Filha, traz pra mim um café

1 0 0
                                    

– Filha, traz pra mim um café? – pede Maria, estirada no sofá, com o celular nas mãos.

– Mãe, eu tenho prova amanhã, preciso estudar. Vai lá fazer – diz Juliana, sem tirar os olhos das anotações.

– Poxa, Ana, o que custa? Trabalhei o dia inteiro, será que eu não mereço?

– O que custa? Mãe, eu fiz a porcaria do café da manhã, do almoço e do jantar, isso não é justo.

– Olha lá como fala, com o seu pai você não fala assim. Eu trabalho o dia inteiro pra te dar as coisas e é assim que você me retribui? Você é uma ingrata.

– Puta que pariu, eu vou fazer essa porcaria. – Juliana larga as anotações repentinamente e vai em direção à cozinha.

É sempre assim. Quem ela acha que eu sou? A sua cozinheira particular? Será que está boa essa quantidade de água? Ah, foda-se. Tudo bem que ela é minha mãe, mas ela não tem o direito de me tratar como se a minha única preocupação fosse servi-la. Qual a dificuldade de levantar a porra da bunda do sofá e preparar seu próprio café, do jeito que gosta? Porque eu tenho certeza que ela vai reclamar: ai, filha! Tá muito quente! Ou ai, filha! Você colocou açúcar ao invés de adoçante! Ou ai, filha! Eu queria na outra xícara! Que merda. Talvez eu permita que ela continue me tratando assim, mas, porra, eu não aguento mais. Eu preciso sair dessa casa... Qual eu faço? Cappuccino ou o normal?

– Mãe, você quer cappuccino ou o normal? – pergunta Juliana, colocando a cabeça na porta que dá pra sala.

– Cappuccino, filha – responde Maria.

Ai, cappuccino, filha. Vaca. Que saudades de quando ela estava viajando. A casa nunca esteve tão tranquila. Porra de chaleira. Pra que tanto barulho, eu sei quando a porra da água já ferveu.

Cadê o adoçante, ela mudou de lugar? Mas que merda. Ah, foi eu que botei ali. Bosta, acabou. Vou colocar açúcar nessa porra mesmo. Que tipo de açúcar é esse? Parece barro. Açúcar mascavo? Como se ela fosse emagrecer por comer essa porcaria.

Pera, eu já tomei banho hoje? Cadê o leite? Ah, ali. Sim, tomei de manhã. Deixa eu ver se está bom... Mais açúcar... Pronto.

– Aqui – diz Juliana, estendendo a xícara pra sua mãe e voltando pras suas anotações.

Se Prestasse Bastante Atenção & Outros ContosOnde histórias criam vida. Descubra agora