra agora