Curandeira

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• Catorze anos depois.

Os gemidos e lamúrias de dor esgueiram-se para o exterior do cômodo onde duas mulheres estão. Na sala andando de um lado para o outro incorformando e amedrontado o esposo da mulher está, por ordens da parteira e também pelos gritos de sua mulher, foi decidido que ele ajudaria mais se não estivesse no cômodo.

Agitado o homem olha para o canto esquerdo, onde sentado nas patas traseiras um cachorro preto de porte grande está guardando a porta de madeira. Ele pouco parece de importar com os gritos que acontecem uma vez ou outra, ou até mesmo para as ordens dadas pela parteira. Após horas de espera que pareceram durar horas o choro agudo e meio engasgado de um bebê soa, acompanhado pela exclamação de alívio da mãe e o a voz suave da curandeira.

- É uma menina. - A mulher de traços joviais diz alegre, enrolada num pano com manchas de sangue e de fluídos do parto a pequena recém nascida está chorando em plenos pulmões. Com movimentos calmos para não assustar a bebê ela lhe entrega nós braços da mãe e se levanta do banquinho de madeira onde estava, até a placenta sair o pai do bebê poderia ficar no quarto. - Dale, sua esposa lhe espera.

As pressas Dale entra no cômodo e se põe de joelhos ao lado da cama onde sua esposa está deitada, ela sorri amavelmente para o marido com os olhos brilhando. A filha deles é a cópia exata da mãe.

- Escolheu o nome dela, querida? 

- O que acha de Guila? - Friesia questiona baixinho e recebe um acenar positivo do marido.

- É um excelente nome.

Sorrindo ternamente a  parteira termina de tirar a placenta e enrola os restos com os panos agora sujos que usou e se levanta agora curvando-se.

- Voltarei mais tarde para verificar se está tudo bem com vocês.

- Obrigada, meu bem. - Friesia fala verdadeiramente agradecida. - Você é uma excelente curandeira e parteira.

- Tenho uma boa tutora. - Elizabeth sorri transformando seus olhos sempre tão curiosos em pequenos riscos, em questão de segundos ela se torna séria novamente e encara Dale. - Não deixe que ela se levante pelas próximas cinco horas e coloque roupas quentes na criança.

- Certo.

- Até mais.

Despedindo-se do casal, Elizabeth deixa a pequena cabana para trás e caminha tranquilamente com Hawk lhe fazendo companhia. Vaizel é um vilarejo que está se expandindo rápido e diariamente recebe mais e mais habitantes, o que sempre deixa Merlin e ela ocupadas em manter todos saudáveis e bem. Principalmente com o inverno rigoroso que está se aproximando.

- O dia está estranho hoje, não é, Hawk? - A mulher questiona olhando brevemente para o céu nublado do meio do dia, não estava realmente frio, mas um vento gelado uma vez ou outra soprava arrepiando seus braços desnudos. O cão funga como se concordasse com ela e Elizabeth ri baixinho voltando sua atenção para o caminho que está percorrendo, apesar de ter catorze anos o cão aparenta ser jovem e nem ao menos pêlos brancos têm.

A estreita estrada de terra por onde está seguindo leva diretamente aos armazéns do vilarejo, onde Elizabeth precisa comprar frutas e outros alimentos para Merlin e ela. Logo o inverno será rigoroso demais e o alimento ficará escasso.

Horas depois, por acabar brincando com as crianças e até cuida do de aldeões que acabaram por se ferir em algum trabalho, a prateada enfim chega em sua casa. Soltando a respiração pela boca após arrepiar, ela fecha a porta de madeira atrás de si e desata o nó de seu casaco de pele, sob o capuz seus cabelos longos estão presos em duas tranças embutidas.

- Merlin? Cheguei! 

Sobre a mesa da cozinha ela deixa o cesto com as coisas que comprou e segue para a sala da cabana. Não encontrando sua tutora no cômodo, Elizabeth segue até o quarto e encontra a mulher lendo um de seus livros de magia.

- Merlin. - Ela diz em tom baixo, como se temesse assustá-la. - Trouxe lichia.

- Oh, obrigada, Elizabeth. - Os olhos âmbar erguem-se do livro e ela sorri abertamente fechando na página onde havia anotações. - Como foi o parto da Friesia?

- A menina tinha o cordão umbilical enrolado no pescoço, mas eu tirei a tempo. O parto foi tranquilo.

Merlin assente movendo a cabeça e se levanta da cama onde estava sentada, quando chega ao lado da humana ela sorri e vê Hawk atrás da mesma.

- Você demorou achei que tivesse tido imprevistos.

- Sabe que eu não tenho isso.

A maga anda até o cesto sobre a mesa e pacientemente começa a tirar as compras. Movendo-se silenciosamente pelo cômodo Elizabeth puxa uma cadeira para se sentar e após apoiar o rosto na palma da mão ela observa a morena.

- Merlin, meu aniversário está chegando. Quando você me contará sobre meu passado?

- Logo, Elizabeth. Tenha paciência.

Frustrada a jovem mulher bate a mão na mesa e bufa como uma criança mimada, Merlin que via aquilo de esguelha vê o momento exato que as íris azuis brilham em um laranja e o símbolo aparece por apenas milésimos de segundos e novamente é só a reencarnação humana. Mesmo afastando Meliodas dela quando criança, isso não adiou seus poderes de aflorarem e para mascarar isso, a maga resolveu ensiná-la os ofícios da medicina humana para transformá-la em curandeira. Desta forma seus poderes seriam usados de alguma maneira, entretanto eles estão notavelmente mais fortes agora, o que assusta Merlin.

Até onde o corpo frágil humano aguentaria um poder divino? 

- Urgh! - A maga se curva quando sente o feitiço que usou para prender Meliodas enfraquecer momentaneamente, durante alguns surtos de Elizabeth, o poder demoníaco de Meliodas pulsava como se tentasse de alguma forma alcançá-la ou responder a ela.

- Merlin! - A prateada exclamou assustada se erguendo de sua cadeira, porém foi parada pela morena que ergue a mão.

- Estou bem, é apenas uma dor de estômago. 

Por quanto tempo mais ela conseguiria esconder a verdade?

My Demon - A reencarnação da deusa.Onde histórias criam vida. Descubra agora