Paranóia de Zulema

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(...)

- Ei Helena, me ajude, muda a minha reserva no El Oásis para ás 21h, por favor! - Zulema pede, entrando em sua sala.

- Certo, Sra.

- E compre algum presente, tenho que dar algo para a Macarena, hoje é...

- A audição de formatura dela! Você esqueceu e eu te embrei duas vezes!

- É. Não... Eu não sei. Não sei se eu me esqueci ou não. Talvez tenha esquecido ontem mas não sei se esqueci hoje.

- Quê? - lhe pergunta, extremamente confusa.

- Nada. Escuta, você vestiu essa roupa ontem?

- É bem provável. Com o que eu ganho não dá pra variar muito - ri.

- Para. Posso te fazer uma outra  pergunta?

- Se precisa, faça.

- Alguma vez já sonhou e no dia seguinte, tudo te parecia... sei lá, meio familiar? Como se fosse no sonho?

- Sim! É claro. Por exemplo, ontem a noite eu sonhei que você iria me incomodar muito esta manhã e aqui estamos nós! - brinca.

- Para, vai! Estou sem brincadeiras.

- Sem brincadeiras?

- É... - suspira, séria.

-Zulema, eu acho que os sonhos são muito importantes. Cada um deles. E nós temos que prestar atenção neles.

- Você acha mesmo?

- Acho. De verdade. E também acho que você deveria ir a reunião ou vai ser demitida e eu vou parar na assistência social. Está atrasada! - diz e se retira.

- Ah claro... a reunião. - Pega todas as suas coisas, indo em direção a sala de conferências ao lado, onde todos a esperavam.

(...)

- Esses são os principais objetivos do meu trabalho. Projetar novos caminhos de tratamento, cura e prevenção para as doenças que.... - Zulema não parava de olhar para trás, se desconcentrando, achando que a qualquer hora Macarena poderia aparecer e lhe interromper como no sonho.

- Eu estou muito feliz e orgulhosa de relatar que nós somos líderes nessa area. Agora... - se vira para a porta e mais uma vez não vê ninguém ali, sorri, aliviada e retorna a sua posição inicial - É... E quanto aos seus investimentos, essa planilha aqui retrata o que fizemos até agora. Pesquisamos os custos de tudo, por 10 anos e agora...

A porta se abre, deixando Zulema surtando, não poderia ser;

- EU SABIA! - bate a mão na mesa - Eu sabia que você viria me trazer a planilha e-

Se vira, se deparando apenas com o garçom, servindo água para ela e para os demais empresários que estavam na sala. Não sabia onde enfiar o rosto, tinha surtado por nada e agora todo mundo da sala a olhava.

- Okay - ri, nervosa - Me desculpem. Enfim, vocês já me ouviram falar mas não noto no rostos de vocês nenhuma empolgação - tira o sobretudo, botando em sua cadeira - Vamos lá, pessoal, sosseguem, nós não estamos em uma festa - todos riem e ela começa a andar pela sala - A pesquisa não tem gráficos perfeitos ou esquematizações que derrotam a concorrência, queremos dar as pessoas o presente mais precioso, o tempo. É uma grande e única oportunidade para agarrarem. E então, o que acham?

(...)

Nota importante: Zulema não sabia, mas enquanto estava de costas para a porta, Macarena apareceu lá, com a sua planilha, mas notou que ela já tinha uma e saiu, sem interromper nada.

(...)

Zulema saiu do edificio, feliz da vida, eles aceitaram o seu projeto. Tinha acabado de marcar um encontro em um bar com suas amigas para comemorar a sua vitória.

(...)

- O seu projeto foi aceito mesmo, não é, Zule? - Saray pergunta, tomando um gole de sua cerveja.

- Sim!!! E o mais estranho é que da outra vez que a Maca entrou na minha reunião, eu achei que ela tinha estragado tudo.

Todas pararam de falar, sem entender nada do que Zulema falava.

- Ah, eu não contei sobre o sonho que tive para vocês né? É claro que não - ri - Foi essa noite.

- Ah sim, entendi. Conta logo para a gente! - Altagracia pede.

- Foi mais do que um Dèjà-vu, sabem?

- Ah, Dèjà-Vu. Um tempo não admitido por um evento neurológico, mas é uma mensagem do fundo da alma. Quando a alma bater a porta, deixe-a entrar. - Saray cita uma frase para si mesma e para as outras.

- Taylor Swift! - Altagracia grita levantando um copo de whisky.

- O quê? Não. - Saray a corrige, rindo - Doutor Fill.

- Ah!! Que legal.

- Mas não, gente, não é disso que eu falava - Zulema continua - Tem certas coisas que eu sei que irão acontecer.

Saray se vira, vendo uma linda garçonete passar e se prepara para jogar uma de suas péssimas cantadas;

- Com licença, moça. Eu acho que te conheço.

- De onde? - a jovem pergunta.

- Dos meus sonhos. - ri.

- Ah, vai ver se eu estou na esquina.

Todas riem.

- Viram? Eu sabia que isso iria acontecer! - Zulema exclama, animada.

-Zulema, todas nós sabiamos que isso iria acontecer - Altagracia rebate, rindo.

- Mas então Zulema, você sabe de alguma coisa extraordinária? Tipo, quem vai vencer as eleições desse ano? - Saray tira sarro.

- Não, não. Esse tipo de coisa não. Mas tudo é a mesma coisa, só que assim, em uma nova sequência, sabem? Acontece um pouco diferente.

Do outro lado, um homem está jogando sinuca quando taca a bola um pouco forte demais, que vai em direção a mesa que as meninas estavam. E antes que a bola atingisse o copo ao lado de Zulema, ela a segura rapidamente, impressionando as amigas.

- Uau, que belo reflexo! - Saray diz.

- É... - para, olhando para a bola branca em sua mão - E-eu tenho que ir meninas, tchauzinho - sai em disparada, não dando chances para suas amigas questionarem.

A neura de Zulema tinha retornado.

(...)

Antes que o dia termine (Zurena)Onde histórias criam vida. Descubra agora