Sobre Incógnito e romances policiais

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Se eu não contar todas as zilhões de fanfics de romance e fantasia que li na última década (acho que até um pouco mais que isso) posso garantir com toda a certeza que o gênero literário que eu mais consumi nessa vida foram os romances policiais.

Todo mundo, bem lá no fundo, se acha um pouco detetive. É isso que move os leitores dos romances policiais, sempre em busca de um novo mistério pra desvendar. O mercado é gigantesco, vende muito, não faltam leitores. Os homo-literatus e eruditos de plantão pensam que 90% do gênero é composto de porcaria comercial, "receita de bolo". Que se danem eles.

Mas queria encontrar a tal receita de bolo, de verdade. Onde está o grande escritor que vai me fazer um manual passo-a-passo de como escrever um romance policial? Eu estou à procura!

Tendo em vista meu próximo projeto, passei as duas últimas semanas pesquisando sobre o gênero... é a mesma coisa de sempre. As dicas do especialista (aquele que no final termina com "quebre as regras!", você sabe), as estruturas de três atos, estrutura de 12 capítulos, escreva-o-crime-antes, salve o gato, encontre suspeitos plausíveis, encontre motivações, coloque mentiras nas bocas dos personagens, invente álibis nem-um-pouco-confiáveis, crie um assassino gênio, crie um detetive mais gênio ainda, pense como um psicopata e, ah! Eu desisto. Quero demissão.

Ler é mais fácil e mais divertido.

Então ontem eu atualizei Incógnito. Minha fanfic sem grandes pretensões de ser mais do que um romance água com açúcar, uma história clichê de ensino médio com todos os recursos clássicos da ficção adolescente. Incógnito é segura e confortável pra mim. É meu espaço, eu conheço tudo. Tem mais de um ano que eu convivo com esses personagens, e por mais que eu não tenha um doc lindo de planejamento ou um bullet journal detalhado sobre a trama, eu sinto que conheço cada um deles. Nem preciso conferir anotações, e só consulto capítulos passados pra tirar uma ou outra dúvida esporádica. É ridículo como eles me desobedecem e fazem o que querem da história. Enfim, acho que é isso o que os adolescentes fazem, em geral. Desobedecem.

Mas o que Incógnito tem a ver com romances policiais? Eu pensava que nada. Mas toda santa vez que publico um capítulo, quando chego nos comentários, sinto que a estrutura que eu tanto procuro em manuais de internet está bem ali, na minha própria história.

Não era a minha intenção. Em algum momento passou a ser, eu confesso, mas Incógnito nasceu pra ser um romance despretensioso, ou quem sabe um romance de autodescoberta se a gente tentar esticar muito espectro, mas não é um romance policial. Não é um mistério. Então porque eu me vejo anotando dicas e pistas, soltando verdades em diálogos desimportantes e colocando peso demais em informações que não vão importar no fim das contas? Eu estou enganando leitores? Não. Nunca disse uma mentira. Mas o ponto de vista do Jeongguk pode ser enganoso.

Aliás, tudo culpa desse pentelho! Desde o capítulo um, quando pegou o diário, começou a ter essa síndrome de Sherlock Holmes. Acho que minha obsessão por romances policiais acabou se traduzindo nesse personagem sem que eu nem percebesse. Quando vi, lá estava ele, se metendo onde não devia. Grr, esses adolescentes...

Felizmente o Jeongguk não é nenhum gênio. A maior parte dos meus leitores é bem mais inteligente que ele, amém, e o tal mistério não é assim tão difícil de desvendar. Se o Jeongguk fosse um gênio, Incógnito já teria acabado há muito tempo.

A graça é que ele só faz burrice. Um passo pra frente e dois pra trás. Tadinho. Mas pelo menos está saindo do lugar.

Divagações à parte, se eu conseguir manter esse nível de interesse dos leitores já estou satisfeita. Não quero ser pretensiosa e achar que eu vou debutar com um mistério à lá Agatha Christie em "O Misterioso Caso de Styles", mas quero ter certeza de que não estou enganando nenhum leitor.

E se me aturarem até o final, já tá bom.

Eu ainda estou ruminando a coisa do narrador. Zeus, musas, meu querido Homero, me acudam. Minha mão tá coçando pra primeira pessoa. Tô com uma vontade doida de escrever em primeira pessoa, qualquer coisa. Quase todos os meus plots são em terceira, e eu meio que não sei por quê? Acho que todos os meus personagens são bobocas demais.

Esse texto já virou um desabafo chato, cansei. 

publicado em 26/06/2018

Quimera LiteráriaOnde histórias criam vida. Descubra agora