Prelúdio

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- Venha, ela está aqui.

Caminhando apressado pelas ruas sinuosas de uma cidade ao sul do que um dia foi uma Britannia dividida por clãs e guerras. Meliodas acompanha um jovem mulher de olhos cor de âmbar, Merlin.

Apesar de ambos aparentar serem novos ninguém sabia a verdade além dos dois. Um demônio de elite e uma maga com magia infinita, responsáveis pelo fim da Guerra Santa que matou centenas de milhares.

O clã das deusas fora reduzido as cinzas pela fúria do loiro que após se vingar pela morte de Elizabeth e com a ajuda de Merlin e do sangue de Ryudoshel, selou o clã dos demônios para uma eternidade presos no purgatório onde o Rei vive.

O coração do loiro bate desenfreado no peito quando ambos entram em uma casa humilde, no quarto de paredes esburacadas e uma cama antiga há um berço de balanço onde uma bebê de poucas horas repousa.

Meliodas sorri e observa maravilhado a bebezinha, ele conseguia sentir  a presença de sua Elizabeth nela. Com cuidado ele pega a pequena criaturinha frágil em seus braços e sorri aliviado, de fato ela tinha reencarnado.

- Esperei por um milênio para tê-la comigo novamente, Elizabeth.

Desta vez ele a protegeria desde pequena, teria sua amada segura perto de si. Ainda seria o garoto-demônio por quem ela se apaixonaria no fim de tudo.

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Há exatamente um milênio atrás Meliodas não tinha mínima idéia de que sua vida mudaria tanto assim. Ele tinha aceitado o fato que o trono do Rei Demônio seria seu por direito, afinal ele é o primogênito dele.

Seus dias sempre envolviam punir os demônios que não respeitavam-no e treinar horas a fio com o grupo que ele era líder, os dez mandamentos.

Quando ele conheceu Elizabeth, realmente teve pena daquela criatura, uma deusa que não conhecia seu próprio potencial e principalmente, ela não conhecia nada sobre os outros clãs e acreditava em tudo que seu povo dizia. Meliodas realmente não fazia idéia de quando seu interesse em apenas tentar desvendar a deusa tornou-se paixão, foi aos poucos, essa é a única certeza que ele tinha.

Aquela criatura de beleza estonteante e de tamanha ingenuidade conquistou-o de tal forma que ele se viu encantado em qualquer coisa que ela fazia, e em sua garra para provar seu poder e potencial.

Quando ela entregou-se totalmente a ele, sucumbindo ao desejo carnal que jamais havia sentido em sua existência, Meliodas soube que seria capaz de trair seu próprio clã para tê-la segura. Elizabeth carregava o filho deles quando Merlin encobriu tal mancha em sua áurea para que ela não fosse rejeitada por seu clã e, no dia em que Mael matou-a sem demonstrar remorso, Meliodas finalmente entendeu o porquê de ser o sucessor de seu pai.

A destruição que causou cego pelo ódio ao clã das deusas o fez quase reduzir todos os clãs ao pó. Britannia tornou-se apenas um vasto campo queimado pelo fogo inapagavel do inferno, enquanto ele prendeu seu clã para a eternidade no purgatório e selou tal ato com o sangue de Ryudoshel.

Os séculos seguidos foram tão torturantes que diversas vezes Meliodas desejou não ter saído daquele último lugar onde se encontrou com Elizabeth, quando ela estava nervosa pela guerra e ele distraiu-na agindo como o amante verdadeiro apaixonado por ela que era. Diversas vezes ele saira sem rumo gritando aos quatro ventos o quanto odiava Ryudoshel e seu irmão psicótico que tirou dele o que mais amava.

Sua punição por trair seu clã foi passar mil anos desesperado com a idéia que ficaria sozinho para sempre, que Elizabeth jamais reencarnaria por ter sido corrompida por um demônio. Por ter amado Meliodas.

(••••)

A lua cheia a pino no céu estrelado ilumina o interior daquele quarto desgastado, o vento frio que sopra os cabelos loiros de Meliodas para todas as direções não o incomoda, porém ele puxa o cobertor sobre o corpinho frágil da bebê em seu colo e a acolhe para mais próxima de seu peito. Encantado ele continua observando a bebê que dorme tranquilamente com as mãozinhas pequenas rentes ao rosto ainda inchado, delicadamente ele escova com os dedos os poucos fios prateados do cabelo dela para trás e sorri quando a mesma faz carinha de choro e volta a dormir.

- Eu estou aqui, Elizabeth. - O loiro murmura e olha por cima do ombro quando Merlin entra no quarto e em silêncio se senta do seu lado na cama - Você consegue sentir a presença dela também?

- Desde o momento que encontrei a humana grávida.

- Precisei de um milênio para isso - Meliodas diz aliviado - Eu sabia que ela realmente reencarnaria.

- Ela te prometeu, não é?

A jovem maga espia a criança no colo de Meliodas e toca no ombro do mesmo.

- Apesar de tudo ela é humana, Meliodas. Significa que ela é frágil e mortal.

O loiro engole em seco movendo a cabeça em concordância.

- Devemos ser cuidadosos.

- E provavelmente ela não se lembrará da vida passada...

- Eu direi quem ela foi... Quem nós éramos somente quando Elizabeth tiver idade para entender.

A morena sorri para passar conforto para ele e carinhosamente beija a testa dele.

- Estou feliz que a Ellie voltou para você, para nós.

Novamente sozinho no quarto Meliodas envolve protetoramente a bebê humana em seu colo e olha para seu rostinho inchado.

- Eu vou protegê-la, minha Elizabeth.

My Demon - A reencarnação da deusa.Onde histórias criam vida. Descubra agora