"You are the reason."

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Por favor, volte agora.
Porque, você é a razão.
"You are the reason "- Calum Scott.

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"Eu te amo."

"Se cuida."

Eram as palavras que rondaram sua mente, a noite toda. Mais um dia sete chegara, e com ele, a maior dor que já sentira na vida.
Rolava na cama, de um lado para o outro. Seu corpo suava frio, seus olhos, ainda fechados, transbordavam pelo travesseiro, tentando desafogar o coração apertado no peito. Mas não funcionou, nunca funcionaria.
O sol não aparecera dessa vez, não aparecia mais como antes. Ele se sentou na cama, esfregando os olhos e passou as mãos pelo rosto. Menos uma noite de sono.
Um pequeno choro o devolvera para a realidade, o fazendo se levantar e caminhar até o berço móvel ao lado da cama.

"Oi minha linda."- falou, encarando o serzinho deitado, já de olhos abertos e pouca paciência.

Sorriu fraco ao pega-la no colo, lhe beijando a bochecha e a embalou nos braços.

"Muita fome?"- perguntou, a observando diminuir o choro e até parar.- "Então vamos, tá na hora."

Se arrumou após alimentá-la e vesti-la, pegando o carro quando terminou e saiu. Passou na floricultura, descendo junto da filha e entrou na loja.

"Oi, eu quero um..."

"Lírio amarelo."- a atendente sorriu.- "Bom dia senhor Lew."

Sean abaixou a cabeça, assentindo levemente e ajeitou a bebê em seu colo.

"Hoje é o dia?"

"Sim."

"Claro, vou pegar a mais bonita pra você."- a mulher respondeu.

Saíram assim que ele pagou pela flor, seguindo o caminho até o destino. Ele colocou a filha no carrinho, como fazia frio naquela manhã, era bom que ela ficasse quente o suficiente para não pegar nenhum resfriado.
Caminhou até o lugar, suspirando quando chegou. Permaneceu ali, intacto e perdido nos próprios pensamentos.

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Flashback on:

"Vou deixar ela na minha mãe, e já vou direto hoje."- ela avisou ao se aproximar dele, sorrindo ao sentir os braços lhe envolverem a cintura.- "A gente se vê no jantar?"

"É claro, eu também moro aqui."- riu.- "O que vai quer comer hoje?"

"Hm... é um belo dia pra um japonês, não acha?"- fez bico, o fazendo rir.

"Com certeza."- assentiu, lhe dando um selinho demorado.

Se afastaram ao ouvirem o pequeno choro se iniciar, voltando toda a atenção para o serzinho responsável pelo barulho.

"Muito tempo sozinha, mamãe."- Kaycee afinou a voz ao se aproximar do carrinho.

Pegou a filha, tão pequena que quase lhe cabia nas mãos. Com pouco mais de dois meses, Clarice era a criança mais incrível e iluminada que já conheceram. Por ser deles.
O casamento à dois não durou tanto tempo assim, já que, Kaycee engravidara logo de início, talvez até na lua de mel. E isso era maravilhoso.
Tinha a sorte de ter ao lado seu melhor amigo de uma vida inteira, que agora era seu marido, seu companheiro e seu amor.

"Não demora pra voltar, tá?"- ele pediu ao se aproximar delas, a ajudando levar as coisas até o carro na garagem.

"Deixa comigo."- sorriu, lhe dando um beijo.- "Tchau papai."- falou, brincando com as mãozinhas da filha em seu colo e a colocou na cadeirinha no banco de trás.

Entrou no carro logo em seguida, rindo ao receber vários beijos estalados dele.

"Eu te amo."- disseram juntos e riram.

"Se cuida!"- Sean falou, a observando ligar o carro e sair logo em seguida.

O pior dia de sua vida.

Flashback off.
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Se lembrar disso era uma tortura, ainda tinha as imagens tão nítidas em sua mente que poderia dizer que acontecera no dia anterior.
Naquele mesmo dia, sete de outubro do ano passado, fora o último da vida dela. Sua vida perdida num acidente de trânsito. A vida de seu amor, a vida de sua mulher. A vida de sua vida. E doía demais.
Ainda se lembrava do momento que recebeu a notícia, da forma que deixara tudo de lado para correr até o lugar. Se lembrava do desespero ao ver o carro dela capotado no meio da avenida, dos vidros estilhaçados pelo asfalto, e de seu corpo já na maca da ambulância.
Se lembrava de correr até ela, de se debruçar na cama móvel e segurar seu rosto ensanguentado. De pedir, gritar e rezar para que tudo fosse mentira e que ela acordasse. E de como chorou quando isso não aconteceu.
Se lembrava de ver a sogra em completo pânico, os cunhados, irmãs e seus pais chegando depois de um tempo, tentando afastá-lo dela, que ainda a segurava, em prantos.
    Se lembrava de como ela estava pálida e gelada, tão diferente do comum. E essas lembranças doíam mais do que mil facadas no peito.

"Oi amor, eu vim te ver."- ele falou.- "Eu to bem, e a baixinha também. Tá com seis meses e três dias agora, já aprendeu a sentar e até segura a mamadeira sozinha na hora de mamar."- sorriu, olhando a pequena no carrinho.- "O trabalho vai bem, as edições não param de chegar pra mim, às vezes é até meio difícil..."- suspirou.- "Eu não faço mais aula, saí dos estúdios e..."- sentiu os olhos marejarem.- "Hoje fazem quatro meses, eu sei que sabe disso..."

Sua garganta embargou, e ele se permitiu derrubar todas as lágrimas que segurava.

"Sua mãe ainda não acredita, vem aqui todos os dias como eu e seu pai."- falou, a voz falha por conta do choro.- "A Bay também, foi difícil, mas acho que agora ela tá mais calma."

Encarou a flor em sua mão, se ajoelhando e a colocou com cuidado no grande vaso que tinha ali, junto das outras.
Tentou se levantar, mas sentiu as pernas falharem ao ler seu sobrenome da lápide de mármore.

"Por que você foi? Ela precisa tanto de você, eu preciso tanto de você..."- lamentou.- "Eu preciso tanto, tanto, de você Kaycee..."

Os soluços dele preencheram aquele cemitério silencioso.

"Eu faria qualquer coisa para que estivesse aqui, eu juro..."

"Eu escalaria todas as montanhas."

"E nadaria todos os oceanos."

"Só para estar contigo."

"Eu passaria cada hora de cada dia."

"Mantendo você segura."

Outro choro lhe chamou atenção, o fazendo juntar as forças e se levantar. Pegou a filha no colo, voltando para onde estava e se sentou no chão, para não ter o perigo de falhar novamente e cair.
Observou a pequena em seus braços, tão nova, e tão parecida com ela. Os olhinhos eram da mesma cor, assim como a pele clara e os cabelos ondulados. Linda como a mãe, e agora, mais do que nunca, sua motivação para não desistir.

"Espero que esteja sorrindo aí em cima, que seja um lugar bom o suficiente pra você."- sussurrou ao olhar para o céu.- "Meu amor."

A brisa que batera em seu corpo o envolvera por completo. Sean fechou os olhos, respirando fundo com o vento. Como se ela o abraçasse, de onde quer que estivesse. Como se beijasse seu rosto, como se sussurrasse em seu ouvido.

"Se cuida."

"Eu te amo."

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Puta merda gente, mil perdões por esse. Tive uma crise, ouvi essa música, e pensei nisso aí. Não foi intenção doer tanto, eu juro. E, agora que eu já consegui terminar e chorei mais do que podia, vim trazer pra vocês. Enfim, espero muito que gostem e não se esqueçam de favoritar e comentar o que acharam, beijos de luz e até a próxima✨💛

Ps.: . . .

Sim, nós somos apenas melhores amigos.Onde histórias criam vida. Descubra agora