Capítulo 2

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Lembro-me que meu pai sempre gostava de nos levar para passear aos finais de semana em um jeep prateado com tinta queimado pelo sol que ficou cinza, o seu volante era um timão de barco, o motor tinha mais arames que uma cerca, possuía buracos no teto e no chão, muitas vezes ele parava no meio da rua e tínhamos que descer para empurra-lo em plena luz do dia.

Em um determinado ano, na data do 2 de julho, o carro que puxava a cabocla - símbolo da Independência da Bahia -, quebrou. A imagem ficou decepada, precisou ser substituída por uma bela jovem de carne e osso, tinha belos cabelos e um corpo estrutural. Foi meu pai com seu jeep que completou o percurso Liberdade/ Campo Grande.

Naquela época, eu não tinha a dimensão do vexame que passávamos, mas hoje, já madura, tenho ideia da situação.

Era uma diversão.

Sempre sobrava para as 5 filhas mais velhas empurrarem o carro.

Me recordo também de como tinha a impressionante capacidade de recriar e substituir peças quebradas por objetos reciclados que se transformavam em exuberantes e inigualáveis obras de artes.

Protetores de lâmpadas feitos com improvisos de tampas de panelas, pratos plásticos, vasilhas de margarina, entre outros. Podiam até não ter uma boa aparência, mas davam certo para tal finalidade.

Quando uma das minhas irmãs mais novas ganhou um neném, ele criou um tubo comprido que era adaptado do 1º andar onde morava até o térreo da casa dela, sendo assim batizado como " tubo fone ". Assemelhado a um berrante - instrumento usado para conduzir a boiada de um destino a outro - que soava aos ouvidos e ali se dava para trocar informações.

Orgulho de um ex-combatenteOnde histórias criam vida. Descubra agora