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Quinta-feira, lua minguanteASHFIELD

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Quinta-feira, lua minguante
ASHFIELD

O céu parecia querer fechar quando o médico da cidade de Ashfield, Ian Drythelm atravessou com pressa os grandes portões da casa dos Ooryphas naquela noite.

A urgência era que a pequena menina Prim, a mais nova da família Ooryphas estava ardendo em febre, mais uma. O médico já tinha visto um caso como o de Prim antes, a menina loira estava convivendo com os mesmos sintomas que os moradores da cidade vizinha - onde Ian fazia trabalho voluntário -, que criam estar acometidos pela praga.

Os sintomas eram febre alta, falta de ar, ardência e manchas na pele, tremedeiras constantes e dores no corpo. Ian não queria ter certeza, ele realmente não queria, porque se estivesse certo a praga que dizimou algumas famílias em WestValley estaria levando a vida daquela menina também.

Depois de secar o suor do rosto com o dorso da camiseta branca ele enfim entrou na casa. Num momento como aquele, cordialidade e caráter refinado não serviriam para nada, por isso ele não bateu na porta antes de entrar. Durante alguns segundos ele se perguntou se sua esposa Sthel e o filho Moon estariam bem, apesar de viverem longe da cidade fugindo dos problemas que ela trazia, a esposa grávida e o filho pequeno ainda estariam vulneráveis. Enquanto subia as escadas da grande casa e virava alguns corredores, Ian se obrigou a crer na tal possibilidade.

Como Ian bem lembrava era necessário ter tido contato com a árvore de mancenilheira para acabar doente, e ao redor da casa de sua família não havia nada além de árvores frutíferas, campos de flores e o rio que abastecia a casa.

Quando finalmente chegou ao quarto de Prim, identificando-o de primeira, pois os empregados iam e voltavam com pressa, todos com os olhos arregalados e com expressões de dor ou surpresa, ele pôs-se ao pé da cama, tropeçando algumas vezes para afastar os familiares da menina. Logo tirou as meias que lhes cobriam os pés e viu as manchas que tomavam a pele clara de Prim.

O medo subiu até a garganta de Ian. Até então ele só sabia um antídoto, o único que poderia trazer um resultado eficaz, porém, o risco de ser pego e acusado de bruxaria seria grande.

Ian se aproximou de Prim novamente, dando ordens a todos os familiares que ali estavam, alguns saíram para buscar aquilo que Ian pediu, outros o ajudaram a tirar o excesso de roupa que ela estava usando.

Panos úmidos com água foram postos na pele exposta, compressas de endro e bálsamo estavam descansando nas bochechas pálidas dela. Ian respirou fundo várias vezes ainda com aquela dúvida pairando entre seus pensamentos.

Era cumprir sua profissão ou manter a própria vida. A vida de Prim ou a dele. Ele não tinha lá uma excelente fama, a mulher dele era ruiva e de acordo com a cidade ela era inteligente demais para uma mulher, além do mais, pela visão do povo da cidade vizinha, ela poderia ter manipulado a mente dele com as magias ocultas de sua família.

Típico de bruxa.

Mesmo sabendo que talvez poderia ser acusado de bruxaria, pondo em risco não apenas a si, mas também a seu filho e sua esposa, Ian anotou o nome de algumas ervas num papel que achou no chão do quarto e estendeu até o filho mais velho dos Ooryphas.

— Vá, Bentley!

A voz do patriarca da família ressoava rouca, sem mais forças. O velho não havia se movido do pé da cama desde a chegada de Ian.

— O que fazemos agora? — perguntou Áster, a filha do meio. Ian balançou a cabeça dispensando a ajuda dela.

— Não faremos nada.

Todos olharam para Ian como se suas palavras decretassem a morte de Prim. A mãe da família Ooryphas saiu do quarto se apoiando na serva. Ian quis se desculpar, no fundo até ele tinha esperanças de que Prim reagisse bem às ervas, mas aquilo estava fora do alcance dele como médico.

A chuva começou a cair. O quarto repleto de janelas ficou ainda mais frio. Ian e Áster tiraram os panos e cobriram a menininha novamente. Se Bentley demorasse um pouco mais poderia correr o risco de ficar doente também.

Mas o céu pareceu dar uma mensagem que as coisas não ficariam boas, não para Bentley e Ian, pelo menos. O clarão no céu assustou a todos na grande casa. Aqueles que estavam dentro ou fora do quarto, dentro ou fora dos muros.

Na floresta escura, Bentley já tinha conseguido achar a maioria das ervas que o doutor Drythelm havia mandado

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Na floresta escura, Bentley já tinha conseguido achar a maioria das ervas que o doutor Drythelm havia mandado. Ainda faltava as orquídeas negras e a tramazeira, tanto Bentley quanto Ian sabiam que aqueles elementos só seriam achados naquela floresta, por isso Bentley tomou coragem para avançar naquela mata escura à sua frente. A chuva estava o impedindo de ir mais rápido e quanto mais ele andava com a lamparina para achar as plantas mais ele se sentia longe de achá-las.

De repente quando a chuva parou, Bentley sentiu a sensação de um mau
presságio. Apesar de poder caminhar com maior rapidez ele não se sentiu bem o suficiente para seguir andando como estava antes. Logo que encontrou a orquídea e a guardou na bolsa de couro ele prestou atenção de se atentar à plantação de tramazeira. Pelo que bem lembrava era perto das orquídeas que elas ficavam.

Os passos de Bentley aconteciam a cada uma eternidade. O calor lhe subiu de repente quando ao olhar para a copa de uma das árvores ele teve a sensação de estar sendo observado. Uma falha em seus pensamentos, pois, melhor dizendo, ele teve a sensação de estar sendo caçado.

Não demorou mais tempo para Bentley achar a tramazeira. Só que ao pegá-la um arrepio lhe rasgou desde a espinha. O jovem homem caiu no chão ao ver dois olhos vermelhos próximos à ele. A erva ainda estava em sua mão, do mesmo jeito que antes, e ele não viu mais nada a se fazer senão a se arrastar pela vegetação molhada.

Ele quis rezar para os santos que seus amigos cultuavam mas Bentley não acreditava que Deus tinha subordinados. Então, tomando coragem enquanto se arrastava, mesmo sentindo o ardor em sua pele por causa dos arranhões, Bentley clamou recorrendo ao Deus em quem cria.

Aqueles olhos passaram diante dele mais rápidos do que os urubus nas caçadas. Bentley não aguentou a dor e se permitiu gritar com toda a força de seus pulmões.

Uma mordida. Aquela besta fera tinha lhe mordido. Ele não sabia o que era mas não importava saber. Ele achou que logo morreria, como a irmã. E por imaginar isso levantou-se em meio a dor fulminante em seu ombro e apertou os passos até chegar em casa.

O coitado não conseguiu nem chegar até as escadarias. Pois desmaiou.

 Pois desmaiou

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