Se há uma certeza na vida, além da morte e dos impostos, é a mudança. E o mudar, o transmutar-se, é o ingrediente central da aventura da protagonista deste livro. Sua busca é pelo amor, mas, principalmente, pelo amor próprio e autovalidação de suas necessidades emocionais e afetivas que não foram plenamente supridas no cerne de sua família. Retrato típico, com pequenas variações, da experiência de todos os seres humanos.
O romance transcorre de forma leve, porém intensa; divertida, sem deixar de ser profunda, e cheia de surpresas que fazem o leitor começar e não querer parar de ler até o seu desfecho inesperado. Embora ficcional, a trajetória de Babi ilustra ricamente muitas das conflitivas do universo feminino.
A trama de Babi envolve família, relacionamentos amorosos, amizades, tratamento psicoterápico e música, muita música. Através de fragmentos de letras das músicas mais marcantes na vida de Babi, o leitor vai contemplando como ela constrói a incrível trilha sonora de sua vida (assim como todos nós podemos pensar na nossa), além de utilizar tais líricas como estímulos de reflexão e mudança, de acordo com cada momento seu.
As autoras, fazendo uso de suas extraordinárias habilidades profissionais, oriundas de suas especialidades anteriores à aventura da literatura (e, a partir deste livro, concomitantes), deixam suas marcas no texto. De uma parte, através do enredo provocador, instigante e, sobretudo, criativo das ricas descrições dos personagens, dos diversos contextos da história e das guinadas surpreendentes. Já pela parte da segunda autora, com sua expertise em psicoterapia, mais especificamente em Terapia do Esquema e Terapia de Casais e Famílias, presenteia a obra com uma magistral aula de como fazer psicoterapia com sólido conhecimento teórico, técnica apurada, mas sobretudo, com o invólucro de afeto, empatia, compaixão e crença no crescimento pessoal. Todo o caminho da terapia de Babi é ricamente ilustrado, fazendo com que o leitor possa, além de se emocionar em muitas passagens, aproveitar as intervenções da terapeuta Alice para reflexões e mudanças pessoais. Não é um livro de autoajuda, mas pode ajudar muito, se refletirmos e compreendermos como a tragédia da vida de um personagem tem mais em comum com nossas vidas do que imaginamos.
O sofá de bolinhas, testemunha inicial das inseguranças, tristezas, ressentimentos e decepções de Babi, também acompanha a evolução, durante a terapia, na caminhada de coragem e energia necessárias para que consiga se defrontar e aceitar suas vulnerabilidades (inerentes a qualquer pessoa). Validar tais vulnerabilidades e se colocar na "arena" da vida com todos os riscos intrínsecos mostra ser o caminho da libertação e da paz da protagonista. Como diz Alice : "É preciso ter coragem para colocar nosso coração nas mãos de alguém, e é preciso ter mãos cuidadosas e leais para segurar este coração".
Os enlaces e desenlaces amorosos de Babi descritos ricamente ao longo de toda a obra remetem às diversas realidades com que as mulheres se defrontam em cada fase do ciclo vital. Preconceitos, imposições familiares, medos, tentações, prazeres e alegrias contidas no "pacote" de cada relacionamento afetivo são desnudados tanto pela franqueza das ricas amizades de Babi quanto pela precisão cirúrgica dos diálogos de sua terapeuta. Em uma outra rica "lição" de Alice: "o verbo amar pressupõe alguns verbos como pré-requisitos: ver, reconhecer, aceitar e acolher".
"O que não me mata, me fortalece." Este aforismo de Nietzsche pode ser considerado a "coluna vertebral" deste romance. Se ser forte é, antes de tudo, a capacidade para nos adaptarmos aos diferentes contextos e demandas da vida, neste livro é exposto como cada um de nós, assim como Babi, utiliza suas melhores ferramentas em busca do equilíbrio necessário. Porém, talvez a maior inspiração que Babi nos passa é que podemos mudar nossa representação do que nos aflige, através das tarefas de compreensão do todo e, principalmente, da aceitação da realidade como ela é. E, assim, pode-se abdicar da posição de mero coadjuvante e, então, assumir os preciosos papéis de protagonista e autor de nossas vidas.
Ricardo Wainer
Doutor em Psicologia, pioneiro no ensino de Terapia do Esquema no Brasil e diretor da Wainer Psicologia
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Num Sofá de Bolinhas - Amor & Terapia
ChickLitBabi Razen é uma fotógrafa gaúcha atormentada por constante desamor e um coração partido. Disposta a mudar, ela passa a revisitar sua vida no sofá de bolinhas da psicóloga Alice. Uma transformação vai acontecendo, levando Babi ao encontro do mais po...