(último) Capítulo 60: Benjamin

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Uma mistura de emoções que não sei como reagir, se formam dentro de mim. Não posso acreditar que minha vida inteira foi uma grande e insignificante mentira, que a realidade não passasse apenas de segredo. Ainda com a carta na mão, ouço alguém batendo na porta e só depois percebo que é a minha mãe.

- Tá tudo bem filho? Você nunca fica trancado no quarto.

O meu pensamento é de sair dalí e confrontá-la com isso, mas nada vai adiantar criar um escândalo agora.

- Estou apenas trocando de roupa - respondo, com a primeira coisa que me veio a mente.

Não sei se devo ignorar o simples fato de isso estar acontecendo, ou encarar a mais pura e desonesta realidade.

Os dias estão se passando e conforme isso, continuo vivendo a minha vida. Não faço idéia de quando o técnico Brian volta de Bahamas, só sei que não quero vê-lo na minha frente, nem pintado de ouro.

Estou saindo de uma sorveteria, quando avisto Enzo vindo em minha direção, o aceno.

- Cara, você sumiu, por quê? - pergunto.

- Eu fiquei um tempinho fora, curtindo e aproveitando ao máximo - responde.

Andamos, conversando sobre novas experiências para o futuro, quando comenta que está pensando em abrir algo extraordinário na Rússia.

- Isso é uma ótima maneira de pensar positivo cara - digo.

- Pois é, estou com isso em mente, mas quem sabe um dia...!

Me despeço e seguimos em direções opostas, com os nossos pensamentos de vitalidade. Creio que não imaginaria que um dia viraria amigo do Enzo, ou seja, o ex de Aurora.

Chegando em casa, entro no escritório, tentando encontrar alguma prova que seja do meu passado, infância e tudo mais. Com certeza os meus pais guardaram algo, para que servisse de lembrança, mas como não estou tendo sucesso, acabo desistindo.

Ligo para Aurora, com o intuito de sairmos juntos, agora que finalmente ficamos bem e ela ter se apoiado no meu amor, sempre vamos há algum lugar. A resposta dela é simples e positiva, dizendo que nos vemos mais tarde, até lá, procuro algo para fazer.

Estou na locadora procurando um ótimo filme para assistir essa noite, na sessão de terror, pego um que me chama bastante atenção: "Invocação do mal 3". Decido por esse, porque tenho certeza que promete uns bons sustos e medo.

No caminho, decido passar na casa da Beatriz, tentar afastar alguns pensamentos que não me fazem bem.
Assim que chego, sou atendido pela sua mãe, dizendo que se encontra na sala de estar, vou até lá e avisto ela e Enzo dando ótimas gargalhadas.

- Que surpresa você por aqui - diz ela, vindo me cumprimentar.

- Pois é, vim dar um passeio, ver como os meus amigos estão - sorrio.

O motivo de tanta graça, é que estão revendo alguns álbuns de fotos de quando eram crianças, realmente, quando se está nessa idade, somos incrivelmente fofos.

- Essa foi no dia em que fomos ao circo e chorei por ver um palhaço - explica Bia, rindo.

- E até hoje, guardo isso na memória - retruca Enzo.

E ficamos alí, vendo como as coisas eram muito fáceis antigamente.

******
À noite estamos a mesa do jantar, convidei Aurora para jantar aqui em casa, agora que somos namorados, creio que momentos assim sejam ideais. Ela parece estar concentrada no meu pai, mas não sei o porquê.

- Sua família aceita o Benjamin querida?

- Mãe!? Por favor... agora não é hora

A conversa segue adiante e Aurora responde todas as perguntas com clareza. Pouco mais, ela vai embora se despedindo com um beijo e uma boa e ótima noite. Vou até o quarto da minha mãe, tentar entender o que se passa na cabeça dela em momentos tão de importância convivência.

- Relaxa querido, eu só fiz uma pequena pergunta, aceitamos ela com todo o carinho aqui e espero que esse relacionamento tenha futuro mas...

- Parece que não acredita nos nossos sentimentos, já passamos por isso uma vez, todos duvidando de todos, mas isso não vai se repetir.

Saio do quarto e a deixo sozinha com os seus afazeres, descendo as escadas começo a imaginar como seria se as coisas fossem mais fáceis em convivência familiar, como seria se todos aceitassem as coisas do jeito que são.

No dia seguinte após o despertador tocar, vejo que há uma mensagem do técnico Brian, se é que ainda o devo chamar assim. Está escrito que ele acabou de chegar de Bahamas e precisa conversar comigo um assunto muito sério, até imagino o que seja.
Não sei se vou ter coragem de encará-lo frente a frente, depois de todo esse tempo pensando que ele era uma pessoa boa e honesta, acabo descobrindo que ele carrega o nome de pai em mim.

Depois de alguns minutos me preparando para esse dia, Amanda aparece no meu quarto com um recado "Aurora te espera no jardim".
Desço até lá com um sorriso no rosto, me sentindo bem com essa relação.

- Oi princesa - a cumprimento com um beijo e um abraço.

- Oi Ben, como foi o seu dia?

Nos sentamos e começamos a conversar, passa pela minha cabeça a ideia de contar a ela sobre o técnico Brian, mas acabo desistindo.

- Será que poderíamos dar uma passada na biblioteca? Quero pegar um livro que incluí na minha lista.

Vou a garagem e busco o carro, entramos e seguimos estrada afora, quando chegamos, andamos por várias sessões, por fim ela decide levar "Crepúsculo" e eu "A cinco passos de você", um romance é bom de vez em quando, ainda mais se estiver escrito em páginas.

No dia seguinte, acordo com o intuito de contar a verdade para Aurora, pego o que tenho que pegar em casa e decido ir andando, assim penso nas palavras que irei usar. Passando pela praça como de costume, com o headphone nos ouvidos, reparo que o dia está incrível hoje. Já entramos na primavera, então as árvores deixam suas lindas folhas caírem, voando para lugares distantes e distintos.
Continuo a andar, quando uma sombra se fecha a minha frente, acabo percebendo que se trata do técnico Brian.

- Oi filho - diz, sem se preocupar com o que há de acontecer a partir de agora.

Desta vez, não há como eu escapar, terei que ter uma atitude de uma vez por todas, mas estou paralisado, ao menos consigo pensar, o vento bate em meu rosto e começo a sentir calafrios, junto com a presença de uma preocupação que vai se instalando, miro o técnico no fundo dos seus olhos e automaticamente minha boca forma a seguinte frase:

- Oi pai.

A LUA QUE ME FEZ BRILHAR Onde histórias criam vida. Descubra agora