⭒CAPÍTULO ONZE⭒

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Não era dessa maneira que queria encontrar com o meu vizinho e de alguma forma deixei de pensar em todos os momentos que imaginei em como seria quando ele finalmente admitisse que escreveu todas aquelas palavras pra mim. Aos poucos saio da minha casa ignorando o Theo da Vince que puxava a barra da minha calça tentando chamar a minha atenção.

─ Ellenor não se aproxima! ─ Assim que coloquei os pés no gramado a voz da minha mãe me alertou enquanto ao mesmo tempo tentava conversar com alguém no celular.

─ Por favor não me diga que tem alguém dentro da casa... ─ Perguntei encarando o meu pai que tentava apagar o fogo com a pouca água que saia da mangueira do quintal.

─ Não sabemos, mas já ligamos pra emergência. ─ A minha mãe tentou me tranquilizar mesmo que os olhos estivessem cheios de lágrimas e as próprias mãos tremendo ao redor do meu ombro.

Todos nós viramos o rosto assim que ouvi o barulho do portãozinho ranger e aos poucos consegui ver em meio a pouca luz o rosto assustado do Liam que imediatamente deixou as sacolas cair no chão. Não conseguimos impedi-lo de entrar e antes que o meu pai reagisse o mesmo chutou a porta da frente, não restava dúvidas que havia alguém dentro da casa e tudo fez sentido a partir do momento que o meu vizinho sumiu em meio a fumaça.

Tentei sair dos braços da minha mãe, gritei, chorei e lamentei. Pela segunda vez ele está em perigo e sou incapaz de ajudá-lo. A minha mãe deveria saber que a própria filha não ficaria quieta a partir do momento que me soltou para atender uma ligação. No entanto mesmo que quisesse correr o meu pai me segurou e frustrada tentei ignorar os xingamentos desconexos em meio a tensão.

Tudo estava completamente em chamas e quando pensei que seria tarde o meu vizinho saiu da casa com a irmã nos braços. Foi a vez da minha mãe correr até ele que a entregou a pequena Any que chorava nos braços da mais velha enquanto a levava para uma das espreguiçadeiras perto da piscina.

Não restava dúvidas que o meu vizinho estava fraco e tive certeza quando o mesmo caiu de joelhos no chão. Ele não poderia desmaiar, não até a emergência chegar e com pressa tirei o meu moletom, corri até a piscina e molhei completamente todo o pano até estar encharcado. Ele precisava ficar confortável mesmo que seja impossível respirar e tossir ao mesmo tempo, virei o mesmo até ficar de lado e coloquei o meu moletom na região do nariz na esperança que aquilo pudesse de alguma forma o ajudar.

─ P-por favor não d-desmaia... ─ Sussurrei em meio as lágrimas acariciando o rosto do mesmo que lutava para ficar com os olhos abertos.

Naquele momento rezei pela primeira vez no ano e os meus olhos só foram abertos quando ouvi o som da sirene em meio as luzes piscando. Levaram os dois irmãos para o hospital e a minha mãe foi como acompanhante para encontrar com a Eva que não estava em casa. Fiquei a noite toda sentada no degrau da varanda ao lado do meu pai que também esperava os bombeiros apagarem o fogo da casa da piscina.

A Eva chegou do hospital de madrugada com a minha mãe e os outros dois que já estavam melhores segundo o médico que os atendeu. Foi quase impossível acreditar no que aconteceu depois que todos nós estávamos um pouco mais tranquilos e seguros. Não havia muitos quartos para dormir e deixamos a Eva cuidando da filha no quarto de hóspedes enquanto fiquei de companhia pro meu vizinho que tomava inalação deitado na minha cama.

Fiquei a noite toda cuidando do Liam que aos poucos adormeceu com o zumbido do motor do inalador, tentei me manter acordada para vigiar a quantidade do soro, mas o sono me venceu e acabei dormindo sem ao menos perceber ao lado dele.

⭑⭑⭑

Acordei sentindo uma lambida na minha bochecha e quando abri os olhos me deparei com o Theo Da Vince em cima de mim com a língua pra fora. Era quase impossível de acontecer ao menos que alguém tivesse deixado a porta do meu quarto aberta e antes mesmo de conferir uma sombra passou por ela.

Querida, grande vida. #2 Onde histórias criam vida. Descubra agora