Cavaleiros sagrados

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Ouvindo sussurros contidos e curiosos ao seu redor Elizabeth gemeu alto de dor, seu peito pesava como se uma pessoa estivesse sentada sobre ela. Com falta de ar a mulher rolou de lado e tossiu alto arregalando os olhos no processo, e o que viu foi uma parede de pedras.

Assustada ela se sentou de uma vez na cama macia e olhou ao redor, seus ouvidos ainda estão chiando pelo recente desmaio mas ela consegue ouvir com mais clareza vozes e aos pés da cama há três homens e duas mulheres vestidos de armaduras e munidos de espadas.

- Ela acordou! - A garota loira exclama para os demais e em seguida sorri serenamente para Elizabeth.

- Onde estou? - Quando sua voz finalmente saí, Elizabeth sente sua garganta doer e tosse descontroladamente com a mão em frente a boca, aos poucos o peso nas costas e no peito vai aliviando e ela respira fundo ruidosamente. - Aí minha deusa.

Há sangue em sua mão. Assustada os olhos azuis se erguem para a loira que agora passa um lenço branco e grosso para secar sua palma.

- Você não está morrendo. - A mesma explica deixando de sorrir e assume uma seriedade espantosa. - É só o miasma deixando seu organismo.

- Miasma? 

- Isso, ele é produzido por demônios. Se lembra do ataque? - O homem mais alto de armadura apóia o quadril na beira da cama e a olha nos olhos, suas íris vermelhas brilham.

- Demônios? - Elizabeth franze o cenho e em seguida pula na cama levantando-se as pressas. - Onde estou? Merlin ficou para trás e tem o Hawk também!

- Acalme-se senhorita. - O homem de cabelos rosas acena para que a humana se sente na cama e puxa uma cadeira para se sentar. - Os dois estão seguros, garanto. Só precisamos conversar um pouco.

- Onde estou?

- Você está no centro de treinamento dos cavaleiros de Liones. Nós somos cavaleiros sagrados do Rei. - Ele se explica. - Eu sou Gowther, a loira é a Elaine, o cara alto é o Ban e aqueles alí são Diane e King.

- Liones é longe de Istar! - Elizabeth exclama incrédula. - O que faziam lá?

- Longa, longa história. - A mulher identificada como Diane responde e se aproxima, seus passos rangendo e ela se senta na beira da cama, ao lado de Elizabeth. - Mas para encurtar a história, estávamos no rastro dos demônios que passaram por você em Istar.

- Os demônios não foram aniquilados? - A curandeira questiona confusa e os cavaleiros negam em uníssono.

- Eles estão presos no purgatório, ou estavam até pouco tempo. - Ban resmunga. - Não sabemos o que está acontecendo, mas à um pouco mais de uma década demônios estão saindo do purgatório em hordas, são em sua grande maioria vermelhos. Grandões de dois corações mas que podem fazer muita bagunça. O rei Baltra está treinando homens e mulheres que tenham talento para combater essas pragas.  Somos uma equipe de cavaleiros sagrados escolhidos por ele para caçá-los pela Britannia e tentar entender o que está havendo.

- O que acontece, é que a cada ano que se passa mais demônios escapam e eles vagueiam pela terra destruindo tudo como se estivessem procurando algo. - Elaine complementa. - Não sabemos o que é e recentemente mudamos a estratégia de deixá-los procurarem o que querem e matá-los antes que as coisas fiquem graves demais.

Elizabeth ainda a encarava confusa e lentamente arqueou as sobrancelhas reconhecendo a garota loira e o rapaz franzino e ruivo atrás da mesma que carrega uma lança afiada na mão esquerda. Ambos tem orelhas pontudas e olhos dourados que brilham como ouro líquido.

- Vocês são fadas. - Ela afirma em choque. - Harlequin e Elaine... Rei e princesa da floresta das fadas.

Ela se vira para os outros e cerra o olhar.

- O que são vocês? 

- Humano que bebeu da fonte da juventude, imortal. - Ban sorri mostrando os caninos afiados. - E protetor da floresta das fadas.

- Princesa dos gigantes. - Diane murmura.

Gowther encolhe os ombros.

- Sou um feiticeiro.

- Por que me trouxeram aqui?

Os cinco se encaram como se avaliassem se contavam ou não, Diane é a primeira a falar agarrando a mão de Elizabeth antes.

- Nós precisamos de mais gente no nosso grupo para caçar os demônios.

- Mas sou humana não tenho utilidade para vocês. - A curandeira puxa a mão e encara Diane que franze o cenho para a mesma.

- Desculpe, Elizabeth, mas há algo em você que não é humano.

A humana arregala os olhos e se levanta da cama em um pulo, afastando-se deles apavorada.

- Eu não os disse meu nome. Como sabiam?

- Droga... Olha, podemos explicar. - Harlequin tenta intervir, porém a porta do pequeno quarto se abre e Hawk passa afobado latindo seguido de Merlin, que também está usando uma armadura parecida com a dos outros. 

- Eles sabem de você através de mim.

- Merlin! Você os conhece? - Elizabeth está pálida, como se a qualquer momento pudesse desmaiar novamente.

- Felizmente sim, Ellie. Baltra me convocou para trabalhar com eles anos atrás para abater os demônios que sobem a terra. - A feiticeira a responde com calma. - Porém quando estávamos os perseguindo ontem, eles subitamente mudaram de rota e passaram por Istar, eles alcançaram a cidade antes de nós.

- Isso não explica o porquê estou aqui! - Elizabeth gritou.

- Porque, Elizabeth, eles morreram depois que passaram por você. - Gowther respondeu, indo para o lado da garota. - Você estava desacordada no meio de toda a destruição apenas sufocando com Miasma. E era para estar morta pela horda que passou, mas alguma coisa... Alguém, protegeu você.

- E por isso queremos você conosco.

Elizabeth os encarou estupefata, qual seria sua utilidade contra ataques? Há dois feiticeiros, duas fadas, um imortal e uma gigante e ela, a curandeira entre eles.

Sem mais opções ela bufou.

- Tudo bem, eu aceito.

Ela cruzou os braços sob o peito e encarou os seis que já conversavam entre si, nas costas da armadura de todos o símbolo da flor de lis está entalhado. Em silêncio ela se encosta na parede ainda tentando digerir tudo que soube e franziu o cenho.

Merlin dizia que o clã foi dizimado e agora ela descobre que estão apenas presos, Merlin mentiu para ela e agora a quer com os outros cavaleiros por ela ter sobrevivido pela passagem dos demônios. Suspirando ela deslizou pela parede até se sentar no chão de pedra frio e acariciou a cabeça de Hawk que descansou em sua perna. Merlin mesmo opinando na discussão com os demais a encarava volta e meia de esguelha, como se se certificasse que tudo está bem com ela.

Seu peito ainda está estranho quando respira e há uma dor no fundo de sua cabeça que lhe atormenta. Elizabeth fecha os olhos e descansa a cabeça na parede, sob seu corpo o chão parece pulsar como aconteceu em Istar e ela ouve uma voz masculina fraca e rouca chamar seu nome.

Elizabeth.

Assustada ela olha ao redor para ter certeza que não é ninguém dali a chamando e sente o coração acelerar no peito, pressionando contra suas costelas.

O que os demônios fizeram com ela?

My Demon - A reencarnação da deusa.Onde histórias criam vida. Descubra agora