Ana

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Quando o filme terminou, o sol já tinha se escondido por completo. Na frente do cinema, casais de mãos dadas conversavam animados sobre o filme, enquanto seguiam em diferentes direções. Grupos de jovens espalhados pela calçada com copos de refrigerante em suas mãos discutiam sobre o que iriam fazer em seguida.

Uma moça, parada ao lado da porta principal, esperava por sua amiga que tinha ido falar com o rapaz que lhes vendera os ingressos. Ela fitava o chão, absorta em seus pensamentos. Mal notou quando a amiga apareceu e a cutucou no braço.

Antes que possa se recuperar do susto, um rapaz se junta a elas e se apresenta como Felipe. A jovem que esperava por sua amiga se apresenta como Ana e pede licença para falar com ela, se afastando do rapaz. Achei que fossemos para casa, Raquel, diz ela, cruzando os braços, menos para fazer drama, mais para se proteger contra o vento frio que envolvia a noite. Eu sei Ana, mas ele me convidou para uma festa de um amigo e eu quero muito ir. Vamos, por favor, implora Raquel.

Ao chegarem à festa, Raquel diz a Ana que vai pegar algo para beberem e desaparece no meio da multidão, com Jorge atrás dela. Ana se vê sozinha numa sala cheia de pessoas bebendo, dançando e conversando próximas umas das outras, para vencer a música que preenchia o ambiente de forma barulhenta.

Ela pousa os olhos sobre o que parece ser o quintal da casa e vai seguindo pelo corredor que leva até ele, tentando abrir caminho com os cotovelos.

Chegando ao quintal, Ana vai até um balanço que dava de frente para a piscina e mais ao longe para a sala de onde tinha vindo e senta-se. Havia poucas pessoas ali. Talvez por conta do frio. Talvez por estar tarde. Ela então se levanta e vai até a borda da piscina. Seu reflexo lhe encara de forma crítica, como se a estivesse repreendendo por ter cedido tão facilmente ao pedido de Raquel.

Detestava lugares com muitas pessoas. Sempre se sentia deslocada e desconfortável. Elas fazem parecer tão simples ser feliz. Por que não podia ser como elas? Por que tinha que sempre se sentir como se uma nuvem negra estivesse sobre sua cabeça? Por que tinha que ter sempre essa sensação de que algo muito ruim estava para acontecer? Por que não conseguia parar de pensar nem por um segundo? Era exaustivo essa voz na sua cabeça analisando e julgando tudo o que fazia.

Às vezes, imaginava como seria ser levada pela correnteza do mar. Em sua mente, parecia tão pacífico, tão tranquilo. Boiaria olhando as estrelas no céu escuro, até que afundasse. Não se debateria, não tentaria subir à superfície em busca de ar. Deixaria seu corpo ser levado cada vez mais para baixo, até que seus pulmões estivessem completamente cheios d'água e ela, enfim, deixasse de sentir.

Decide ir embora. Vai em direção ao corredor pelo qual tinha vindo. Na sala, nenhum sinal de Raquel. As pessoas agora se pareciam mais com Ana. É sempre assim. Todo mundo começa alegre, contente e termina esparramado em algum lugar, com cheiro de vômito e triste. Puxa a manga do moletom e olha que horas são. Dá para ir a pé.

Coloca os fones no ouvido, ajeita o capuz e sai na noite fria e solitária.

Se Prestasse Bastante Atenção & Outros ContosOnde histórias criam vida. Descubra agora