O vento pairava sobre a copa das árvores naquela tarde.
Não diria que o céu estava bonito, muito provavelmente choveria no mais tardar, mas não foi o suficiente para impedir que todos ali daquele bairro familiar parassem de cumprir com suas obrigações rotineiras.
Podia-se ouvir os gritos das crianças brincando naquela tarde, baleô e amarelinha estavam entre as brincadeiras mais famosas e disputadas naquela época. O céu estava colorido por várias arraias. Tudo completamente normal para um sábado à tarde.
Naquela rua haviam poucas casinhas, das mais variadas cores, mas uma em especial que eu quero vos contar, ficava muito bem localizada e aqueles que ali moravam eram de um valor ímpar.
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Éramos uma família de 14 filhos, grande, não é?
Eu era a quarta filha, minha mãe se chamava Ilza Oliveira, uma mulher muito bonita, forte e de uma garra exemplar. Já o meu pai, bom, o seu nome era Edvaldo Argollo, um homem bom e que por muito admiro. Ambos formavam a dupla das pessoas mais fascinantes que eu conhecia.
Posso dizer que um dos momentos mais bem requisitados por mim, eram quando nos deitávamos em grupos, no chão da sala, todos juntos e misturados naquele local onde por mais uma vez se transformava em um cenário dos mais variantes contos, que ao meu ver, se tornavam cada vez mais inesquecíveis.
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Quando eu fiz 15/16 anos, comecei a compreender um pouco sobre a história da vida do meu pai. Nascera em Acupe, cidadezinha localizada próxima de Santo Amaro, Bahia.
Era o mais velho dos irmãos.
Aos 18 anos de idade, se alistou na marinha e a partir dali ingressou na sua carreira de marinheiro.
Prestou serviço a marinha do Brasil a partir do ano de 1944 a 1952.
Durante todo esse tempo, ficou a bordo do Cruzador Bahia, viajando de norte a sul numa situação até perigosa, tomando conta dos navios que trafegavam do Sul do Brasil para o Norte e assim vice-versa.
O serviço que ele prestou foi exatamente na época da guerra.
O navio em que ele estava ingressado foi para o Rio de Janeiro, chegando lá, meu pai teve a necessidade de fazer uma cirurgia nas amígdalas, foi para o Hospital Central da Marinha realizar esta operação.
O navio saiu do Rio de Janeiro com destino à Recife, ao todo contabilizava 700 e tantos marinheiros a bordo.
O que aconteceu foi que, após a explosão da caldeira - que fica localizada na parte de trás do navio - foram encontrados 7 náufragos em balsas, ou seja, dos 700 restauram 7 e desses sobraram 2, porque os outros 5 após dias de fome e sede sobre o mar, ficaram fracos, loucos e assim, morrendo. Os que sobraram foram aqueles mais fortes, esses que ficaram para contar a história. Se o meu pai não tivesse passado por aquela cirurgia de emergência, teria vivenciado esse desastre e se este livramento não houvesse, eu não estaria aqui contando o ocorrido.
Certa vez, meu tio Evilásio - irmão do meu pai - me contou que quando ele ingressou na marinha e foi também para o Rio de Janeiro, resolveu fazer uma visita ao meu pai, lá foi informado que o meu pai iria pedir baixa da marinha e voltar para Salvador, afim de se casar com aquela que, futuramente, viria a ser, minha mãe.
Mais para frente, se cumpriu o que foi prometido por ele.
Após vir para Salvador, ingressou nos Correios, como radiotelegrafista, casou-se e teve muitos filhos.
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Orgulho de um ex-combatente
Non-FictionO vento pairava sobre a copa das árvores naquela tarde, não diria que o céu estava bonito, muito provavelmente choveria no mais tardar, mas não foi o suficiente para impedir que todos alí daquele bairro familiar parassem de cumprir com suas obrigaçõ...