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Narradora.

Thomas estacionou em frente à casa modesta de andar único. À primeira vista, o local parecia simples para quem o via de fora, mas, a partir do momento em que qualquer visitante entrava, a propriedade se revelava de outra forma.

Fazia alguns meses que Thomas não vinha a esse lugar. Ele não gostava de estar aqui, mesmo tendo ele próprio comprado a casa. Comprara-a meses antes da morte de sua noiva; ambos pretendiam viver distantes do agito da cidade grande e a pequena cidade de Cairo, com cerca de mil habitantes, parecia perfeita para isso.

Contudo, após a morte dela, o lugar tornou-se um sinônimo de mágoa e ressentimento pelos erros do passado. Thomas tocou a campainha, e não demorou para uma gentil senhora atender a porta. Ela abriu um grande sorriso ao vê-lo.

Abigail, uma mulher na faixa dos sessenta e tantos anos, havia sido contratada por Thomas há alguns anos para ser a governanta da casa e para ajudar com uma situação em especial.

— Senhor Mitchell, que surpresa — disse ela, exibindo um grande sorriso nos lábios. — Por favor, entre — disse, dando passagem para que ele pudesse entrar.

Fazia algum tempo desde sua última visita, e mesmo assim Thomas poderia dizer que nada havia mudado.

— Como ele está? — perguntou ele friamente, fazendo morrer instantaneamente o sorriso de Abigail.

— O mesmo de sempre, senhor. Ele se recusa a comer e está perdendo peso muito rápido. Os fisioterapeutas vieram há alguns dias, e pela terceira ou quarta vez ele os dispensou. O pobre rapaz está definhando aos poucos — disse Abigail com relutância e certa preocupação na voz.

— Onde ele está, Abigail?

— Nos fundos, próximo à piscina, senhor. Ele costuma ficar lá a essa hora, às vezes pintando uma tela ou lendo algum livro — disse suavemente. — Senhor, se me permite perguntar, o senhor pretende almoçar aqui hoje?

— Agradeço, Abigail, mas não ficarei para o almoço — respondeu Thomas calmamente. — Precisarei conversar a sós com Daniel, peço que não sejamos interrompidos.

Abigail acenou com a cabeça e seguiu para algum outro canto da casa. Thomas atravessou o hall de entrada, passando pela aconchegante sala de estar e seguindo por um imenso corredor em direção à porta dos fundos, onde encontrou quem procurava.

Daniel Collins estava sentado em sua cadeira de rodas, os olhos focados nas folhas que balançavam suavemente com a brisa do fim da manhã. O clima estava aconchegante, mesmo que o céu estivesse incrivelmente nublado.

— Abigail me contou que você tem causado problemas ultimamente — a voz de Thomas ecoou no silêncio do quintal, atraindo o olhar de Daniel, que voltou-se para ele.

Os olhos castanhos esverdeados de Daniel pareciam não ter vida. Dos brilhantes olhos de um rapaz outrora sonhador, restavam apenas olhos opacos e vazios.

— Estou apenas poupando o tempo de todas as pessoas que você tem enviado para cuidar de mim nos últimos anos — disse Daniel secamente.

— Como espera voltar a andar se tudo o que sabe fazer é reclamar da vida e ignorar a ajuda de todos que estão tentando dar o melhor por sua recuperação? — disse Thomas com certa raiva, sem perceber o pequeno sorriso que surgiu nos lábios de Daniel.

— Já se passaram cinco anos, Thomas. Eu nunca voltarei a andar e aceitei isso — disse Daniel sarcasticamente. — Você também deveria aceitar, já que o único motivo pelo qual estou preso a essa droga de cadeira de rodas é por culpa sua.

— Você ouviu os médicos, tem grandes chances de voltar a andar. O único problema é que você mesmo não se esforça. Não passa de um fraco que passou os últimos cinco anos lamentando pelo ocorrido enquanto sua irmã seguiu em frente — descarregou Thomas, não notando o efeito de suas palavras em Daniel.

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