O que não te mata #2

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Gosto da metáfora que minha psicóloga usa. Logo compreendi que, para resolver meus dramas e desconforto, tudo começa por este questionar. É ele que vai fazer com que ambas tenhamos consciência do que disponho em minha própria caixa. E assim, a partir disso, vamos trabalhar juntas para que eu mesma possa chegar a formas mais eficazes de manejar minhas próprias demandas. Como seguiu me explicando Alice.

— Neste processo, Babi, eu vou te ajudar a construir os teus entendimentos e as tuas estratégias de soluções. A teoria e a prática me ensinaram que, quando esse raciocínio é construído pelo próprio paciente, ele passa a ser visceral, a fazer parte dele.

Essa perspectiva me encheu de entusiasmo. Afinal, é algo tão novo e promissor. Uma terra prometida, onde nunca estive antes. E para onde quero muito ir.

— Acredite, Babi, muitas vezes estratégias ótimas surgem desse questionamento e o paciente se reconhece potente por ver que ele próprio concluiu algo tão bacana! De posse dessa luz, podemos ver o que aproveitar da nossa caixa de ferramentas e o que deve ser implementado.

— Que lindo isso, Alice!

Mas o entusiasmo logo foi encoberto por uma dúvida, que tirou o sorriso do meu rosto e me fez questionar minha terapeuta com alguma ansiedade.

— Mas e se a gente não consegue pensar em nenhuma outra forma de ação? Como fica?

Pacientemente, a psicóloga pontua:

— Quando o paciente não tem esses recursos disponíveis em seu repertório comportamental, usamos a psicoeducação para instruí-lo com novas ferramentas, para que ele possa fazer uso diante das demandas do seu dia a dia. O que acho muito legal é que, ao terminar o processo terapêutico, o paciente tem uma caixa de ferramentas muito mais completa para enfrentar os problemas que virão e as demandas da vida.

Uma caixa mais completa à minha disposição que possibilita autoconhecimento e me dá ferramentas para lidar com as situações nossas de cada dia e as dificuldades que surgirem.

Sim. Foi essa ideia que fez com que eu me identificasse com a tal Terapia do Esquema, uma das várias linhas de trabalho da Psicologia, e a que Alice adota como carro-chefe em seu trabalho. E me jogasse de cabeça na terapia.

Pego meu chá e vou para o sofá. No caminho, ligo o som e ouço Kelly Clarkson cantar Stronger (What Doesn't Kill You). Inspirada com tudo que acontece e as perspectivas, deixo o chá sobre a mesa, me levanto e danço e canto com ela, a plenos pulmões.

O que não te mata te faz mais forte

Te faz sentir melhorDeixa os passos mais levesSabe, no fim das contas, o dia em que você me deixouFoi apenas o começo

Bem assim. Graças ao pé na bunda que levei, estou tendo a chance de compreender o que me faz bem e o que me faz mal de fato. Tenho a oportunidade de tirar todos os esqueletos possíveis e (in)imagináveis do armário. E assim compreender meu comportamento, reciclar minhas atitudes, e do alto dos meus 40 anos, me fortalecer. E, finalmente, aprender o que é viver e amar plenamente. Por inteiro.

Suada e feliz ao final da música, me jogo de volta no sofá. E uma analogia maluca me vem à mente. Me sinto como uma borboleta retornando ao casulo, para lá dentro entender a lagarta que sou e, com isso, poder me transmutar e metamorfosear outra vez. Animada, exclamo em alto e em bom som:

— Que venha essa minha borboleterapia!

— Que venha essa minha borboleterapia!

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Num Sofá de Bolinhas - Amor & TerapiaOnde histórias criam vida. Descubra agora