Cap 1 - Piloto

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22 de Julho de 1898

Prince Edward Island

     A brisa fria do final do inverno para a passagem da primavera no começo de agosto levava as folhas secas embora, para que novas possam florescer. Mas não na casa de Magnólia, ou claro, Senhora Burns.
Nesse caso, era apenas sujeira e trabalho dobrado; ou como ela sempre diz, atraso de vida.

  Subia as escadas limpas e levando as mãos rapidamente aos corrimãos brilhando, ela adentrava bruscamente o último quarto do corredor.

----- Uma moça em sua idade jamais deveria estar em seus aposentos até tarde. Não sabes que há muito a se fazer lá em baixo? Aquelas folhas horrosas dessa época do ano estão estragando meu jardim.

Dizia aos berros para aquela figura pálida á sua frente, ainda confusa.

------- Além de suas tarefas diárias que sabe, preciso que vá até o centro ainda hoje e me traga as coisas que faltam para o jantar. Senhorita Allans e seu marido vem do Norte e lá eles apreciam muito o tempero com especiarias. Jamais admitiria que minha comida fosse mal falada pelo padre e sua esposa. Vamos Catarina depressa!

O corpo da jovem acordou com o baque da porta com a parede.

Para uma garota no auge de seus queridos 16 anos, Catarina era considerada por todos uma jovem muito bonita, sua pele, cabelo e corpo eram o padrão esperado pela sociedade vitoriana. Quase todas suas particularidades herdara de seu falecido pai, que partiu 5 anos antes. Com essa morte  repentina e sua mãe até então desaparecida após seu nascimento, Catarina foi criada por sua tia, Magnólia.

Ela desce da cama e vai até sua penteadeira de forma ágil, pois sua tia não é nada tolerante quando o assunto é atraso, ainda mais na ocasião em questão.
Com seu vestido azul claro e cabelo devidamente arrumado, ela desce.
Não era preciso se arrumar tanto, não que ela tinha tal costume de qualquer forma. Mas deveria guardar a animação para mais tarde.

------ Não é necessário que prepare nada para o café hoje pois estou com pressa, sendo sábado, não acredito que o centro ficará aberto por muito tempo. Então agilize se por favor Catarina.

Ao pegar Ben, o cavalo que seu pai lhe deu de presente, ela partiu.
O centro da cidade ao contrário do que senhora Burns previu, estava muito cheio e possivelmente ficaria até mais tarde. Os aromas das comidas locais, os frutos recém colhidos, a música e as pessoas deixava a menina tranquila, era sempre um bom dia quando ela ia ali, porque o convite  para sair do ambiente de gritos e reclamações de sua tia era sempre bem vindo.

Quando ela menos espera, uma figura baixinha e sorridente agarra seu braço.

------ Catt!! Não esperava te ver aqui. Soube que os Allans vão ser recebidos em sua casa hoje.

------ Julie! Bom te ver. Vão sim, porém minha tia deu falta de algumas coisas então vim buscar. Como está a colheita do pomar esse ano?

----- Muito boa, melhor do que o esperado, na verdade. Acredito que talvez possamos até mesmo abrir mais uma plantação até dezembro,bem, é o que minha família espera.

---- isso é ótimo, mas preciso mesmo ir, se não se importa.

----- Oh espere! Preciso te avisar. Esta noite, os navios chegarão  ao porto!

----- O que? Que navios? Esta noite?

----- Ora! Como quais navios? Os piratas, comandados por Andrew Swit.

---- Piratas??? Julie, está louca? Como isso é possível? Estão desaparecidos há anos!

----- Catarina, sei que sua tia não é muito flexível, mas acho demais te manter por fora da realidade por tanto tempo.

Catarina revira os olhos

----Bem, antes que pergunte, já que não sabe, na última primavera, foram encontrados toda tripulação da última frota de navios piratas que restaram dessa linhagem. Eles estavam escondidos por anos, já que estavam praticamente "extintos" por assim dizer.
Quando a notícia foi divulgada todos se apavoraram, então para evitar desastres maiores, o rei propôs ao capitão que assinassem um tratado de paz.

----Mas...

---- Me deixe terminar! Além de propor que, as frotas teriam direito a toda safra de trigo, e lúpulo. Deve saber que bebem muito, claro.
----- E em troca?....

----- Bem, além de não sermos mortos, também ganhamos jóias que encontram em suas expedições, subindo assim nossa economia.

----- Parece bom, mas não confio neles.

---- Não há essa de confiar, é o que temos, ou então, haverá outra guerra.

---- Claro... mas de qualquer forma eu não sei se posso ir, o jantar, se lembra?

----- Catarina, não acredito que está dizendo uma coisa dessas! Ora é só um jantar, comparado ao fato de que eles vem somente de 3 em três meses ao porto! É um evento!

----- Não sei....

----- Se isso não te convence, talvez o fato de piratas musculosos estarem ao porto prontos para cantar moças, possa te interessar.

----- Diferente de você Julie, que não tira a cabeça das nuvens por causa de razões fúteis como essa, eu vou, mas apenas para saber sobre essa frota.

----- Claro. Bem, te vejo lá às 18:00, ao por do sol. Não se atrase.

A figura baixinha de cabelos claros sai sorrindo e correndo. Julie era uma moça de família, filha de um dos donos de terreno de pomar mais famosos e de família muito respeitada por toda ilha. Mas claro, isso só se aplicava em rumores.
Seus amigos próximos sabiam que era tudo fachada, ela corria atrás de quantos homens pudesse, e jamais se cansara.

O Porto Ao Por Do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora