Ser adulto é um sonho

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Há um momento na vida em que você tem que criar asas. Viver sua vida, passar seus perrengues, assumir seus boletos como um adulto consciente. E se você puder fazer isso longe de sua pequena cidade natal e, ao mesmo tempo, escapar de sua indiscreta família que tem uma curiosidade enorme sobre seus relacionamentos, vida sexual e fonte de renda mensal, além de ter que conviver com o primo que trabalha para governo e sei lá mais o que, você tem que agarrar essa oportunidade com toda a força que se tem. Pelo menos é no que Catra acredita.

Sair da pequena cidade de Fright Zone sempre foi um de seus sonhos. Ir para uma cidade grande, morar sozinha, ver pessoas diferentes, até mesmo respirar o ar carregado de poluição, por que não?

Mesmo com pais mais protetores do que ela gostaria e da vida muito mais fácil morando com eles, ela queria mais. E quando sua avó lhe contou que o sobrado que alugava para um antigo inquilino havia sido desocupado depois que o pobre senhor morreu dormindo no local, Catra achou que era a oportunidade perfeita para se mudar e trabalhar com aquilo que ela estudou na faculdade comunitária: direito civil.

Mas nem tudo foi como ela imaginava.

Primeiro ponto:

Vovó Luna havia sim permitido que ela morasse no sobrado, depois de muita insistência da mais nova é claro, junto de muitas promessas que iria ligar sempre e visitar a família com frequência. Isso foi um ponto muito positivo, inclusive porque Catra insistiu em pagar um aluguel justo a sua avó, mas ela recusou dizendo que não precisa e que era algo que ela ficava feliz em fazer por sua neta mais velha. Mas o golpe tá aí. E Catra caiu. Não que ela acusasse sua doce e amada vovó de algo, mas apesar de estar com a pintura realmente em dia, Catra nunca tinha visto uma casa tão velha, com certeza ela precisava mais do que uma reforma: ela precisava ser demolida e outra ser construída no lugar.

Ela não ia reclamar. Quando se mudou para lá seu pai e sua mãe a ajudaram a deixar o local mais habitável. A maioria das coisas funcionava e não tinha nada muito potencialmente perigoso a vista e o seguro contra incêndios estava em dia. Era o início de uma nova vida para Catra ela não ia reclamar, claro que não, ela respirou fundo como uma adulta e decidiu tornar aquele lugar seu lar até que o emprego engrenasse e ela pudesse alugar um apartamento melhor mais ao centro de Bright Moon. Estava tudo certo era o plano perfeito.

Só que não.

Segundo ponto:

Ela havia conseguido um emprego sim, em um escritório de advocacia. Não era o mais famoso e influente com o qual ela sonhava, mas tinha que começar de algum lugar, né? E enquanto isso ela se especializava, principalmente porque ela não tinha um curso de bacharelado completo e tudo mais, então conseguir exercer a profissão e ganhar experiência enquanto completava o curso de direito era o que ela precisava.

Eis que nem tudo também era perfeito. Sua chefe Shannon Weaver era o próprio demônio em pessoa. Não que Catra não tivesse noção que ela tinha seus— muitos— momentos em que ela não era um poço de doçura. Mas a senhora Weaver é horrível. E parecia que Catra era seu alvo mais frequente. Assédio moral é uma droga e Catra sabia o que fazer, mas ela precisava da carta de recomendação, precisava da comprovação de trabalho para a faculdade e, é claro, precisava do dinheiro, que não era grandes coisas, mas mantinha seus boletos todos pagos. Então ela suportava. Como uma boa adulta ela engolia os sapos que precisava e, no fim do mês, ela receberia por isso e poderia pagar a faculdade que lhe abriria mais portas para outros escritórios. Seria por pouco tempo. Mais três anos e ela estaria fora da universidade e o mercado de trabalho se expandiria.

Só que não.

Terceiro ponto:

Seu namoro com Octávia ia bem. Elas tinham cinco anos de namoro. Algo sólido. Duradouro. Se davam bem, sua namorada havia lh1e apoiado em tudo, na mudança, no novo emprego a cidade nova! Era a única coisa na vida de Catra que continuava do jeito que ela havia pensado. Talvez ela fizesse os sonhos de seus pais e avó e se cassasse com Octávia quando ela se acertasse na vida, mesmo que seus pais não fossem muito com a cara dela, mas ela havia sido a sua primeira paixão rebelde, uma garota mais velha que abriu um estúdio de tatuagem e piercing em um lugar como Frigth Zone, mas Catra foi uma adolescente que ela mesma pode chamar de "rebelde sem causa" então se apaixonar pela garota tatuada e rebelde da cidade caia bem para ela. Entretanto, aí estava outra coisa na vida de Catra que não saiu exatamente como ela imaginava. Começou com distanciamento, as conversas pelo telefone não fluíam, as ligações eram curtas e sempre Octávia tinha algo importante para fazer. Depois foram as visitas pouco regulares que envolviam mais sexo que qualquer outra coisa. Se bem que isso fez Catra se dar conta que o relacionamento delas sempre foi mais físico e que depois que Octávia a "conquistou" ela não era mais aquela galanteadora que prometia as estrelas, mas ela podia lidar com isso era um relacionamento confortável, onde os dois lados já se conheciam, confiavam. Mas o golpe está aí, cai quem quer. E Catra caiu. Mensagens trocadas com outras garotas, outras mulheres, negligência do próprio relacionamento. Catra descobriu o motivo de sempre sentir sua cabeça pesada, era a gigantesca galhada que ela foi acumulando com os anos. Traída. Enganada. Enojada. Agora ela era uma pessoa solteira com o coração quebrado, mas de todos seus perrengues esse seria o mais fácil de resolver. Ela é uma mulher bonita, gostosa pra caramba ela diria, em uma cidade grande, se tem um lugar onde ela poderia achar um novo relacionamento para preencher esse espaço era aqui em Bright Moon.

Marida de aluguelOnde histórias criam vida. Descubra agora