O caos que lhe habita;

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Tudo ainda parece estranho demais para Elizabeth, sua cabeça dói e há uma enxurrada de memórias que mais pareciam sonhos voltando para sua mente a cada segundo. São lembranças fortes o suficiente para que ela tenha a impressão de sentir cheiros, sensações térmicas como frio e calor e até toques.

Deusa. Ou a reencarnação de uma. Mas ela é, e aquilo é atordoante.

Demônios, fadas, gigantes, feiticeiros e deusas… Era verdade a Guerra Santa, havia durado o suficiente para trazer tantas desgraças, sendo que elas poderiam ter sido evitadas justamente pelos precursores da tragédia. Eles.

Ela realmente tinha se apaixonado por um demônio? Justamente pelo príncipe do inferno?

A Deusa Sangrenta que matara tanto por amor, sem hesitar e para encobrir seus pecados, morrera sangrando. Chegava a ser irônico tal morte.

E também tinha aquele vazio, o limbo que ficou por tantos séculos, sangrando e chorando, clamando por milagres ou ajuda que jamais vieram. Ela estudara sobre tantas coisas quando era mais nova e deusa, e nunca encontrou ou leu sobre aquilo que experienciou. Poderia ter sido sua chance de pensar nos erros ou só a punição pelos pecados que cometeu? Eram tantas dúvidas, tantos medos agora que sabia quem realmente era e de onde viera.

Seu corpo inteiro formigava e doía, os músculos esticados como uma corda instrumental, pronta para vibrar a qualquer momento e destruir tudo e a todos e aquilo a assustava. Ela era a mais forte dos arcanjos e seus poderes agora eram totalmente desconhecidos, limites e gatilhos desconhecidos. Elizabeth sentia-se uma bomba-relógio prestes a eclodir, porém, desde sua infância onde um vazio inexplicável sempre atormentava sua mente e peito, seu interior estava calmo e em paz, como se finalmente tivesse encontrado o que lhe faltava para ser completa.

Aquele homem que no momento lhe agarrava como se estivesse segurando o mundo inteiro com medo que a qualquer momento ele pudesse escorregar por entre seus dedos, é Meliodas. O mesmo Meliodas que era o líder dos Dez Mandamentos. O mesmo que tentara lhe matar primeiro e depois se apaixonara por ela, era o mesmo que havia traído seu clã por amor.

Meliodas não tinha morrido. Ele não ficou preso no limbo, naquela escuridão sem fim e fria, onde só tinha companhia das próprias lamúrias. Ele era o mesmo e ela não.

Era difícil conciliar as memórias que tinha dele em campo de batalha com o mesmo que lhe criara por quatro anos após sua reencarnação, sequer pareciam os mesmos. E entretanto, no momento esse Meliodas era igual o outro, o demônio que causou tanta curiosidade nela, movido pela ira cega e pelo poder obscuro que residia dentro de si.

Os dedos de unhas curtas cravaram em suas costas, na região das costelas e o suspirar aliviado soou alto naquela caverna, a respiração quente do loiro atingiu seu peito e ele aparentava estar em um transe ou apenas afirmando que ela está realmente ali, com o medo de deixá-la ir. Elizabeth fica dividida entre as emoções conflitantes dentro do seu ser, na sensação de alívio de encontrar o que mais sentia falta, do horror de encontrar Meliodas neste modo onde esta casca humana pouco suportaria um combate e principalmente aquela parte pequena no fundo de seu cérebro que quer repelir ele, aquela que entende que Meliodas é perigoso e um risco que não está afim de assumir novamente.

É sua chance de viver, não de trilhar o caminho para a autodestruição mais uma vez.

– Eu procurei tanto por você, esperei mil anos… – ele diz baixo, há um toque de incredulidade e alívio na voz arranhada pelo desuso e quando ele se afasta o suficiente para olhá-la nos olhos, a escuridão gira em espirais pretas por seu corpo e face, transmutando-o em aquele homem que escondia seu verdadeiro clã para um demônio impiedoso. – E você reencarnou para mim…

My Demon - A reencarnação da deusa.Onde histórias criam vida. Descubra agora