A moça do caixão

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– Tirem-me daqui – berrava, enquanto esmurrava desesperadamente a tampa do caixão. – Tirem-me daqui.

Do lado de fora, algumas pessoas cercavam o objeto. Duas delas, homens, jogavam terra sobre o objeto, enquanto as outras os observavam.

Uma forte chuva caia e enlameava tudo ao redor. Os guarda-chuvas balançavam freneticamente enquanto as pessoas os seguravam firme para que não saíssem voando.

– Tirem-me daqui – continuava, em vão e já perdendo suas forças.

– Terminem logo com isso – falou uma das pessoas embaixo do guarda-chuva. Era uma senhora de cabelos curtos e brancos. – O tempo está acabando.

Dentro do caixão, o ar ficava cada vez mais escasso e a moça tentava, com profundas respirações, alcançá-lo.

– Terminamos – diz um dos homens que jogava terra em cima do caixão e larga a pá no chão. Um homem de meia-idade, com o cabelo molhado caindo por cima dos olhos.

Um grito agudo surge repentinamente, fazendo com que todos se assustem. Eles olham ao redor de forma apreensiva, enquanto instintivamente se afastam de onde a moça estava enterrada.

– O que foi isso? – pergunta a senhora de cabelos brancos.

Um grito mais uma vez preenche o ambiente e todos olham para a fonte do barulho.

Um barulho de madeira se quebrando irrompe do chão, assustando ainda mais as pessoas. Logo em seguida, uma mão suja de terra irrompe do solo.

Quase que petrificada, a senhora repete incessantemente para si mesma: deu errado, deu errado, deu errado...

Metade do corpo, sujo de terra, já irrompeu, e, mais rápido do que seria possível, a moça surge inteira; em seu rosto, uma expressão de triunfo.

– Vocês vão pagar – diz ela, e vai em direção à senhora de cabelos brancos, que, ao se mover de costas, cai no chão.

– Desculpe-me, desculpe-me – diz ela, se arrastando para longe. A moça se aproxima devagar, como que saboreando o momento. – Você tem que entender, não havia outra escolha.

Nesse meio tempo, todo mundo já tinha corrido para longe.

A moça se abaixa e pega a senhora pelo pescoço.

– Quais são suas últimas palavras? – pergunta ela, levantando a senhora até que ela fique acima de seu rosto.

Um lamento incompreensível sai da boca da senhora e, logo em seguida, sua cabeça pende para o lado. O brilho da vida se apaga dos seus olhos.

A moça solta seu corpo e vira em direção ao casarão, para onde o resto das pessoas tinham ido.

A chuva que caia limpa o restante da terra que cobria seu corpo.

– Vocês vão me pagar – diz ela, indo lentamente até a casa.

Se Prestasse Bastante Atenção & Outros ContosOnde histórias criam vida. Descubra agora