A luz da rua os ilumina

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Assim que entro no Morcego da Noite, o Marcão Caolho vem em minha direção com uma cerveja estendida. Recuso gentilmente. Não sou chegado em bebida alcoólica. Eu prefiro um suco de laranja geladinho. Sem falar que, depois do que houve com o Bactéria, eu não aceito mais bebida de ninguém.

Porra. Aquele sacana do Foguinho deve tá achando que berimbau é gaita. Marcão me conta que o malandro tá de graça pra cima das moças de novo. Vou ter que ensinar uma lição pra o safado, pelo visto. Mas isso só amanhã.

Pergunto onde tá a Sabrina pra o Jorge do bar, que tá sempre com um ar de indiferença, como se tivesse cagando e andando pra o resto do mundo, mas o safado apenas dá de ombros e diz que não a viu. Decido passar na praça do desgosto, talvez ela esteja por lá.

Saindo do Morcego, vejo a galinha da Virgínia disputando a calçada com outras putas. Por um segundo eu até sinto pena, mas ela que se foda. Quem mandou me roubar? A vadia ainda teve sorte por eu não ter acabado com ela.

Paro na mercearia do Dorival pra pegar umas coisas pra Sabrina. Não gosto quando ela bebe, mas entendo que pra aguentar a merda de vida que ela tem só estando embriagada, então não faço caso.

Sinto meu celular vibrar no bolso direito da calça. Coloco a cesta no chão e o pego. Era ela. Tinha ido pra casa dormir, estava cansada. Sinto uma ponta de decepção, mas, como já estava ali, vou pra o caixa.

Tento pagar pelas coisas, mas o Dorival não deixa. Desde que eu dei um jeito em uns filhos da puta que tentavam roubar ele, o velho me trata como herói. Só falta engraxar meus sapatos com a língua. Mas eu gosto, não vou mentir.

Decido ir até a praça, aproveitar minha solidão e abandono, então sigo rua acima até dobrar na esquina. Dou mais alguns passos e já consigo vê-la.

Como já era tarde da noite, tinha apenas algumas pessoas por ali. A maioria correndo pelas margens do lago que ficava no centro da praça. A luz do luar refletia na água, deixando os seus movimentos visíveis.

O som de um carro me chama a atenção. Ele para em frente a um café, que ficava ao lado da praça. Um casal, que estava sentado à mesa, se levanta e vai em direção a ele, de mãos dadas. A luz da rua os ilumina. Era a Sabrina.

Se Prestasse Bastante Atenção & Outros ContosOnde histórias criam vida. Descubra agora