Cap 3 - Capitão

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  O porto estava quase vazio. Os piratas mais espertos já tinham levado para a taberna mais próxima todas as moças que estavam ali. Restava apenas os navios presos nas cordas, e o rosto de Julie que não conseguia saber se ela estava feliz por ter visto de longe tudo aquilo ou decepcionada com sua amiga por não ter chego a tempo das duas irem até lá.

------- Estou triste por você ter perdido e por nós duas não termos ido até lá.

------- Por que me esperou?

------- Não teria coragem para ir sozinha. Bem, de qualquer forma eu não poderia, imagine se alguém me vê ali? Uma moça direita! Pense só.

------ Julie eu não vou nem dizer o que eu penso sobre isso por que sou sua amiga.
------ Tudo bem mas eu preciso ir, e você também deveria, a essas horas sua tia deve estar furiosa.

E realmente estava. Magnólia tentava ao máximo distrair com convidados com suas deliciosas compotas que ela mesmo buscou, e com assuntos da paróquia, evitando assim que os convidados perguntassem sobre sua sobrinha.

No porto, Julie voltou para casa. Catarina com um pouco de decepção, mantinha os olhos no horizonte daquela noite escura. Quando ela percebeu uma agitação em um dos barcos mais próximos, assim que parou, ela se virou para ir embora, mas algo agarrou seu braço a impedindo.

------- Já vai tão cedo?

Quando Catarina se virou, os olhos antes fixos no mar escuro, agora pairavam sobre uma figura alta, de pele branca e cabelos loiros que se escondiam sobre o chapéu.
Ela não conseguia falar. Aquela pessoa, as características... eram as mesmas que Julie tinha lhe contado, seria aquele....

------ Andrew Swit. Muito prazer senhorita. Não deveria estar nas ruas essas horas, talvez..

----- Não tente me cantar para me levar á taberna, não estou interessada. Muito pelo contrário, na verdade já estava indo quando um ser inconveniente me puxou. Com licença.

----- iria dizer que talvez eu pudesse lhe acompanhar até em casa.

------ Não é necessário. Já sei o caminho.

------ Claro.... então talvez eu pudesse encontrar a senhorita amanhã novamente no porto...?

------- Talvez...preciso ir. Adeus.

   Ela se virou sem esperar resposta, e adentrou a floresta de pinheiros  com Ben na maior velocidade que podia alcançar. Como esperado, Magnólia estava na porta, mas sua face não era exatamente de raiva...

----- Como pôde Catarina? Me deixar aqui sozinha com as visitas, sem aviso nenhum, sabia o quanto estávamos esperando pra isso.

------- Tia, me perdoe por favor, eu acabei passando mal quando vim até os fundos, senti que iria desmaiar, então para evitar problemas com os convidados resolvi ir para longe tomar um ar.

    Magnólia não parecia estar muito certa disso, mas acreditou mesmo assim.

------ Nesse caso, tudo bem. Espero que não se repita, e que me avise quando não estiver bem.

As duas entraram em casa e foram arrumar toda a bagunça. Certamente Catarina teria que fazer o dobro de suas tarefas para compensar o erro com sua tia, mas não era nada que ela já não tivesse feito.
A imagem de Swit não saía da cabeça da garota. "Por que ele veio até mim? Por que esse interesse?"
De qualquer maneira, a única forma de descobrir quais eram suas intenções seria indo até lá novamente amanhã.

    No dia seguinte, novamente ao por do sol, lá estava ela. A cena se repetiu e Andrew apareceu assustando ela.
------- Não acredito que veio senhorita! Bom, não vou reclamar. Gostaria de me acompanhar a uma caminhada na praia?

----- Acho que não tem problema..

  O tempo passou rápido, tão rápido que, quando eles prestaram atenção, já estava de noite. Isso por que eram horas de conversas que não se acabavam, Andrew de certo era bom nisso, e o que mais deixava Catarina feliz, era seu senso de humor. Ela havia deixado de lado a missão de descobrir o por que dele ter tido esse interesse nela, porque a companhia dele era muito agradável para acabar com isso.

------ Preciso ir, não deveria estar fora tanto tempo.

------ Mesmo lugar amanhã?
------ Talvez...

    E em tantos "talvez" se passaram duas semanas, os "encontros" no porto aconteciam todos os dias. Obviamente Magnólia estava sempre atenta, porque aquela movimentação de sua sobrinha não era comum, ela nunca foi de sair tanto. Mas nunca comentou nada. A menina por si, deixou de lado o orgulho e amoleceu seu coração deixando que Swit o levasse, saindo da posição de defesa, pois já se sentia segura.

Andrew, sempre contava sobre suas viagens e aventuras pelo oceano, novas ilhas descobertas, criaturas não catalogadas, jóias, e as diversões no navio, para Catarina, a qual ouvia com os olhos brilhando. Sempre era evitado comentar sobre sua posição de capitão da frota. Ele não considerava importante.

  Ele queria mostrar o mundo para Catarina, o mundo que ele conhece. Levou-a para conhecer o navio principal. Mostrou como se navegava, suas mãos se cruzavam enquanto controlavam o timão. Em uma das noites mais estreladas de setembro, eles dançaram no salão do navio, riram sem parar enquanto jogavam conversa fora e brincavam, como duas crianças. Swit a fazia rir o tempo inteiro, isso a deixavam em êxtase.

Os dias se passaram, era outubro, aniversário de Catarina. Esse dia se tornou um pouco infeliz depois da morte de seu pai, porque ela sempre comemorava com ele, era um dia inteiro de festa. Mas quando passou a morar com sua tia, isso não se repetiu. O máximo que ela tinha feito nesses 5 anos, foi ter colocado um pequeno ramo de flor na cômoda da menina. Mas Catarina ficou feliz, ao menos ela havia se lembrado.
  Naquele dia especial, novamente ao por do sol, o porto tinha a presença de dois sorrisos bobos ao se verem. Swit lhe entregou um singelo buquê de gardênias, sua flor favorita, e foram caminhar na praia.
Depois de alguns minutos eles se sentaram em algumas pedras, continuaram a conversar.
   Ela adorava as conversas com Andrew, sempre deixava seu dia melhor, sendo uma simples conversa boba até uma mais profunda. Seu senso de humor, e até mesmo sua ironia a deixavam boba. Mas também o fato de sempre ser comentado por toda ilha o quanto Swit era frio e egoísta deixava ela incrédula, como poderia ser a mesma pessoa? De qualquer maneira, a conexão dos dois era algo inexplicável.
Enquanto ele tagarelava sobre uma de suas viagens, ela começou a reparar em seu rosto e algo lhe chamou a atenção. Seus traços.
Não era algo que ela já havia visto em algum homem dessa idade, era algo.. diferente.. eram traços mais delicados, ousaria dizer que até mesmo femininos. Sua voz, também parecia um pouco forçada a ser rouca. O que esta acontecendo aqui?

Tirada de seus pensamentos no susto quando ele tocou sua mão. Fazendo o coração de Catarina acelerar, como já não fazia a muito tempo.

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