Quarto Conto - Inquebrantável

Junho, 2012.

E o quarteto de rodas girou velozmente entre os eixos sob cada uma das botas que estabilizavam o par de pés no solo, e durante a execução de uma das manobras que impressionava muito qualquer um dos espectadores, seus longos cabelos dardejaram as pontas na direção dele e assim percebeu-se que nem mesmo aquela pequena distração o fizera deixar de admirar o corpo que, gentil e habilmente, movimentava-se pelo parque.

O rosto angelical sorria a todos — homens, mulheres, adultos, crianças e idosos, até mesmo cães e outros animais que lá faziam o que desejavam livremente — expressando a gratidão por contemplarem sua habilidade e dedicação, frutos de anos de treinos entre momentos de diversão e a esperança de um dia fazer aquilo por profissão.
As roupas leves, por vezes colavam-se ao corpo a contravento e delineavam formas incompreendidas totalmente até mesmo a olhares mais atentos. Porém, aquela curiosidade o encantava ainda mais, e mais o desejo de um bailar uníssono por toda a pista o dominara, só que o medo de que uma investida fosse vista como atrevimento o refreou, encurralando-o com uma barreira que ele mesmo criara.

O descanso é necessário a todos e, como era de se esperar, foi necessário interromper o esporte, e seus olhos acompanharam cada instante com uma súbita paixão incandescente, que transformou assim a simples queda espiralada de um veio de água a irromper pelo gargalo de uma garrafa transparente e consequentemente transpondo a barreira imaginária entre lábios carnudos e provocantes, em uma ação voluptuosa, e tão cativante que o fez apreciá-la por um eterno segundo, como se estivesse em câmera lenta, de forma que até mesmo as gotículas que espargiam pelos cantos das bordas por onde ele desejava sorver-lhe a essência, atingiram em profundidade o seu ser.

E, ao notá-lo por um olhar de esgueiro, desejou lhe dar indícios de que poderia aproximar-se para rasgar o véu do mistério que parecia vencê-lo.