Heart's on fire

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Seus olhos são bonitos – ela disse, de repente.

Certo, se eu já estava sem estruturas antes, o que eu devo fazer agora? Não é todo dia que alguém que você gosta elogia você, não é?

Eu continuava meio petrificado, ainda assimilando o que ela acabara de dizer. Percebendo minha demora para responder, Cloe voltou a mirar o longe.

— Desculpe.

Eu preciso dizer alguma coisa.

— Obrigado – disse, por fim. – Seus olhos são ainda mais lindos.

Cloe levantou a cabeça e me olhou novamente, agora com um sorriso miúdo.

— Meus olhos são pretos – falou humorada –, como podem ser lindos?

— Ora, os meus são castanho escuro o que não é lá muita coisa, e você disse que são bonitos – retruquei.

— Ao menos não são completamente pretos – reclamou. – Eu sequer consigo ver minha pupila!

— Isso não é um problema.

— Diz isso porque você consegue – resmunga.

Ela não poderia achar que seus olhos pretos não eram uma linda qualidade sua, poderia? Oras, se ela soubesse que eu às vezes me perco neles...

— São como universos... – começo.

— O que?

— Seus olhos são como
universos – repito, e Cloe fica estática. Com seu silêncio, continuo: – Lindas galáxias presas em uma única pessoa. Você sabia que o preto reflete a luz mais intensamente? – questiono retoricamente. – Vejo, através de seus olhos, refletir toda a luz que há em você. E isso é lindo.

Você é linda, completei, mas não disse.

Cloe continuou me olhando, agora, mais intensa que antes. Bem, ao menos uma parte do que eu sinto eu disse.

— Você está lendo muitos livros de poesia – disfarçou.

E voltamos para a estaca zero.

— Esses são os melhores – continuei.

— Deveria me emprestar alguns, assim vou virar poeta, como você.

A poesia só existe se a sua inspiração for real, você deve sentí-la lhe disse.

— Qual é a sua?

Novamente, seus olhos viraram-se para mim, e o momento de minutos atrás volta a se repetir. Espero que ela consiga entender que ela é minha inspiração para praticamente tudo.

Minha resposta veio de modo não verbal, e eu realmente espero que ela tenha notado isso.

Subitamente fomos surpreendidos com a chuva caindo sobre nós, e Cloe logo se pôs em pé, já pronta para voltar. Mas Cloe merece uma resposta, não merece?

Antes de que subisse completamente o pequeno morro, eu a puxo pelo pulso, a obrigando a voltar para o lugar. Graças a grama – agora – escorregadia, Cloe não conseguiu se manter de pé por muito tempo, logo seus joelhos encontraram o chão.

— Você ficou maluco?! – a ajudo a se levantar. – E se eu tivesse quebrado uma perna?!

— Não exagere, senhorita Johnson – lhe respondi, rindo de suas falas.

— Vamos logo, a chuva pode piorar – tentou me puxar, mas usei um pouco mais de força para trazê-la de volta. – 'Tá afim de ficar doente?

— Eu quase nunca fico doente – Se eu menti? É, pode ser que sim.

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