Babi Razen é uma fotógrafa gaúcha atormentada por constante desamor e um coração partido. Disposta a mudar, ela passa a revisitar sua vida no sofá de bolinhas da psicóloga Alice. Uma transformação vai acontecendo, levando Babi ao encontro do mais po...
Gosto da metáfora que minha psicóloga usa. Logo compreendi que, para resolver meus dramas e desconforto, tudo começa por este questionar. É ele que vai fazer com que ambas tenhamos consciência do que disponho em minha própria caixa. E assim, a partir disso, vamos trabalhar juntas para que eu mesma possa chegar a formas mais eficazes de manejar minhas próprias demandas. Como seguiu me explicando Alice.
— Neste processo, Babi, eu vou te ajudar a construir os teus entendimentos e as tuas estratégias de soluções. A teoria e a prática me ensinaram que, quando esse raciocínio é construído pelo próprio paciente, ele passa a ser visceral, a fazer parte dele.
Essa perspectiva me encheu de entusiasmo. Afinal, é algo tão novo e promissor. Uma terra prometida, onde nunca estive antes. E para onde quero muito ir.
— Acredite, Babi, muitas vezes estratégias ótimas surgem desse questionamento e o paciente se reconhece potente por ver que ele próprio concluiu algo tão bacana! De posse dessa luz, podemos ver o que aproveitar da nossa caixa de ferramentas e o que deve ser implementado.
— Que lindo isso, Alice!
Mas o entusiasmo logo foi encoberto por uma dúvida, que tirou o sorriso do meu rosto e me fez questionar minha terapeuta com alguma ansiedade.
— Mas e se a gente não consegue pensar em nenhuma outra forma de ação? Como fica?
Pacientemente, a psicóloga pontua:
— Quando o paciente não tem esses recursos disponíveis em seu repertório comportamental, usamos a psicoeducação para instruí-lo com novas ferramentas, para que ele possa fazer uso diante das demandas do seu dia a dia. O que acho muito legal é que, ao terminar o processo terapêutico, o paciente tem uma caixa de ferramentas muito mais completa para enfrentar os problemas que virão e as demandas da vida.
Uma caixa mais completa à minha disposição que possibilita autoconhecimento e me dá ferramentas para lidar com as situações nossas de cada dia e as dificuldades que surgirem.
Sim. Foi essa ideia que fez com que eu me identificasse com a tal Terapia do Esquema, uma das várias linhas de trabalho da Psicologia, e a que Alice adota como carro-chefe em seu trabalho. E me jogasse de cabeça na terapia.
Pego meu chá e vou para o sofá. No caminho, ligo o som e ouço Kelly Clarkson cantar Stronger (What Doesn't Kill You). Inspirada com tudo que acontece e as perspectivas, deixo o chá sobre a mesa, me levanto e danço e canto com ela, a plenos pulmões.
O que não te mata te faz mais forte
Te faz sentir melhorDeixa os passos mais levesSabe, no fim das contas, o dia em que você me deixouFoi apenas o começo
Bem assim. Graças ao pé na bunda que levei, estou tendo a chance de compreender o que me faz bem e o que me faz mal de fato. Tenho a oportunidade de tirar todos os esqueletos possíveis e (in)imagináveis do armário. E assim compreender meu comportamento, reciclar minhas atitudes, e do alto dos meus 40 anos, me fortalecer. E, finalmente, aprender o que é viver e amar plenamente. Por inteiro.
Suada e feliz ao final da música, me jogo de volta no sofá. E uma analogia maluca me vem à mente. Me sinto como uma borboleta retornando ao casulo, para lá dentro entender a lagarta que sou e, com isso, poder me transmutar e metamorfosear outra vez. Animada, exclamo em alto e em bom som:
— Que venha essa minha borboleterapia!
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.