Catra olhava para tela espelhada e escura da tv desligada. Ela acariciava Melog sem prestar muita atenção, perdida em pensamentos sobre o dia e ansiosa pelo que viria a seguir nesta noite. Mas pelo menos os pais e a prima haviam ido embora com a promessa de matarem a curiosidade sobre a noiva de Catra no próximo fim de semana. Era uma contagem regressiva para o terror familiar.
Ela passara a tarde toda se esquivando de perguntas e conversas que envolviam sua suposta noiva, deu respostas genéricas para perguntas que ela considerava seguras e — tentou —evitar todas aquelas que a poderiam comprometer. Sua vantagem, e aquilo que ela sempre detestou em Nancy, a ajudou de uma forma incrível: a capacidade da prima de transformar todas as situações em algo que a destacasse.
Isso foi um certo alívio, pela primeira e única vez em anos, pois sempre que Catra relembrava que era o dia de Nancy as perguntas cessavam e a prima relembrava que era ela o centro das atenções e não Catra e sua nova e desconhecida noiva. Mas isso não a livrou dos olhares indagadores de sua mãe nem mesmo das alfinetadas mal disfarçadas de Nancy.
Agora ela estava ali. Sentada em seu sofá velho que necessita de uma reforma, alisando seu gato enquanto olha para uma Tv desligada esperando que sua falsa noiva a venha pegar para um jantar. Um jantar de noivado que não existe e conta mais como um primeiro encontro que deveria ser tranquilo e libertador, mas que tomou proporções malucas depois da chegada dos familiares pela manhã.
Catra suspirou derrotada.
— Como eu olho na cara de alguém que eu conheci hoje e inventei uma mentira que ganhou proporções dignas de uma comédia romântica ruim? – Ela olhou para Melog que apensas ronronou aproveitando o carinho. – É sério, Melog! Como eu fui de uma possível noite quente para tirar as teias de aranha do corpo, para um noivado arranjado em menos de vinte e quatro horas? Como eu vou ter clima pra flertar com alguém com quem eu tenho que traçar um plano para enganar minha família por um final de semana inteiro, principalmente vovó, ou então um jeito não tão vergonhoso e humilhante de explicar um noivado que acabou ou algo do tipo? – Catra agarrou Melog e o levantou até a altura dos olhos o encarando como se o pobre gato tivesse as respostas para as divagações dela. Ele miou e lhe deu um tapinha no nariz. – Hey! Eu tenho um encontro essa noite!
Catra o colocou de volta no colo.
Na mesma tarde, Adora havia lhe enviado uma mensagem dizendo que precisavam sair e conversar já que haviam se metido em uma história em conjunto e tudo aquilo precisava ser conversado com tempo, sem familiares nos calcanhares. Catra concordou. Estaria mais feliz se as circunstâncias fossem outras, mas o universo é um sacana de primeira e ela sempre se dá mal. Mas, pensamento positivo! Se tudo der errado, ela ainda tem um encontro com uma garota quente... a não ser que ela tenha estragado todas as suas possibilidades depois de envolver uma civil no meio da guerra familiar que ela trava.
Antes que ela pudesse se perder mais em pensamentos que não a levariam a lugar nenhum, as batidas fortes e ritmadas na porta de madeira a tiraram daquela espiral. Melog saltou para o chão e se escondeu debaixo da poltrona.
A loira na porta tinha um sorriso que poderia fazer todos os dentistas do mundo sorrirem com tanta perfeição. Ela vestia uma calça jeans escura e uma camisa azul marinho com botões bem-comportados. Sem adereços, apenas o cabelo amarrado e um topete na testa. Ela trazia um discreto ramalhete de flores coloridas nas mãos, sua bochecha estava levemente rosada, difícil dizer se era pelo gigantesco sorriso que repuxava o rosto ou se era algo mais.
— Hey, Adora! – Catra cumprimentou primeiro enquanto observava a mulher parada em sua porta.
— Oh! Hey, Catra. – Ela levou a mão a nuca e desviou o olhar brevemente. – Ah, isso aqui é pra você. – Ela estendeu o ramalhete. – Eu não sabia que tipo de flores você gostava e nem se gostava de flores, mas eu achei seguro como algo para um primeiro encontro... e eu não queria vir de mãos vazias...
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Marida de aluguel
FanficCatra é uma adulta. E como tal, mora sozinha, tem um emprego ruim, um coração partido e inquilinos insatisfeitos. Ela recebeu um ultimato: ou conserta o chuveiro quebrado ou perde seus locatários. Ela precisa do dinheiro. Pra piorar uma de suas p...