workaholic

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Escrever é um impulso irrefreável. Faço o tempo todo. Digo, com certa segurança, que passo ao menos dez horas do dia escrevendo, mesmo em dias que não me sento na frente do computador. Entro no banho, saio com uma cena. Conheço uma nova pessoa, desenvolvo um personagem. Visito um lugar pela primeira vez e imagino como o descreveria no papel. Passo o dia inteiro buscando singularidades. Pequenas pérolas do cotidiano que, no texto, viram poesia.

Que delicioso é esse impulso. Sinto que treinei tanto o meu olhar que já não consigo perceber sem escrever. Do mesmo jeito que não consigo mais ler sem notar as intenções de um autor por trás das palavras. É um trabalho de artesão, mesmo. Michelangelo disse uma vez que a obra já estava ali, dentro do bloco de mármore. Ele a via claramente. O ato de esculpir era apenas libertar a estátua de lá. Acho que com os livros é um pouco assim também. O livro já mora dentro da gente. Sentar, pensar, digitar... é apenas o ato de escolher as palavras certas pra moldar a história que nós já compomos. A gente não escreve com os dedos, nem com o cérebro. A gente escreve é com a vida inteira.

Li em algum lugar que o escritor nunca tira férias. É verdade isso, a gente não consegue desligar o filtro da literatura, da arte, e ver o mundo como víamos antes. Mas que bom. Não quero férias deste olhar. Redescubro o cotidiano a cada dia, desvendo universos nos livros, construo os meus e, através deles, conheço a mim mesma. Que sorte ser escritora. Só hoje, já fui umas cinco pessoas. Ainda agora a pouco, estava sendo criança. Fui à Itália de manhãzinha, enquanto fazia exercícios. No banho, visitei Busan. Passo o dia todo assim, transitando por personagens, lugares, reflexões. Às vezes, escrevo até enquanto durmo.

Esse texto mesmo, escrevi enquanto secava o cabelo.



texto escrito agora mesmo mas vivido hoje mais cedo

14 de setembro, 2021

Quimera LiteráriaOnde histórias criam vida. Descubra agora