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Estou de pé no topo da escada colocando alguns livros na prateleira da biblioteca, quando sinto ela se mover para frente e para trás bem rápido, é claro que eu caio e derrubo alguns livros comigo.

Quando olho para a escada, Bruce está atrás dela com um pedaço enorme de pizza na boca tentando sorrir e mastigar ao mesmo tempo.

"Porra, você me empurrou? Ficou maluco?"

Tento me recompor e pego os livros do chão.

"Aí cara, tenho uma boa pra gente hoje."

Não falo nada tentando mostrar que estou irritado, mas não consigo ficar irritado por muito tempo com Bruce.

"Our party!"

Bruce fala ainda feliz e mastigando. Our party é uma boate.

"Caras, garotas, bebidas, drogas, tudo!"

Ainda não falo nada.

"Qual é, Tony!? A gente tem que ir. Qual foi a última vez que você bebeu fora de casa?"

Penso e vejo que ele tem razão. Faz muito tempo.

"Tá bom, Bruce, você venceu."

Sei que não não vou conseguir ficar em paz se não ceder logo, mas estou afim de ir.

*

Minha cabeça gira quando inclino para trás buscando algum ar puro. Tento firmar minha visão, acho que Bruce está estendendo mais um copo de qualquer bebida que encontrou.

"O que é isso?"

Pergunto gritando, a música é alta.

"Eu não sei!"

Ele responde rindo e gritando também. No final das contas eu bebo tudo.

Bruce levou duas garotas para sair com a gente, lembro de ter beijado uma delas ou as duas, não sei dizer.

"Ei, vamos lá fora. Tenho que respirar."

Falo no ouvido de Bruce e ele acente, as duas garotas também nos acompanham.

Lá fora está um pouco frio e eu procuro por um cigarro em meus bolsos, mas não acho. Bruce beija uma das meninas enquanto a outra olha pra mim querendo perguntar: "quando você vai me beijar?"

"Você tem cigarro aí?"

"Não."

Ela responde.

De repente dois caras gritam nervosos. Estavam atravessando a rua quando um carro para em cima deles. Por pouco não são acertados pelo veículo.

"Ei, você perdeu o juízo?"

Um dos caras na rua grita e bate com a mão no capô do carro. O motorista não fica nada contente e sai de dentro do carro com outro cara e começam a brigar com os dois pedestres.

Bruce para de beijar e observa. Eu vou até a briga. A menina tenta me puxar pelo braço, mas eu puxo de volta.

"Ei Tony, volta pra cá."

Bruce pede sabendo que eu não vou obedecer.

"Ei, você tem que olhar por onde anda."

Falo para o motorista.

"Quem é você seu idiota? Está procurando por uma briga?"

O homem que é gordo berra em cima de mim e eu acerto um soco no rosto dele. O amigo dele me pega e bate na minha costela com o punho, os outros dois caras também se envolvem e brigam com os caras do carro.

Consigo jogar o motorista no chão e dou vários socos nele até Bruce me arrancar de cima dele.

"Tony, o que você está fazendo? Para com essa merda!"

Minha camisa branca lisa já está respingada de sangue, talvez meu, talvez do cara, talvez os dois.

Logo a polícia chega e algema todos nós, inclusive Bruce que está me olhando com um olhar mal para saber que está irritado comigo.

Estamos todos encostados no muro, enquanto um policial branco de meia idade do cabelo liso grisalho medio jogado para trás fala com as meninas.

"Quem estava na confusão eram só esses quatro."

A garota do Bruce aponta para os outros encrenqueiros.

"Liberem esses dois."

O policial fala e logo tiram as algemas de mim e de Bruce.

Percebo que o policial não vai soltar os caras que estavam tentando atravessar a rua. Vou atrás dele.

"Ei, aqueles dois são inocentes."

Falo mas o policial nem sequer vira para me olhar.

"Vai para sua casa, garoto."

Fico zangado e pego ele no ombro.

"Eles não fizeram nada, faça a droga do seu trabalho."

Em um movimento rápido, o policial se vira e coloca meu braço para trás das costas, me jogando contra o capô da viatura. Bato com força meu rosto que já está bem machucado no para-brisas. Ele me algema de novo.

*

Me jogam em uma cela com outros presos marrentos que fazem barulho. Minha camisa já não branca, está com sangue seco e meu rosto dói o suficiente que eu não consigo nem tocar.

Fico num canto de pé com os braços cruzados, até que Bruce entra furioso.

"O que diabos você estava tentando fazer, Tony?"

É agora que ele vai bancar ser meu irmão mais velho.

"Por que você brigou com aqueles malucos?"

Eu começo a sorrir lembrando da cena. Realmente não tem explicação.

"Porque eu achei certo." respondo.

"Ah, você acha isso engraçado? Tony, eu quero algo da minha vida. Quero me formar e ter planos, se você se sente feliz só assistindo aulas nas quais não está matriculado e trabalhando na biblioteca o problema é seu, só não me leve junto nas suas merdas!"

Droga, eu só consigo rir. Bruce zangado é muito engraçado.

"Quero ver se vai achar engraçado quando olhar quem eu trouxe."

Paro de rir e olho para o outro lado das grades. É o meu pai, sempre de terno mostrando o homem de negócios que é."

"Você chamou ele?" pergunto sem risadas.

"Ah, sim. Eu chamei mesmo, Tony. Me processa!"

Bruce sai da cela e me deixa com os outros presos gritando e meu pai me encarado.

Andando para fora da delegacia eu não digo uma palavra.

"Não vai me agradecer por ter pagado sua fiança" ele pergunta com ar superior.

"Não foi eu que liguei."

" Olha Tony, pode tentar não se meter em problemas?"

Eu paro de andar e olho para ele.

"Quanto foi? A fiança? Eu vou te pagar."

Boto as mãos na cintura tentando passar confiança.

"Um advogado custa 400 dólares por hora." ele responde tirando toda a minha marra.

"Não pode ser!" eu perdi essa.

"Não tenho tempo para suas rebeldias sem causa, Anthony." ele fala sério.

"Não precisa lidar com isso." saio de sua presença e o deixo falando sozinho.

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