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Claro que eu fui de bicicleta. Depois de passar pela porta e a maçaneta quebrada, jogo ela de qualquer jeito no chão da sala, ignoro Steve de pé tentando falar comigo e saio do cômodo ainda cego.

Steve vai atrás de mim e com as mãos fortes tenta me fazer parar de andar me encostando na parede. Eu não quero abrir meus olhos, não quero olhar para ele desse jeito, não quero que ele olhe para mim assim.

"Não, me solta" eu peço ainda sem abrir os olhos.

Ele segura meus dois braços na altura no peito. Eu só balanço minha cabeça.

"Ei, tudo bem, tudo bem" ele faz com uma voz tranquila que me acalma. "Eu estou aqui!"

Eu abro meus olhos e vejo o rosto dele contra a luz, seus olhos estão mais escuros.

Olho para sua boca avermelhada e o beijo. Com força e vontade, saio da parede e o encosto em outra. Ele me levanta e me segura no colo me beijando loucamente. Steve sabe o que está fazendo, eu sei o que eu estou fazendo e acho que não é mais fingimento. Eu preciso dele também.

Terminamos na minha cama, ele passa os dedos nos meus cabelos e eu estou com a cabeça encostada seu seu peitoral sarado.

"Meu irmão mais velho cometeu suicídio quando tinha 21 anos." falo.

Steve continua acariciando minha cabeça.

"Quando começou a trabalhar com o meu pai."

"Onde quer que ele esteja, está cuidando de você." ele fala mas não sei se é verdade.

"E como você está com seu pai?" pergunto mudando de assunto.

"Ele não é uma pessoa ruim. Só não concordamos sempre, ele tenta ser protetor ao extremo porque eu sou a única família que ele tem. Eu o amo muito."

*

Steve enrola os dedos no fio do telefone. Resolver falar com o pai antes da viagem.

"Oi pai. Quero avisar que estou bem, estou com uns amigos e agora vamos fazer uma viagem para a praia. Se cuida." deixa a mensagem de voz e desliga.

Partimos, Steve, Bruce e eu. Pegamos um trem. Eu fico ao lado de Steve, me encosto em seu corpo enquanto ele passa seu braço em volta de mim, olhamos juntos a paisagem pela janela, que é bem melhor que a vista da janela do meu apartamento. Bruce está no banco de frente para nós, conversamos e rimos das bobagens contadas por ele.

Me sento na areia e me concentro para ler este livro que roubei da biblioteca semana passada e ainda não terminei. Provavelmente porque gasto muito tempo com Steve, não estou reclamando.

Ele corre em minha direção e se senta ao meu lado, me abraça e faz com que nos deitemos na areia quente. Me envolve ainda em um abraço e me mostra aquele lindo sorriso até me beijar livremente, tem gosto de sal e eu gosto disso. Por favor Steve, fique para sempre se você quiser. Eu vou adorar.

Seus cabelos molhados caídos sobre os olhos azuis da cor dessa água, ele é tão perfeito. Será que posso dizer que não me arrependo de ter me aproximado dele de forma mesquinha? Quer dizer, se não fosse pela ideia estupida de Bruce, eu nunca chegaria perto desse cara. Fico pensando se Steve se aproximaria de mim, provavelmente não.

Quando voltamos no trem da tardezinha, Steve se diverte com a historia maluca de Bruce sobre ter ficado com a garota esquimó que trabalha numa lojinha de animais perto da faculdade. E eu me divirto ouvindo a risada de Steve enquanto isso.

Mas não deixo de notar um cara estranho de pé no trem olhando fixamente para Steve, não sei se fico preocupado ou com ciúmes. O homem desaparece depois de alguns minutos e eu esqueço dele por enquanto.

Chego em casa sozinho pois Steve sentiu necessidade de se certificar que Bruce estava mesmo falando a verdade sobre a garota esquimó e vão juntos a lojinha de animais. Percebo que a porta está aberta. Alguém entrou aqui.

Ando devagar na sala e pego um taco de beisebol e vou para o interior do apartamento.

Vejo o policial sentado na minha cama, o próprio pai de Steve me olhando como se me conhecesse.

Abaixo o taco de beisebol.

"O quê você está fazendo aqui?" pergunto com a voz calma sem me alterar.

Ele se levanta, coloca as mãos na cintura.

"É isso que você está fazendo?" pergunta como se soubesse sobre meu jogo.

Eu balanço a cabeça só não querendo lidar com isso agora.

"É isso o que você está fazendo com o meu filho?" ele é mais especifico. "Quer me atingir, rapaz?"

Gostaria de dizer que não, dizer que realmente amo o filho dele, gostaria mesmo. Mas o que eu digo é algo bem diferente.

"É, foi só uma vingança mesmo. Não significa nada para mim."

O policial fica furioso e avança em minha direção. Eu não tenho tempo de me defender com meu taco, o homem pega meu braço e eu deixo o taco cair. Ele me prende contra a parede e me enforca com o braço.

"Fique longe do meu filho ou eu dou um jeito dele ficar longe de você."

Eu estou vermelho e sem ar, ele me olha com ódio explicito, deve está contando mentalmente o tempo que uma pessoa consegue ficar sem respirar antes de desmaiar. Me solta finalmente e eu escorrego pela parede até cair ao chão forçando a respiração.

Ele anda para a porta e antes de sair, faz questão de me humilhar uma ultima vez.

"E vê se compra uma maçaneta decente!" bate a porta.

Eu fico me contorcendo no chão segurando a barriga, chutando as paredes ainda do chão. Tudo o que posso fazer agora é esperar por Steve.

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