Uma Maldição Entre Nós 💜

Capítulo Um - Bosque das Gritadeiras

Há uma profecia sobre uma jovem que será amaldiçoada por uma bruxa e uma cidade que se perderá nas sombras. Segundo o que tanto dizem, a maldição será lançada inevitavelmente quando a bruxa e a bela jovem estiverem frente a frente pela primeira vez.

Acredito que por isso, estou presa em uma torre, e se eu olhar através da pequena janela no cômodo onde durmo, posso ver outra torre, tão alta e inalcançável quanto a que me aprisiona. Ninguém nunca fala quando poderei sair daqui. Só dizem que para o meu bem, é melhor me manter longe do mundo ao redor enquanto decidem o que fazer. Por que meu destino está nas mãos de pessoas que não sabem e não se importam com o que está dentro do meu coração? Meu pai já me trouxe livros sobre princesas que foram resgatadas por príncipes, que sofreram nas mãos de madrastas macabras e outras maldições em que somente um amor verdadeiro podia quebrá-las. Não acredito que ele queria me fazer acreditar nessas coisas quando a própria filha está presa em uma torre por quase 16 anos. Até quando isso vai durar?

Quando me debruço sobre o parapeito da minha janela, posso ver a extensão da nossa cidade e as casas, pessoas indo e vindo; casas sendo construídas ou derrubadas, vejo os cavaleiros chegando a cada estação para nos trazer informações. Eu sei que eles trazem informações de muito longe, mas nunca consigo decifrar mais do que isso. E se eu olhar para a outra torre, posso ver luzes tremulando, dançando dentro do cômodo dela e algumas vezes posso vê-la debruçada na janela também, nada mais que isso. Para mim, ela nunca passou de uma silhueta desinteressante muito borrada no alto de uma torre de pedras mais claras. A ironia disso tudo? Eu não faço ideia de qual maldição ela pode lançar sobre mim. Ela vai me transformar em um sapo? Me pôr para dormir pela eternidade ou me acorrentar à um dragão que vai me arrastar pelos céus? Seja o que for, estou pronta. Assumi que estaria pronta quando me cansei de esperar pela decisão dos outros sobre nossos destinos. Talvez eu possa fazer meu destino. É por isso que estou me preparando para descer da torre ao anoitecer e ficar entre as pessoas enquanto durar a festividade da Longa Vida. E se tudo der certo, poderei escapar daqui antes mesmo que percebam a minha torre vazia.

Tem uma pessoa me esperando lá embaixo e de certa forma, tenho medo pela segurança dela. Adrya se dispôs a me ajudar no mesmo momento em que descobriu o meu plano. Ela é uma espiã do meu pai, vem aqui todos os dias para verificar como estou me alimentando, se estou dormindo bem e claro, se ainda estou dentro da maldita torre. Ela encontrou uma roupa velha e malfeita que eu mesma confeccionava no último verão para usar no festival. Primeiro saímos no tapa pelo quarto porque ela debochava do meu plano e queria me dedurar. Depois, ela se sentou no chão à minha frente e começou a rir por um longo tempo. E bom... Agora ela me encara com seus olhos verdes grandes esbugalhados.

— Se o seu pai ficar sabendo disso — começou a dizer, jogando uma capa de pano pesado e preta sobre meus ombros. — Você já sabe o que ele vai fazer.

— Como se eu já não tivesse na pior, não é? Meus pais entenderam bem quando eu contei a eles sobre na verdade ser uma menina. Eles até me trouxeram outras roupas, as quais eu ficasse mais confortável embora não penso que roupas definam as pessoas. Mas quando falava a eles que eu queria sair para conhecer o mundo e as pessoas, era sempre o mesmo discurso. Eu não vou passar mais anos nessa torre.

— Você tá acostumada a ficar presa em uma torre — ela fala, e se corrige no mesmo segundo: — Desculpa. Não queria dizer isso, mas você deve imaginar que se ele descobrir que estou te ajudando, não vai ser nada piedoso comigo. E eu jurei...

— Eu sei que você fez juras de me proteger, Adrya — falo, me afastando para olhar ao redor. Ainda não anoiteceu o suficiente como eu esperava nos meus planos. — Você pode parar a partir daqui. Eu te falei que só precisava das chaves, de uma adaga e dessa roupa. Não quero trazer problemas para você nem ninguém.